Tony Neves, em Barcelona e Madrid
Madrid foi sempre ponto de chegada e de partida. Ali aterrei ido de Paris e dali saí para Roma, no fim desta visita missionária. Acolhido pela Comunidade da Casa Provincial, situada numa área muito universitária da capital, dali rumei a Córdova, depois a Pedrezuela e Burgos, mais tarde a Toledo e, finalmente, a Barcelona.
Na capital aconteceu uma Assembleia que juntou todos os Padres, Irmãos e Leigos Associados dos Espiritanos em Espanha. Teve lugar no apartamento que serve de Centro de Animação Missionária. Foi um momento forte de partilha, avaliação e projeção de um futuro que se quer ousado. Sendo capital, Madrid exigiu diversas visitas: participei na Missa na Catedral de Almudena, em domingo de maratona, aproveitando para rever o centro histórico e cultural: desde o Dom Quixote da Praça de Espanha e a Plaza Mayor, até às Praças de Cibeles e Neptuno, onde o Real e o Atlético celebram as suas vitórias! Dei diversas voltas à cidade, submetendo-me a duras provas, como foi o caso do ‘Museo del Jamon’ onde tive de ‘picar’ umas boas tapas de presunto ibérico, como se impõe a quem chega com o estatuto de visita!
Mas devo confessar que a visita que mais me marcou em Madrid foi à Casa de Formação Espiritana, situada no bairro social de Ventilla, ali mesmo à beira das quatro novas grandes torres que mostram a opulência da cidade. Este contraste gritante não é imagem de marca de Madrid, pois tenho-o encontrado em todas as grandes cidades do mundo. Neste antigo Seminário funciona hoje um centro de acolhimento a mulheres imigrantes, apoiadas pela Associação Karibu. São 13 mulheres, todas africanas, com 4 crianças. Ali têm um tecto e a protecção necessária. A visita guiada mostrou-me rostos felizes, mas pude conhecer as histórias sofridas de cada uma delas, vítimas de tráfico, abusos de toda a espécie, violência doméstica. Ali têm uma família, partilham trabalhos e responsabilidades e fazem cursos de espanhol. Também há cursos diários para ensinar estas senhoras a prestar com qualidade e competência serviços domésticos, o que tem aberto perspetivas de emprego a muitas delas. Estas formações são participadas por muitas mais mulheres: 58 ‘alunas’, neste momento. Muitas mulheres já por ali passaram e a percentagem de sucesso é, felizmente, bastante elevada. Os Espiritanos cedem, gratuitamente, esta grande casa de vários andares e visitam com frequência a instituição.
Mas viajemos até Barcelona. Cheguei atrasado, pois o São Jordi, um dos padroeiros (juntamente com a Senhora de Monserrat), acontecera a 23 de abril. Nesse dia, segundo a tradição, os homens oferecem às senhoras do seu coração uma rosa vermelha e um livro!
A primeira noite foi de memória agradecida, com um jantar que congregou três gerações da família do P. Victor Cabezas, falecido há dois anos com covid. Foi um missionário fantástico em Angola, Porto Rico e Espanha, onde desempenhou missões de responsabilidade como Provincial, Formador e Pároco.
A Basílica da Sagrada Família foi o epicentro desta visita à capital da Catalunha. É um monumento de encher os olhos de beleza, fé, cultura e criatividade, uma autêntica bíblia em pedra. É uma catedral de luz, iniciada em 1882 e com o fim das obras previsto para 2027! Os vitrais, em tons de azul, vermelho e verde, têm gravados nomes de santuários e santos do mundo inteiro. A Basílica apresenta três grandes fachadas, a evocar o Nascimento, a Paixão e a Ressurreição de Cristo. Dentro – como nas seis grandes torres – faz uma aposta enorme em Cristo, Maria e nos quatro Evangelistas. Falta ainda construir a Torre de Cristo, que terá 172,5m, um pouco menos que a colina de Montjuic, porque o arquitecto Antóni Gaudi (1852-1926) dizia que uma obra humana (basílica) não pode nunca superar a obra divina (montanha). O ‘pai’ da Sagrada Família também espalhou pela cidade a sua originalidade criativa, mormente no Paseo da Gracia onde ‘La Pedrera’ a ‘Casa Battlo’ fazem parar todos os turistas.
Barcelona é uma cidade cheia de fascínio, com mar e montanha, com belas ruas e praças, a abarrotar de gente, sobretudo nas famosas ‘rambles’, essas avenidas com um centro cheio de espaços para as pessoas passear, atraídas pelos bares e outros espaços de encontro.
Claro que a gastronomia local não podia faltar. Assim, além das paellas e tortillas (típicas de toda a Espanha), tive de provar (e deliciar-me) com a butifarra catalã, um enchido de carne de porco, grelhada na brasa!
Regressei feliz a Madrid, deixando dar voltas à minha cabeça a frase de Gaudi que mais me marcou: ‘para fazer as coisa bem, é necessário: primeiro, o amor; segundo, a técnica’!