Lusofonias – Mais paz para Moçambique

Tony Neves

1 de Agosto de 2019. Diz o povo que ‘à terceira é de vez!’ e, neste caso, esperamos que sim. A FRELIMO e a RENAMO reuniram-se neste dia para assinar um terceiro acordo de paz. O objectivo é claro: acabar de vez com toda a violência no país que resulte dos problemas de relacionamento entre estas duas forças políticas.

Faz bem entrar pela História dentro para compreender as razões deste terceiro acordo e o caminho que o povo moçambicano fez após séculos de colonização portuguesa e alguns anos de guerra colonial. Em 1975, Portugal entregou ao Movimento FRELIMO a governação de Moçambique como país independente. O marxismo-leninismo tomou conta deste novo estado lusófono e as reacções internas a este regime autoritário não demoraram a ganhar corpo. Assim, em 1976 começou a guerra civil com a recém-criada RENAMO. O país viveu 16 cruéis anos de guerra civil que terminaria, oficialmente, em 1992 com os Acordos de Roma, através da mediação da Comunidade de Santo Egídio. A delegação mediadora era liderada pelo P. Matteo Zuppi, hoje Arcebispo de Bolonha, em Itália. Numa longa viagem de Viseu para Lisboa, no dia em que mataram Jonas Savimbi em Angola (22 de fevereiro de 2002), conversamos muito sobre esta paz para Angola.

A verdade é que o marxismo-leninismo autoritário deu lugar a uma democracia com vontade de crescer e amadurecer, mas as tensões entre as duas grandes forças moçambicanas continuaram a fazer-se sentir, dando sinais, aqui e além, de que a paz era frágil demais para ser considerada uma conquista definitiva. A verdade é que a RENAMO nunca deixou o seu quartel general no grande e protegido Parque da Gorongosa. Em 2013 as tensões voltaram ao rubro e houve ataques em alguns pontos do país atribuídos à RENAMO, obrigando a ‘sentar’ e a rubricar mais um acordo de paz em 2014.

A FRELIMO e a RENAMO continuaram a negociar uma paz mais sólida e eficaz. Entretanto, morreu Afonso Nhlakama, líder histórico da RENAMO, mas prosseguiram os esforços negociais que agora parecem ter chegado a bom porto. A ida do Presidente da FRELIMO e de Moçambique à Gorongosa, chão sagrado da RENAMO, é um momento simbólico extraordinário. E dia 6,em Maputo, vão assinar-se novos compromissos.

Moçambique não tem tido uma história fácil. Primeiro foi a guerra. Depois vieram secas e inundações. Este ano foi marcado por dois ciclones terríveis: Idaí, no centro do país e o Keneth, no norte. A onda de solidariedade gerada está a ajudar a dar vida às populações afectadas, mas a pobreza continua a marcar o dia a dia de boa parte dos moçambicanos.

Há mais futuro com paz do que com violência. Esta é uma grande lição da história que muitos políticos e militares não querem aprender. Estou convencido de que este passo agora dado em Moçambique vai cimentar a paz e rasgar novos caminhos de progresso.

Felicito os lideres moçambicanos pelo passo dado. E, sobretudo, que ninguém ceda à tentação de voltar atrás. Mais justiça e paz vai significar mais pão e felicidade. Os moçambicanos merecem e precisam de líderes que amem e sirvam o povo e não que se sirvam e engordem á custa da sua miséria. Parabéns.

 

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Agência ECCLESIA

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