Luto: Aprender a gerir «sucessão de perdas» é proposta de especialistas do Instituto de São João de Deus (ISJD)

Hugo Lucas, psicólogo clínico em Unidade de Cuidados Paliativos, destaca importância de «continuar a ter sentido, propósito» para a vida

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 01 nov 2022 (Ecclesia) – Hugo Lucas, psicólogo clínico na Unidade de Cuidados Paliativos do Instituto de São João de Deus (ISJD), em Lisboa, disse que doentes e famílias têm de aprender a gerir e entender a “sucessão de perdas”.

“Há um conjunto de perdas que todos temos, à medida que vamos ficando mais vulneráveis, mais frágeis. A doença vai progredindo, mas continuamos a ser pessoas, o João, a Maria, o Pedro…”, indicou o especialista, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O especialista falou sobre o programa Humaniza, lançado pela Fundação ‘la Caixa’, em Portugal, que pretende reforçar o apoio integral a pessoas com doenças avançadas e seus familiares, no sentido de tornar os cuidados paliativos uma parte exemplar de apoio humanizado na saúde e na sociedade.

O ISJD tem duas equipas comunitárias de apoio psicossocial, em Odivelas e Oeiras, e outra no Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, levando a sua “filosofia” própria, inspirada em São João de Deus.

O objetivo é ajudar os doentes a “integrar o diagnóstico” e as limitações que dele decorrem, mantendo como critério da intervenção a “qualidade de vida” de cada pessoa, a dignidade de que precisa “para continuar a ter sentido, propósito na vivência dos seus dias”.

“Fazemos um acompanhamento ao doente e à família, ao longo de toda a doença, desde que as pessoas são referenciadas. Acompanhamos também, sempre que é possível, o momento da morte, em particular”, explica Hugo Lucas.

O psicólogo recorda que, nas últimas décadas, a morte deixou de estar presente nas casas de cada um e passou para os hospitais e casas mortuárias.

“Às vezes esquecemo-nos de que não somos eternos”, observou.

No trabalho das equipas do ISJD, cada família é acompanhada no seu luto, um “processo de adaptação à perda”, a começar pelo “luto antecipatório”.

Permitir que o outro continue a viver dentro de mim e na família, de uma forma saudável, adaptativa, que consigamos continuar a fazer sentir a presença do outro, que a pessoa e o seu legado permaneçam em nós, isto é um trabalho de aprendizagem, de psicoterapia, de construção da relação de ajuda”.

Hugo Lucas realça a importância da espiritualidade, nesta dimensão, complementada pela vivência religiosa de cada um, para que todas as pessoas se “sintam em paz”.

O entrevistado alerta que “lutos complicados e prolongados” merecem um tratamento diferenciado, com unidades específicas para este ajudar a integrar esta perda.

“As pessoas sofrem e precisam de ajuda”, reconhece.

O programa ‘70×7’ (RTP2) emitido no último domingo abordou as várias dimensões do luto, antecipando a comemoração de todos os fiéis defuntos, no dia 2 de novembro, marcada pelas celebrações em memória dos que já partiram e a visita aos cemitérios.

Esta é uma tradição que remonta ao final do primeiro milénio: foi o Abade de cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.

Este costume depressa se espalhou: Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar três Missas neste dia, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia.

Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915).

HM/OC

 

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Agência ECCLESIA

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