Madeira: Um Natal de «alegria com o nó na garganta», das Missas do Parto à noite do Mercado (c/vídeo e áudio)

Graça Alves, escritora e investigadora, fala da «Festa» que transforma o tempo no arquipélago

Foto: Governo Regional da Madeira

Lisboa, 23 dez 2019 (Ecclesia) – A Madeira celebra o Natal com um nome próprio, a “Festa”, que marca o tempo e as vivências comunitárias desde o início de dezembro, num clima de alegria e de saudade.

Graça Alves, escritora e investigadora madeirense, refere à Agência ECCLESIA que este é um tema especialmente tratado na literatura local, com atenção às ausências de quem não está e de quem já não está.

“O Natal da poesia madeirense é um Natal com o nó na garganta, como se a alegria do Natal tivesse ela própria um nó na garganta: porque já não é o que era, porque o Natal se vai perdendo, em termos das tradições”, explica.

A entrevista sublinha, a este respeito, a “construção do Natal” pelos emigrantes madeirenses, nos lugares onde vão criando raízes.

“Este sentimento do Natal, este nó na garganta da alegria do Natal, lá fora parece muito mais forte”, acrescenta.

A escritora destaca a persistência do sentido comunitário do Natal, com as Missas do Parto, as visitas aos familiares e vizinhos.

“Eu vou, vamos juntos e vamos juntos em festa”, declara.

Desde o início de dezembro, começam os preparativos para o Natal, desde os licores aos presépios, “lapinhas” e “rochinhas”.

Uma verdadeira “recriação”, como acontecia e acontece ainda nalguns locais da Madeira, com a chamada ‘Pensação do Menino’: uma longa composição em verso, os cuidados dedicados ao Menino Jesus após o parto.

Para Graça Alves, a “Festa”, efetivamente, é o momento mais importante do ano do madeirense”, o momento “a partir do qual a vida acontece”.

A noite de 23 para 24 de dezembro, no Funchal, é considera a “mais longa” do ano, para quem aproveita para uma deslocação ao Mercado dos Lavradores e arredores.

Esta é uma tradição secular, a “noite do Mercado”, usada para a compra de fruta e hortaliças, flores, verduras, figurantes de barro e outros enfeites para os presépios, com uma multidão de vendedores ambulantes a improvisar espaços, em várias artérias da cidade.

A “revéspera” do Natal, como é conhecida, numa expressão única madeirense, é uma “noite de festa, de cantos”, de encontros entre amigos, numa cidade reservada para as pessoas, indica Graça Alves.

OC

O Natal na Madeira

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Agência ECCLESIA

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