Tony Neves
O Papa Francisco visitou o Japão, apostando em três cidades simbólicas: Hiroxima, Nagasaki e Fukuxima. Na sua agenda de Pastor, Francisco investiu em temas grandes da actualidade: a paz, a aposta nuclear, a ecologia integral, o diálogo inter-religioso, as desigualdades sociais, o suicídio, o abandono dos idosos, o bullying, a cultura da eficiência, do lucro e do sucesso, o paradigma tecnocrático, o martírio…
Hiroshima e Nagasáki foram as duas únicas cidades do mundo destruídas por bombas atómicas. Ficaram tristemente célebres por serem barbaramente arrasadas pelo lançamento de bombas atómicas no fim da segunda grande guerra mundial em 1945. E as consequências ainda hoje se fazem sentir.
No estádio de Beisebol, em Nagasaki, o Papa celebrou Missa e disse: ‘Estas terras experimentaram, como poucas, a capacidade destrutiva a que pode chegar o ser humano’. Recordou a história dolorosa do país que também perseguiu a Igreja e fez mártires como S. Paulo Miki e seus companheiros que mostraram, pelo martírio, que ‘o amor entregue, sacrificado e celebrado por Cristo na cruz é capaz de vencer todo o tipo de ódio, egoísmo e pessimismo indolente’. E terminou dizendo: ‘Nagasaki carrega na sua alma uma ferida difícil de curar, sinal do sofrimento inexplicável de tantos inocentes; vítimas atingidas pelas guerras de ontem, mas que sofrem ainda hoje com esta terceira guerra mundial aos pedaços’.
Depois, o Papa foi ao Monumento situado no Parque Atomic Bomb Hypocenter onde disse: ‘Este lugar torna-nos mais conscientes do sofrimento e do horror que nós, seres humanos, somos capazes de nos infligir’. E ali, epicentro do rebentamento de segunda bomba atómica, leu a sua mensagem sobre armas nucleares. Foi claro ao defender um mundo de paz e livre de armas nucleares, pediu a sua abolição e declarou imoral o seu uso e a sua posse. À dinâmica da desconfiança que leva à corrida ao armamento, o Papa contrapôs uma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço de um futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira.
De Nagasaki, o Papa voou para Hiroxima onde participou no Encontro da Paz, no Memorial da Paz. Ali fez memória às vítimas e declarou, mais uma vez, que ter e usar armas nucleares é crime contra a humanidade e uma ameaça ao futuro. Este foi o ponto forte da visita, contestado por antecipação por muitos dos países que possuem armas nucleares a pretexto de defesa.
Fukuxima ficou tristemente célebre quando, em 2011, foi vítima de um ‘triplo desastre’: terramoto, tsunami e acidente nuclear. Aqui, o Papa rezou pelas vítimas (18 mil mortos), pelos sobreviventes e seus familiares. Pediu, mais uma vez, a abolição das centrais nucleares, alertou contra a cultura da indiferença e do paradigma tecnocrático que esquece os mais pobres, propôs um estilo de vida mais simples e humilde. Finalmente, chamou a atenção para as 50 mil pessoas que ainda vive em alojamentos provisórios.
Francisco percorreu no Japão os passos de S. Francisco Xavier e de tantos missionários e missionárias que ali anunciaram e anunciam o Evangelho da justiça e da paz. E chegou às terras do sol nascente com 50 anos de atraso, pois o Japão era a terra de sonho missionário do jovem jesuíta P. Jorge Bergoglio! Mas ainda foi a tempo de ajudar o mundo inteiro a abrir os olhos para os perigos nucleares e a rasgar novos caminhos de paz para o futuro da humanidade.