LUSOFONIAS – Missão na Suíça com sotaque português…

Tony Neves, em Sierre – Suiça

É sempre uma alegria enorme partilhar a missão que nos corre nas veias e toma conta das nossas vidas. Fui convidado pelo P. José Carlos Vilas Boas a encontrar algumas das comunidades portuguesas que ele acompanha na Suíça. Vou abrir algumas das páginas do meu diário destes três dias de permanência em terras helvéticas. Voei de Roma para Genebra, no fim da manhã de sábado, e lá encontrei o P. Vilas Boas. A viagem de comboio até Sierre encheu-me os olhos da beleza da paisagem, mas também o coração com a conversa que fomos mantendo e que me deu a conhecer estas terras dos cantões de Vaud e Valais, este povo e a Igreja que aqui vive e testemunha os valores gravados nas páginas dos Evangelhos.

A primeira parte da viagem faz-se com o Lago Leman à nossa direita, belo, sereno e com uma nebulosa que só permite ver em silhueta as montanhas que ficam do outro lado. Olhando à esquerda, impõem-se aos nossos olhos as vinhas que trepam pelo monte, a fazer-me lembrar o Alto Douro Vinhateiro. Agora que as vindimas foram feitas e a folha começa a cair, as encostas ganham todas as cores. Atravessar de comboio o grande Valais, mostra-nos ainda, na planície, um número imenso de macieiras a ostentar os seus frutos vermelhos à espera da última etapa de colheita, bem como os damasqueiros já a perder a folha. Depois, a conversa animou e só me lembro de ter passado em Lausanne e Sion. A viagem da segunda feira seguinte chamou-me a atenção para muito mais. Mais foquemos o essencial: a Missão que o P. Vilas Boas anima com as comunidades portuguesas em Monthey, Martigny, Sion, Sierre e Montana (zona francófona) e Leukerbad, Visp, Täsch e Zermatt (na zona alemã).

Instalados de corrida em Sierre, fomos logo para o salão da paróquia local, onde nos esperava uma meia centena de portugueses. Ali começou o projeto de animação traçado pelo P. Vilas Boas para valorizar este quinto domingo de outubro, com o aprofundamento de uma temática missionária e o apelo à partilha para uma causa solidária. Foi muito animado este encontro, que continuou com a Eucaristia e terminou com um jantar partilhado.

Foi curta a noite de sábado, embora aumentada de uma hora. Bem cedo já rumávamos para a Igreja de Martigny-Bourg para uma réplica da sessão do dia anterior. A comunidade também rondava por uma meia centena. Dali, dirigimo-nos para a montanha, em direção a Zermatt. De nome, esta estância de neve, era-me familiar. Sabia que estava no alto de uma montanha e atraía milhares de amantes da neve e do montanhismo. Mas chegar de carro a Taesh é um teste à capacidade de apreciar a beleza da natureza. Depois, há que viajar de comboio até Zermatt e encher os olhos, quer quando se passeia pelas ruas da lendária vila, quer quando olhamos a montanha e nos vemos diante do pico do Matterhorn, a montanha mais fotografada do mundo, que nos habituamos a ver nas caixas dos chocolates toblerone (passe a publicidade!). Ali trabalham mais de 3 mil portugueses, sobretudo nos mais de 170 hotéis e restaurantes desta estância turística de renome mundial. O Centro Pastoral e a Igreja acolheram a sessão missionária, a missa e o jantar de confraternização que terminou já a lua ia bem alta.

Descemos a montanha, dormimos em Sierre e respiramos fundo, depois de três momentos tão intensos, com um povo que acolheu de braços abertos e mostrou-se disponível para conhecer textos, pessoas e geografias onde hoje a Missão acontece, nos cinco continentes. Foi bom sentir a sintonia das pessoas com este temas missionários, bem como perceber quanto estes portugueses na Suíça são generosos.

O convite que me chegou a Roma pedia intervenções sobre a Missão, a presidência das Eucaristias e a indicação de um projecto missionário em curso. Apresentei diversos e o escolhido foi o da plantação de cacau no interior da Bolívia, em Buenavista. Este projeto, liderado pelo P. Márcio Asseiro e levado a cabo pela equipa missionária Espiritana na Bolívia, tenta investir numa planta que terá de concorrer com a da coca e a da soja intensiva. É mais ecológica e mais humanizante. A adesão das pessoas (e encontrei cerca de 120 nas três sessões) ultrapassou as minhas melhores expectativas. Quero eu crer que falar de cacau no país do chocolate é garantir a vitória à partida!

A Suíça imprimiu em mim muitas outras marcas que quero partilhar noutra crónica. Lá voltaremos às margens do Lago Léman, às franjas de Zermatt, bem como a todo o corredor Genebra-Sierre. Por enquanto vou digerindo a beleza das paisagens e a ternura dos encontros.

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