LUSOFONIAS – Ser hospital de campanha

Tony Neves, em Roma

A Igreja está do lado das vítimas desta pandemia e quer ser parte da solução da crise por ela provocada ou, pelo menos, agravada. Isto dizem os Bispos lusos nos ‘desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal’. São 53 pontos a ter em linha de conta num combate sem tréguas a todas as pandemias que vitimam as pessoas. São cinco os grandes temas: a Igreja e a pandemia; desafios pastorais; um novo anúncio do Evangelho; a Paróquia, comunidade sinodal; olhar o futuro.

A Igreja em Portugal reconhece a dedicação de muita gente no combate sem tréguas a esta pandemia e suas consequências na vida das pessoas, sobretudo dos mais frágeis. E, mediante este cenário de crise profunda e dramática, os Bispos procuram lançar alguma luz sobre o momento que vivemos e discernir desafios pastorais de resposta. Explicações não as há. Mas há que saber habitar este silêncio.

A crise ambiental é a mais visível de todas as crises actuais. Tudo está interligado, como diz o Papa Francisco. Destruir a natureza é o mesmo que destruir as pessoas. E há quer tomar a sério o conceito de ecologia integral que nos obriga a amar os mais pobres e respeitar a natureza.

Cuidar da vida, em todas as etapas, é prioridade. Há que criar a manter as condições de uma vida digna para todos. O acesso aos cuidados de saúde tem de ser universal, para que a sociedade seja justa e solidária.

Os Bispos recordam que a questão dos idosos e a ideia de que são descartáveis é um escândalo que se revelou em toda a sua brutalidade. O mundo mostrou não ter capacidade de resposta para o drama da solidão que se resolve melhor em família. Mas, quando esta não responde, devem as comunidades cristãs ser chamadas, de forma criativa e proactiva, a animar as pessoas mais sós.

Há que aterrar o fosso profundo que existe entre ricos e pobres, pois a pandemia já deixou perceber que afecta mais as pessoas frágeis e descartadas. Só uma sociedade com alma pode ser inclusiva, solidária e justa. Daí a questão dos Bispos: ‘Somos de facto um hospital de campanha, pronto a estar entre os feridos desta e de outras guerras? Somos a casa do ‘bom samaritano’, com espaço para os abandonados nas estradas da vida?’.

A redescoberta da oração doméstica e o aprofundamento da espiritualidade familiar é desafio deste tempo pandémico, exigindo a passagem de uma pastoral familiar de eventos para uma pastoral de processos.

O medo mata mais que a pandemia, pois adoece as pessoas, domina-as, provoca bloqueios psicológicos, impede-as de viver e dar o melhor de si. E o único antídoto contra este medo é o amor. Em contrapartida, a indiferença mata mais que a descrença. Por isso, há que olhar para as primeiras comunidades cristãs que tinham um só coração e uma só alma, partilhando os bens necessários. Aumentava o número dos crentes, atraídos pela simpatia e pela profecia que a comunidade irradiava.

A missão evolui, exigindo ‘salas de catequese modernas’ que é urgente identificar. Dizem os bispos que ‘se alargou o campo da missão que requer pessoas com paixão comunitária e estilo missionário, comunidades vivas e unidas, capazes de acolher’. O primeiro anúncio tem de ser simples, a mostrar o amor de um Deus que, em Cristo, deu a vida por nós e caminha connosco.

Há que inovar na pastoral e o Papa Francisco aponta-nos caminhos. Ele ‘tem-se revelado um especialista nesta arte de pensar o Evangelho dentro da cultura e das grandes questões da humanidade: a crise ecológica e climática, o problema dos refugiados e da pobreza, a educação, a economia’. Há dramas que se agravam: a fome multiplicada, o abismo entre ricos e pobres, a xenofobia, o racismo, as guerras fratricidas, a ameaça da crise climática.

Os ambientes digitais ganharam mais vez num tempo de encontros pessoais condicionados.  A Igreja aderiu, mas tem de preparar e disponibilizar materiais de qualidade, formar bem os utilizadores e continuar a defender a convicção de que nada substitui o contacto pessoal. A unidade da comunidade cristã e a sua abertura missionária ganharão muito com um uso das tecnologias da comunicação que seja competente e responsável.

A ‘gramática’ utilizada pela Igreja é difícil de descodificar pois muitos cristãos são ainda ‘analfabetos do Evangelho’. É preciso voltar a colocar o Evangelho no centro. A liturgia também deve ser evangelizadora, sendo importante acolher bem quem entra numa Igreja só por convite para casamento, batizado ou funeral.

Os Consagrados devem aplicar os seus carismas e os planos de pastoral sejam pensados a partir das periferias. A paróquia deve ser ‘comunidade sinodal, ‘célula da ‘Igreja em saída’ e ‘casa do povo de Deus’.

A caminho das JMJ 2023, impõe-se uma palavra sobre os jovens que têm no seu ADN a mudança. A renovação pastoral exige a sua intervenção, abertura e ousadia.

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Agência ECCLESIA

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