LUSOFONIAS – O Pacto da Economia de Francisco

Tony Neves, em Roma

Todas as dinâmicas inovadoras nascem de intuições, de reflexões, de encontros, de experiências…de compromissos de pessoas concretas. A ‘Economia de Francisco’ nasceu de uma convicção profunda de Luigino Bruni: este professor italiano de economia política, apaixonado pela Bíblia, em sintonia com a convicção do papa Francisco de que ‘esta economia mata!’, decidiu propor um caminho, com novos pressupostos e novas práticas, para humanizar o mundo, uma urgência no âmbito da economia.

Sigo Luigino Bruni há muito tempo, através das suas crónicas no jornal Avvenire, que me chegam traduzidas pelo P. António Bacelar, dos Focolares. Mas deixemos a história falar:  tinha uma ideia de como ajudar a renovar a Economia e decidiu escrever ao Papa, nos inícios de 2018, para lhe apresentar algumas propostas. Ficou espantado quando o Papa o convocou para uma audiência privada. Assim, tentaram sonhar juntos aquele que viria o ser o movimento da Economia de Francisco. Seria, desde o início, o director científico desta dinâmica que foi ganhando proporções mundiais e se transformou em Pacto.

Voltemos ao Encontro de Assis, realizado de 22 a 24 de setembro. Cerca de mil jovens, economistas, empresários e trabalhadores, vindos de 120 países, reuniram-se nesta cidade simbólica, para partilhar as suas convicções e experiências. O programa previa uma intervenção final do Papa Francisco e a votação e assinatura de um Pacto que marcasse um rumo novo e esperançoso a dar ao futuro. Foi tal e qual o que aconteceu.

O Papa Francisco entrou em apoteose no  Pala-Eventi di Santa Maria degli Angeli e fez uma intervenção muito interrompida por palmas. Das suas palavras destaco:

‘Vocês vivem a juventude numa época que não é fácil: a crise ambiental, depois a pandemia e agora a guerra na Ucrânia e as outras guerras que se arrastam há anos em vários países, estão a marcar as vossas vidas. A nossa geração legou-vos muitas riquezas, mas falhámos na guarda do planeta e não estamos a guardar a paz (…). São chamados a tornar-se artesãos e construtores da casa comum, uma casa comum que está a “desmoronar-se”. Digamo-lo: Uma nova economia, inspirada por Francisco de Assis, pode e deve ser hoje uma economia amiga da terra, uma economia de paz. Trata-se de transformar uma economia que mata (cf. EG, 53) numa economia da vida, em todas as suas dimensões’. O Papa terminou com uma Oração: ‘Pai, pedimos-te perdão por termos ferido gravemente a terra, por não respeitarmos as culturas indígenas, por não estimarmos e amarmos os mais pobres, por criarmos riqueza sem comunhão. Pai, (…) abençoa estes jovens nos seus empreendimentos, nos seus estudos, nos seus sonhos; acompanha-os nas suas dificuldades e sofrimentos, ajuda-os a transformá-los em virtude e sabedoria. Apoia-os nos seus desejos de bondade e vida, sustenta-os nas suas desilusões face a maus exemplos, não os desencorajes a continuar o seu caminho. Vós, cujo Filho unigénito se tornou carpinteiro, dai-lhes a alegria de transformar o mundo com amor, inteligência e mãos. Ámen’.

No fim, alguns jovens leram o texto do Pacto de Assis que foi aprovado, com o objectivo de que a economia se torne uma Economia do Evangelho. A primeira assinatura foi a do Papa Francisco, momento festivo que os muitos jornalistas acreditados, captaram para a história. Os jovens querem e comprometem-se por: ‘uma economia de paz e não de guerra, uma economia que trava a proliferação das armas, especialmente as mais destrutivas, uma economia que se preocupa com a criação e não a saqueia, uma economia ao serviço da pessoa, da família e da vida, respeitosa de toda mulher, homem, criança, idoso e especialmente dos mais frágeis e vulneráveis, uma economia onde o cuidado substitui o descarte e a indiferença, uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade na qual as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares, uma economia que reconhece e protege o trabalho digno e seguro para todos, especialmente para as mulheres, uma economia onde a finança é amiga e aliada da economia real e do trabalho e não contra elas, uma economia que sabe valorizar e preservar as culturas e as tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra, uma economia que combate a miséria em todas as suas formas, reduz as desigualdades e sabe dizer, com Jesus e com Francisco, “bem-aventurados os pobres”, uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência,  uma economia que cria riqueza para todos, que gera alegria e não apenas bem-estar, pois a felicidade não compartilhada é muito pouco. Os jovens reafirmam neste Pacto: nós acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos construindo. E alguns de nós, em manhãs particularmente luminosas, já vislumbram o início da terra prometida’.

Como sugere o poeta António Machado, ‘o caminho faz-se a andar’. E convém andar antes que se faça tarde!

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