LUSOFONIAS – Semear a Paz, no Bahrein

Tony Neves

O ‘Fórum para o Diálogo, sobre a coexistência humana no Ocidente e no Oriente’ foi a razão da primeira visita de um Papa a este país árabe. O Papa Francisco ali estaria de 3 a 6 de novembro, fazendo sete intervenções, umas mais políticas, outras mais pastorais.

Começou por se encontrar com as autoridades e diplomatas. Após evocar a história deste país desértico, o Papa elogiou: ‘nestas ilhas, pode-se admirar uma sociedade mista, multiétnica e multirreligiosa, que foi capaz de superar o perigo do isolamento. Isto é muito importante no nosso tempo. Diversamente, os numerosos grupos nacionais aqui coexistentes, étnicos e religiosos, testemunham que se pode e deve conviver no nosso mundo; este, já há decénios que se tornou uma aldeia global, mas, dando-se por suposta a globalização, ainda desconhece «o espírito da aldeia» em várias das suas vertentes: a hospitalidade, a solicitude pelo outro, a fraternidade. Pelo contrário, assistimos, preocupados, ao crescimento em larga escala da indiferença e mútua suspeita, à extensão de rivalidades e contraposições que se esperavam superadas, a populismos, extremismos e imperialismos que põem em perigo a segurança de todos’.

Terminou com uma citação da ‘’Declaração do Reino do Bahrein’: ‘empenhamo-nos a trabalhar por um mundo, onde as pessoas de credo sincero se unam entre si para rejeitar aquilo que nos divide e, ao contrário, escolher aquilo que nos une’.

O momento central foi a participação na conclusão do Fórum, onde fez um discurso. A palavra ‘Bahrein’ evoca ‘dois mares’ que unem todas as ilhas. Lembrou o Papa: ‘vivemos tempos em que uma humanidade, interligada como nunca, se apresenta bem mais dividida do que unida. E o nome do ‘Bahrein’ pode ajudar-nos a ir mais longe na nossa reflexão: os ‘dois mares’ que evoca, referem-se às águas doces das suas nascentes submarinas e às águas salobras do Golfo. De modo semelhante, encontramo-nos hoje perante dois mares de sabor oposto: por um lado, o mar calmo e doce da convivência comum, por outro, o mar amargo da indiferença, afligido por confrontos e agitado por ventos de guerra, com as suas devastadoras ondas sempre mais tumultuosas, com o risco de nos arrastar a todos. Infelizmente, Oriente e Ocidente assemelham-se cada vez mais a dois mares contrapostos. Entretanto nós estamos aqui juntos, porque pretendemos navegar no mesmo mar, escolhendo a rota do encontro em vez da do confronto, o caminho do diálogo indicado por este Fórum: ‘Oriente e Ocidente em prol da coexistência humana’’. Mas há uma premissa indispensável: a liberdade religiosa. A Declaração do Reino do Bahrein explica que «Deus nos orientou para o dom divino da liberdade de opção» e, por conseguinte, «qualquer forma de coerção religiosa não pode levar a pessoa a uma relação significativa com Deus». O Papa falou de três urgências educativas: o reconhecimento da mulher na esfera pública; a tutela dos direitos fundamentais das crianças; a educação para a cidadania, para viver juntos, no respeito e na legalidade’.

O Papa Francisco foi à Mesquita de Awali para se encontrar com o Conselho dos Anciãos. Como irmãos em Abraão, ‘cabe-nos uma tarefa única, imprescindível: ajudar a reencontrar estas fontes de vida esquecidas, trazer novamente a humanidade a beber nesta antiga sabedoria, aproximar os fiéis à adoração do Deus do céu e aos homens para os quais Ele fez a terra, (…), através da oração e da fraternidade’ – disse o Papa.

A Catedral de Nossa Senhora das Arábias acolheu o Encontro Ecuménico e Oração pela Paz.

Defendeu o Papa: ‘a unidade para a qual caminhamos sobrevive na diferença. É importante ter isto em consideração: a unidade não é fazer «todos iguais», não! É feita na diferença. A narração de Pentecostes especifica que cada um ouvia os apóstolos falarem «na sua própria língua» (At 2, 6): o Espírito não cunha uma linguagem idêntica para todos, mas permite a cada um falar línguas alheias (cf. 2, 4), de modo que cada um possa ouvir, de outros, o próprio idioma (cf. 2, 11). Predispõe-nos para nos acolhermos nas diferenças’.

O Estádio Nacional acolheu a Eucaristia pela Paz e pela Justiça. A homilia do Papa teve um tema preciso e precioso: ‘amar sempre e amar a todos’. Elogiou este ‘humilde e jubiloso testemunho de fraternidade para ser, nesta terra, sementes do amor e da paz’.

A mensagem com mais rasgo e futuro foi dirigida a 800 jovens, no Colégio do Sagrado Coração em Awali, a única escola católica do país. A esta nova geração que ali faz um quotidiano diálogo inter-religioso em contexto islâmico, o Papa lembrou que, num mundo onde sopram intensos ‘ventos de guerra’, são necessários e urgentes os ‘campeões’ de fraternidade’. E aos Bispos e a todas as pessoas comprometidas na Pastoral, o Papa disse que o ‘Espírito é fonte de alegria, de unidade e de profecia’.

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