Luto: Gerir a esperança nos cuidados paliativos

Experiência de vida no Instituto São João de Deus, em Lisboa

Lisboa, 02 nov 2015 (Ecclesia) – A unidade de cuidados paliativos do Instituto São João de Deus, em Lisboa, presta apoio a utentes e respetivas famílias a lidarem com a realidade da morte e do luto.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Hugo Lucas, que integra a equipa da unidade, destaca a importância de trabalhar com base nas “expetativas” dos utentes “face ao seu processo de doença e ao seu internamento”, o modo como eles encaram a “continuidade ou finitude da sua vida”, quer do ponto de vista “interior” quer “existencial”.

“Há utentes que não estão disponíveis para isso, e expressam-no de uma forma simples que é ‘eu sei que isso vai acontecer mas não quero falar sobre isso, até lá quero viver’. Então o que fazemos é focar neste viver, no controlo sintomático, no bem-estar, no alívio desta ansiedade, desta angústia que se começa a instalar num momento mais próximo do fim da vida e em que temos utentes mais conscientes”, explica o psicólogo clínico.

Movida pelo “espírito de São João de Deus” e da congregação Hospitaleira, a unidade de cuidados paliativos, no sexto piso da Clínica São João de Ávila, procura sobretudo ajudar as pessoas que ali chegam a encararem a perspetiva da morte e do luto com um coração reconciliado.

“Aqui damos abraços, aqui perdoamos, aqui pedimos desculpas e aqui somos família e temos esperança porque não é por estarmos numa unidade de cuidados paliativos que se perde a esperança, as pessoas acabam também por aqui fazerem uma gestão da sua esperança”, aponta Hugo Lucas.

Num espaço que para muitas pessoas funciona como uma última passagem, a luz é uma constante, brotando das janelas viradas para o sol, e o ambiente procura ser o mais descontraído possível, pontuado por uma música suave.

Das janelas dos quartos, os utentes podem ver o claustro do Instituto São João de Deus, mais o seu jardim interno, mas também os aviões que chegam, a azáfama dos carros no Eixo Norte-Sul e mesmo o Jardim Zoológico de Lisboa, com os seus animais a passear.

A ideia, frisa Hugo Lucas, é dar às pessoas o “poder de aproximar-se”, quer do mundo interior quer do exterior, de permitir “este confronto real quando se passa e se diz adeus”.

“É muito importante porque permitimos que a vida seja continuadamente vivida, e que haja uma adaptação a este momento de vivência de uma fase que se aproxima do fim da vida”, complementa.

Nos quartos destacam-se também as fotos de família, pedaços de vida que os utentes da clínica levam consigo para também os ajudarem na sua viagem.

“Ajudar a adaptar uma família” ao “processo de perda”, antecipar esse “momento”, é também parte integrante da missão da unidade de cuidados paliativos da Clínica São João de Ávila.

Hugo Lucas realça a “dimensão” de ajudar as famílias a “restaurarem” o seu percurso, depois de passarem pela morte de um ente querido.

Isto porque há sempre a dificuldade e o medo de “não se saber como perpetuar a memória do outro, como atribuir um significado à sua partida, ao luto que há de ser vivido”.

Na clínica há uma sala que as famílias podem utilizar “como espaço de recolhimento e reflexão”.

Uma ala aberta a “qualquer tipo de religião ou credo”, onde quem quer pode rezar, meditar ou simplesmente estar sozinho “num momento de maior introspeção e tranquilidade”.

A reportagem vai ser tema central do programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, esta terça-feira, pelas 22h45.

SN/JCP

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