Luto e festa nas ruas de Portugal

Celebrações e tradições religiosas levam os católicos da Semana Santa à Páscoa

Os dias da Semana Santa e da celebração da Páscoa são os mais importantes do calendário litúrgico da Igreja Católica e mostram um património cultural e religioso que se conta entre o mais importante do nosso país.

Fervor e a tradição marcam centenas de procissões marcarão a nova fisionomia das ruas portuguesas, juntando milhares de pessoas em volta do mistério da morte e ressurreição de Cristo. Vias-Sacras e autos da Paixão, as procissões do Senhor no sepulcro, as “Endoenças” e outras manifestações arrastam multidões.

Milhares de figurantes procuram reproduzir, o mais fielmente possível, os últimos momentos de vida de Jesus, relatados nos Evangelhos. As figuras dos penitentes públicos também marcam, por outro lado, as procissões que se realizam em várias localidades.

Para a Igreja Católica, contudo, esta semana é apenas a porta de entrada na verdadeira festa, a Páscoa, que se celebra este Domingo. A Páscoa é a primeira festa cristã em importância e antiguidade, pelo que não admira que já no Concílio de Niceia no ano 325, haja prescrições sobre o prazo dentro do qual se pode celebrar a Páscoa, conforme os cálculos astronómicos (primeiro Domingo depois da lua cheia que se segue ao equinócio da primavera): de 22 de Março a 25 de Abril.

Ainda que sem a visibilidade das celebrações que a precederam, em muitos casos, a Páscoa encontra na piedade popular várias expressões que ajudam a traduzir o sentimento religioso, agora mais centrado numa vertente gloriosa.

O «Directório sobre a piedade popular e a Liturgia» passa em revista algumas dessas práticas de piedade, antigas e mais recente: o encontro do Ressuscitado com a Mãe (n. 149); a bênção da mesa familiar (n. 150); a saudação pascal à Mãe do Ressuscitado (n. 151); a bênção anual das famílias nas suas casas (n. 152); a «Via lucis» (n. 153); a devoção à misericórdia divina (n. 154); e a novena de Pentecostes (n. 155). Todas estas expressões cultuais “exaltam a condição nova e a glória de Cristo ressuscitado, e também as energias divinas que dimanam da sua vitória sobre o pecado e sobre a morte” (n. 148).

No Domingo de Páscoa, e em alguns locais nos dias seguintes, o sacerdote acompanhado por mais algumas pessoas, transporta o crucifixo e leva a casa dos paroquianos a “boa nova” e a “bênção pascal”. As pessoas da família, amigos e vizinhos reúnem-se e ajoelham na sala principal, onde o padre lhes dá a cruz a beijar. Esta é a principal simbologia do Compasso.

Mais a Sul, são as procissões que marcam este dia. São Brás de Alportel é mais uma vez palco da secular Procissão de Aleluia, em honra de Cristo ressuscitado, onde os andores dão lugar às flores, que ornamentam um conjunto de tochas.

No Alentejo, a tradição de Páscoa está muito ligada à Segunda-feira de Páscoa, na qual, de uma maneira geral, os alentejanos vão para o campo desfrutar da beleza primaveril que nos inunda de cores e cheiros, abrindo o apetite para a gastronomia tradicional neste dia: o borrego e o folar.

No dossier que a Agência ECCLESIA apresenta esta semana fala-se das memórias de quem viveu a Semana Santa no Concelho do Sardoal, nos arredores de Abrantes, marcadas pela cor e o cheiro das flores, cuja presença nas igrejas é quase nula, durante a Quaresma.

De Aveiro, Amaro Neves traz também a recordação de um tempo em que “passado o sábado santo (que fechava com a ‘queima do Judas’), logo no Domingo da Ressurreição, bem cedo, o ‘compasso’ saía da igreja ao toque festivo dos seus sinos, sempre acompanhado de sineta que ia anunciando o progresso da caminhada paroquial – o pároco, em sobrepeliz branca, mais o juiz da igreja com a cruz enfeitada, e seus acólitos, todos vestidos com opas de cor vermelha – ao som estridente do estoirar de foguetes”.

Rui Cantarilho apresenta a sua “paixão pela Paixão” que deu origem ao blogue “Semanas Santas”, com o qual se procura “divulgar estas tradições quaresmais tão presentes na nossa religiosidade popular e que fazem parte da nossa herança cultural”.

O Pe. José da Cunha Duarte, co-autor do livro “Páscoa no Algarve – Procissão das Tochas Floridas”, fala da já referida tradição pascal que toma conta das ruas de São Brás de Alportel.

Guzmán Carriquiry Lecour, Subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos, fala em entrevista da vivência da alegria como cristão, particularmente relevante no tempo pascal. Na sua vida pessoal e no seu serviço ao Vaticano, porque o Cristianismo, defende, “é sempre um mais de alegria”.

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