LUSOFONIAS – Vozes de várias cores

Tony Neves, em Roma

Dialogar implica ‘aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contacto’ (FT 198). Tarefa difícil, mas decisiva, até porque as desavenças e os conflitos fazem muito mais notícia.

O diálogo é uma ponte, estabelece um meio termo ‘entre a indiferença egoísta e o protesto violento’ (FT 199). E há que fugir também de toda e qualquer forma de poder manipulador: ‘económico, político, mediático, religioso ou de qualquer outro género’ (FT 201).

Os pontos de vista dos outros têm de ser sempre respeitados para que haja um diálogo social autêntico. Em termos sociais, há que investir muito no debate público que constitui ‘um estímulo que permite alcançar de forma mais adequada a verdade ou, pelo menos, exprimi-la melhor’ (FT 203).

Os meios de comunicação social ajudam-nos a sentir mais próximos dos outros. E, nesta era das tecnologias da informação e redes sociais, ‘a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos’ (FT 205). Mas há o reverso da medalha e ‘não podemos aceitar um mundo digital projetado para explorar as nossas fraquezas e tirar fora o pior de nós’ (FT 205).

Procurar consensos é um grande objectivo: ‘aceitar que há valores permanentes, embora nem sempre seja fácil reconhecê-los, confere solidez e estabilidade a uma ética social’ (FT 211).

A fé é valor acrescentado para os crentes. Eles acreditam que ‘a natureza humana, fonte de princípios éticos, foi criada por Deus, que em última análise, confere um fundamento sólido a estes princípios’ (FT 214).

Vinicius de Moraes é citado para evocar a importância da criação de uma nova cultura: ‘A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida’ (FT 215).  O Papa volta à sua tão repetida imagem do poliedro que ‘representa uma sociedade onde as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças’ (FT 215).

A paz social é muito trabalhosa, exigindo prática. Não se consegue a paz no conforto dos gabinetes, mas na difícil e arriscada vida do dia a dia: ‘o que conta é gerar processos de encontro, processos que possam construir um povo capaz de recolher as diferenças. Armemos os nossos filhos com as armas do diálogo. Ensinemos-lhes a boa batalha do encontro’ (FT 217).

Ninguém pode ser excluído, as periferias também contam, pois a experiência e a história mostram que ‘ignorar a existência e os direitos dos outros provoca, mais cedo ou mais tarde, alguma forma de violência, muitas vezes inesperada’ (FT 219). Sempre com esta convicção profunda e testada de que ‘nenhuma mudança autêntica, profunda e estável é possível, se não se realizar a partir das várias culturas, principalmente dos pobres’ (FT 220).

Há contravalores que é urgente banir das práticas sociais. Um deles é o individualismo consumista, responsável por muitos abusos. O mundo tem de cultivar a amabilidade, pois é fundamental não magoar os outros com palavras ou gestos considerados ofensivos. Antes, ‘supõe dizer palavras de incentivo que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam’ (FT 223).

Numa sociedade de alta velocidade, as pessoas parece não terem tempo para gestos simples, mas essenciais. Lembra o Papa que ‘raramente se encontram tempos e energias disponíveis para se demorar a tratar bem os outros, para dizer ‘com licença’, ‘desculpe’, ‘obrigado’’. Há que valorizar as expressões de amabilidade que criam bom ambiente e geram felicidade. A amabilidade – conclui o Papa Francisco – ‘quando se torna cultura numa sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais, o modo de debater e confrontar ideias. Facilita a busca de consensos e abre caminhos onde a exasperação destrói todas as pontes’ (FT 224).

Há que rasgar percursos de novos encontros. Esse será o tema da próxima reflexão, a partir do VII capítulo da ‘Fratelli Tutti’. Ainda há muita sede a matar nesta fonte.

 

 

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