LUSOFONIAS – Igreja profética de Angola

Tony Neves

Angola voltou a receber-me de braços e coração abertos. Vou percorrer este grande país para reflectir sobre temas grandes da Missão hoje, como são a justiça, a paz, a integridade da criação, o diálogo ecuménico e o diálogo interReligioso. Falaremos também sobre boa governação e o seu reverso: a corrupção.

A Igreja em Angola tem reflectido bem sobre a vida dos angolanos, combatido a corrupção e apresentado caminhos de futuro para um povo que a guerra ‘matou’ durante quarenta anos. As intervenções da Igreja católica foram recentemente compiladas em livro cuja publicação é sinal de esperança. Refiro-me à colectânea dos Documentos Episcopais produzidos entre 1999 e 2017, agora publicados com o título: ‘A Igreja Católica em Angola e a sua Missão Profética’.

Há que reconhecer que a coragem de dizer sempre marcou a intervenção escrita dos Bispos de Angola. Foram corajosos durante o regime repressivo de partido único; conseguiram sempre perceber a vontade do povo; foram voz de quem só podia falar em surdina; correram riscos em nome da liberdade e da democracia. Estas ideias e ideais ficaram gravadas de forma evidente nas Cartas Pastorais. A primeira parte juntou as que a CEAST publicou desde a independência (1975) até 1998. A colectânea foi feita e editada sob a orientação do P. Manuel Gonçalves, Espiritano.

Sai agora a público o segundo volume. O teor profético das intervenções escritas mantém-se neste período que começa ainda em tempo de guerra civil (1999) e traz a voz dos Bispos até 2017. É uma colectânea importante para a Igreja católica, mas o seu valor passa muito além das suas fronteiras. Diversas vezes ao ano, os Bispos ergueram a sua voz para tratarem temas de actualidade, chamando a atenção, de forma fraterna e dialogante, para aspectos da vida do povo que precisavam de ser tomados em linha de conta. Regra geral, as Mensagens dos Bispos assentam no clássico ‘ver-julgar-agir’ que ajuda a ler os sinais dos tempos, a avaliar os acontecimentos e a lançar caminhos de futuro.

Como diz D. Filomeno Vieira Dias no Editorial, esta colectânea dirige-se ‘a um universo de utilizadores muito vasto: historiadores, estudiosos das ciências sociais, missionários, cidadãos interessados’. Ou seja, pode ser um instrumento útil a muita gente, dentro e fora de Angola! E D. José Manuel Imbamba, coordenador da publicação, quer que estes textos ajudem na ‘construção de uma sociedade cultora do bem, da fraternidade, da justiça social, da reconciliação, do desenvolvimento sustentável, do diálogo tolerante, do direito e de paz’.

A obra traz a chancela da ‘Angola Catholic University Press’ e precisa de ser lida e tomada a sério. Será um dos manuais da minha visita.

 

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