Nação insular é uma das mais pobres do mundo, apesar das suas riquezas naturais
Antananarivo, 07 set 2019 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje em Madagáscar a corrupção e as desigualdades sociais que provocam situações de “pobreza desumana” no país, considerado um dos mais pobres do mundo.
“Encorajo-vos a lutar, vigorosa e decididamente, contra todas as formas endémicas de corrupção e especulação, que aumentam a disparidade social, e a enfrentar as situações de grande precariedade e exclusão que geram sempre condições de pobreza desumana”, referiu, no primeiro discurso em Antananarivo, onde chegou esta sexta-feira, após uma viagem a Moçambique.
Perante autoridades políticas, representantes da sociedade civil e do corpo diplomático, no Palácio Presidencial, o pontífice defendeu uma “melhor distribuição do rendimento e a promoção integral de todos os habitantes”, especialmente dos mais pobres, e a preservação dos recursos naturais da chamada “ilha vermelha”, “rica de biodiversidade vegetal e animal”.
“Esta riqueza está particularmente ameaçada pelo excessivo desflorestamento em proveito de poucos; a sua degradação compromete o futuro do país e da nossa Casa Comum”, alertou Francisco.
A intervenção elencou uma série de riscos, como os incêndios, a caça furtiva, o corte de madeiras preciosas, o contrabando e as exportações ilegais.
Não pode haver verdadeira abordagem ecológica nem uma ação concreta de salvaguarda do meio ambiente sem uma justiça social que garanta o direito ao destino comum dos bens da terra às gerações atuais, mas também às futuras”.
O Papa começou por evocar um dos valores “fundamentais” da cultura malgaxe, o ‘fihavanana’, termo que evoca “o espírito de partilha, ajuda mútua e solidariedade” e inclui “a importância dos laços familiares, da amizade e da benevolência entre os homens e para com a natureza”.
“Se temos de reconhecer, valorizar e apreciar esta terra abençoada pela sua beleza e inestimável riqueza natural, não é menos importante fazê-lo também pela alma que vos dá a força de permanecer empenhados com a ‘aina’, isto é, com a vida”, acrescentou.
Francisco destacou, a este respeito, o valor d património cultural de cada povo, considerando que “a globalização económica, cujas limitações são cada vez mais evidentes, não deveria conduzir a uma uniformização cultural”.
O Papa falou da política como “um desafio permanente” para o serviço aos mais vulneráveis, com um desenvolvimento “digno e justo”.
“Desejo reafirmar a vontade e disponibilidade da Igreja Católica em Madagáscar para, num diálogo permanente com os cristãos das outras confissões, com os membros das diferentes religiões e com todos os atores da sociedade civil, contribuir para o advento duma verdadeira fraternidade que valorize sem cessar o ‘fihavanana’, promovendo o desenvolvimento humano integral de modo que ninguém fique excluído”, concluiu Francisco.
Antes, o presidente malgaxe, Andry Rajoelina, disse que o país tem um povo “corajoso”, que quer “começar um novo capítulo”.
“Madagáscar é um grande país, a maior ilha do continente africano, é uma terra abençoada pelo Senhor, rica, com recursos impressionantes e um potencial incalculável”, referiu o chefe de Estado, católico.
Simbolicamente, Francisco e Rajoelina plantaram um baobá, à entrada do palácio.
“Vim como semeador de paz e esperança: possam as sementes lançadas nesta terra dar ao povo malgaxe frutos abundantes! O Senhor vos abençoe a todos”, escreveu o Papa, em francês, momentos antes, no Livro de Honra.
Após este encontro, o Papa desloca-se ao Mosteiro da ordem das Carmelitas Descalças, para um momento de oração.
OC