LUSOFONIAS – Viagens que enchem por dentro

Tony Neves, entre a França, a Suíça e a Itália

Há viagens que deixam marcas. Marcam por dentro. Ficam impressas para sempre no nosso coração. A que agora vos conto durou dez densos e intensos dias, passando por três países: a Itália, a Suíça e a França.

Tudo aconteceu por uma boa causa: fazer o Retiro anual na cidade natal de um dos fundadores dos Espiritanos. Sim, o P. Francisco Libermann nasceu em Saverne, a 40 kms de Estrasburgo, na Alsácia francesa. O Conselho Geral dos Espiritanos deixou Roma para ir até Saverne. E assim nos fizemos à estrada.

Apanhamos a auto-estrada do Norte, passando ao largo de Florença, Bolonha, Parma e Milão. Atacamos os Alpes pelo túnel do Grand Saint Bernard, fugindo assim às neves que já tomaram conta dos picos das montanhas. A temperatura desceu a 4º e eis que entramos em território suíço a céu aberto, na encosta que leva à cidade de Martigny, já situada no Valais. Descemos até à margem do Lago Léman, parando no Le Bouveret, onde os Espiritanos construíram uma Escola Apostólica, hoje transformada em centro de acolhimento de crianças e jovens ucranianos, fugidos da guerra. Mas ali está a viver uma Comunidade Espiritana que nos acolheu de braços abertos. Encontramos três Padres e um Irmão, todos de idade a ultrapassar os 80, com uma folha de serviço missionário que nos fascina. Assim, encontramos largas dezenas de anos dedicados à missão, a maioria do tempo em África, em diversos compromissos e geografias. Hoje, cansados, mas felizes, contemplam a beleza deste Lago que mostra, de dia e de noite, Montreux, Vevey e, lá ao longe, a cidade de Genebra. A Capela é de uma beleza ímpar, pois atrás do altar-mor está uma parede de vidro que permite ver a imensidão do Lago enquanto se reza.

A viagem prosseguiu, passamos ao largo de Friburgo, Berna e Basileia, sempre a deixar que paisagens de sonho tomassem conta dos nossos olhos.

Ao chegar a Saverne, encontramos uma comunidade intercultural e intergeracional, que nos acolheu fraternalmente e criou todas as condições para que o Retiro corresse bem. E correu. Antes de iniciar este Exercício Espiritual, o grupo pôde peregrinar ao Monte de Ste Odile, num pico dos Vosges que tem uma vista soberba sobre a fértil planície da Alsácia e, ao longe, a Floresta Negra, já em território alemão. Apesar do frio, encontramos uma multidão de povo a visitar este lugar de peregrinação que evoca a vida de Ste Odile, num contexto ecológico de florestas de beleza ímpar. Dali rumamos até ao Campo de Concentração nazi de Struthof que tem um cemitério memorial com 1117 deportados e resistentes da França ao nazismo. É bom que se mostre para não repetir barbaridades como as que ali se praticaram durante a 2ª grande guerra mundial.

Vivemos um desafiante Retiro Espiritual orientado pelo P. Gilles Pagès, antigo Provincial de França e missionário em Angola. A partir da Bíblia, de documentos da Igreja, escritos do Fundador e, cruzando várias ciências humanas, tentou propor um caminho de conversão da dureza para a doçura da vida, das relações e da missão. Foi uma semana inspiradora.

Visitamos Wolxheim, uma comunidade composta por 30 anciãos Espiritanos, incluindo dois antigos Superiores Gerais e dois Bispos Eméritos. Ali rezamos e confraternizamos com os confrades que, juntos, ofereceram já mais de 2 mil anos de entrega à Missão! Visitamos o cemitério local, rodeado de vinhas, sob o olhar vigilante de uma imponente estátua do Coração de Jesus, plantado no cimo da colina. Ali estão sepultados mais de 200 Espiritanos. Recordamos histórias missionárias dos tempos mais antigos, que marcaram gerações.

A caminho de Roma, passamos ainda um fim de tarde e noite em Blotzheim, uma comunidade que alberga uma Escola Apostólica com mais de cem anos, onde ainda vivem e trabalham alguns Espiritanos, de diversas gerações, que continuam a anunciar o Evangelho por terras alsacianas. Ali perto foi construído o EuroAeroporto que serve três cidades de três países: Mulhouse (França), Basileia (Suiça) e Freiburg (Alemanha).

A Suíça fica ali ao lado, levando poucas horas a atravessar. Para chegar a Itália, usamos o longo Túnel de San Gottardo, um dos maiores do mundo, ligando as cidades de Luzerna e Lugano. Milão vem logo a seguir!

Chegamos a Roma tão sãos e salvos como cansados de tantos kms. Mas felizes e marcados por encontros que mostram que a Missão está viva e há ainda um longo caminho a percorrer…

Tony Neves, entre a França, a Suíça e a Itália

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