LUSOFONIAS – Quaresma – do deserto ao Jardim

Tony Neves

Os cristãos têm de viver a Páscoa a sério. Para tal, a preparação torna-se caminho decisivo. Daí a importância do tempo da Quaresma e o lugar que a Igreja, ano após ano, lhe atribui.

O Papa Francisco, na habitual mensagem quaresmal, faz uma aposta ecológica. O Papa reconhece que os maus comportamentos geram atentados contra a mãe-natureza, para além de destruir os próprios irmãos. Há, pois, que adoptar um estilo de vida fraterno e simples que ame os irmãos e proteja a natureza. Tal acontecerá se todos viverem segundo a lógica da Páscoa: ‘Se não estivermos voltados continuamente para a Páscoa, para o horizonte da Ressurreição, é claro que acaba por se impor a lógica do tudo e imediatamente, do possuir cada vez mais’.

Os primeiros capítulos do livro do Génesis falam de uma história de amor a três dimensões: com Deus, com os irmãos e com a natureza. A seguir, mostram as rupturas que foram e vão acontecendo, destruindo a comunhão querida e proposta por Deus. Lembra o Papa: ‘Rompendo-se a comunhão com Deus, acabou por falir também a relação harmoniosa dos seres humanos com o meio ambiente, onde estão chamados a viver, a ponto de o jardim se transformar num deserto.’

Esta ruptura de relação acaba por oprimir os mais fracos e pobres. É sempre assim: os mais débeis pagam sempre as facturas mais elevadas. Mas nada está perdido, pois a conversão tudo pode alterar para melhor: Diz a mensagem: ‘o caminho rumo à Páscoa chama-nos a restaurar a nossa fisionomia e o nosso coração de cristãos, através do arrependimento, a conversão e o perdão, para podermos viver toda a riqueza da graça do mistério pascal’.

A Quaresma, para os cristãos, será sempre este tempo de mudança, assente em três atitudes históricas fundamentais: ‘JEJUAR, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de ‘devorar’ tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. REZAR para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. DAR ESMOLA, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade’ – diz o Papa.

Deus criou um Jardim de Paraíso e nós, com as nossas ganâncias, transformámo-lo num deserto. A Quaresma é o tempo de dar a volta a esta situação para voltarmos a viver no Paraíso, que é um Jardim de comunhão.

Uma Santa Quaresma para todos!

 

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Agência ECCLESIA

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