LUSOFONIAS – O José da Carpintaria

Tony Neves, em Roma

O Papa Francisco proclamou, a 8 de dezembro, o Ano de S. José. A razão é clara: há 150 anos, S. José, ‘humilde carpinteiro, esposo de Maria, homem justo’, foi declarado Padroeiro Universal da Igreja o que, em palavras simples, quer dizer que ele é uma das nossas grandes referências, é um pai, um modelo, um intercessor junto de Deus. Sabemos todos que José e Maria tiveram a difícil, mas feliz, missão de criar e educar Jesus. Nascidos em famílias simples, lutaram como todos os pobres, para que o Filho crescesse em sabedoria e saúde.

José tinha uma profissão que ensinou ao filho: carpintaria! Imagino que, na aldeia, quando falavam de Jesus, todos diriam que era o filho do Zé da Carpintaria e de Maria, sua esposa. José tem sido uma figura tão amada como maltratada pela história. Amado, porque não há Igreja que não tenha uma imagem sua, é padroeiro de Congregações, paróquias e casas religiosas. Recordo com alegria a confiança que as Irmãzinhas dos Pobres, no Porto e em Lisboa, depositam em S. José. À entrada destes grandes lares de idosos, está uma enorme estátua de S. José. Garantiram-me que, sempre que há algo necessário e de difícil obtenção, basta colocar junto à estátua um papel com um pedido, que vai aparecer alguém que leve ou pague o que se torna urgente arranjar! Mas é figura maltratada: vejamos que até de velho o pintam e esculpem só para explicarem melhor a virgindade de Maria!

José é uma das grandes referências da Igreja, pois cumpriu integralmente a sua missão. Foi discreto, mas eficiente. Trabalhou para ganhar o pão com o suor do seu rosto. Não sabemos se a sua empresa familiar investiu mais no mobiliário ou na construção civil! Mas conhecemos o essencial: criou as condições para o filho nascer e crescer e protegeu-o sempre quando a vida corria perigo. Foi Pai. Recordo ainda o bom humor do P. Freire, médico e pároco de S. José, na Baixa de Lisboa. Quando o encontrava, perguntava-lhe sempre: ‘Então como está S. José?’. A resposta dele era sempre a mesma: ‘Eu estou bem e na carpintaria está tudo em ordem!’.

Na Carta que escreveu para proclamar este Ano de S. José, o Papa apresenta-o com sete adjetivos: ‘Amado’ pelo povo;  ‘Terno’ que nos ensina a deixar Deus governar a nossa barca nas tempestades da vida; ‘Obediente’ à vontade do Pai quando o futuro parece sem saída; ‘Acolhedor’ da novidade da vida sem colocar condições prévias, quando tudo parece sem sentido; ‘Corajoso’ quando há problemas graves à procura de soluções rápidas e eficazes; um hábil ‘trabalhador’ de madeiras; ‘Cumpridor’ do Evangelho, sem saber muito bem até onde a sua fidelidade o levava.

José é ‘Pai na obediência’. A Bíblia fala-nos de quatro sonhos. José ouve e obedece. No primeiro sonho, o anjo convida-o a aceitar a gravidez de Maria; no segundo, é-lhe pedido que fuja com Maria e o Menino para o Egipto; no terceiro, Deus pede-lhe que regresse à terra natal; no quarto, é-lhe proposto um desvio de rota, e acabam por ir até Nazaré. José é um homem de Fé sempre à escuta de Deus cujas Palavras se tornavam ordens a cumprir com alegria e sucesso.

José é ‘Pai com coragem criativa’. Esta vem ao de cima quando há dificuldades. Em Belém arranjou um estábulo para Maria dar à luz; mais tarde, organizou a fuga para o Egipto. Ali teve de enfrentar problemas semelhantes aos dos refugiados e migrantes de hoje. Por isso, José é um ‘padroeiro especial para quantos têm que deixar a sua terra por causa das guerras, do ódio, da perseguição e de miséria’. Ele, que protegeu e guardou Maria e o Menino, também protege hoje a Igreja. Merece ser invocado ‘como protector dos miseráveis, necessitados, exilados, aflitos, pobres, moribundos’.

José é um ‘Pai trabalhador’. Foi um carpinteiro honesto. Sustentou a família e ensinou ao Filho a dignidade e o valor do trabalho para ganhar o pão de cada dia. Este Santo ajuda-nos a compreender melhor que ‘uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução’. Celebrar S. José implica questionar: ‘a perda de trabalho que afecta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia da covid19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades’. É tempo para pedir a intercessão de S. José para se conseguir atingir este grande objetivo: ‘nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!’.

A vida dos santos é a ‘prova concreta de que é possível viver o Evangelho’. Podemos e devemos seguir sempre a sua inspiração, as suas atitudes, palavras e silêncios.

 

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Agência ECCLESIA

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