Lusofonias – Em Fátima, pelos últimos…

Tony Neves

Fátima tomou muito a sério a reflexão, a oração e o compromisso pelos migrantes e refugiados, seguindo os apelos e a mensagem do Papa Francisco. A grande Peregrinação do 13 de Agosto foi presidida pelo Cardeal canadiano Marc Ouellet, actual responsável pela Congregação para os Bispos, no Vaticano. É um dos braços direitos do Papa Francisco e isso notou-se nas suas homilias a 12 e a 13.

O Cardeal rezou por todos os migrantes que perderam a vida antes de chegar onde sonharam viver. Recordou a tragédia que marca hoje milhões de pessoas que estão a ser obrigadas a deixar as suas casas por causa da pobreza, da guerra e da perseguição étnica e religiosa.

Aqui, D. Ouellet fez memória do 6º aniversário da visita que o Papa Francisco fez à Ilha de Lampedusa, famosa pelo acolhimento a imigrantes à deriva no Mediterrâneo. O Papa foi lá chorar por aqueles por quem ninguém chora, porque os seus familiares não sabem que morreram afogados.

O Presidente da Peregrinação, nesta 47.ª Semana Nacional das Migrações, fez memória dos que perderam a sua vida durante a actual crise migratória mundial e falou sobre as tribulações que milhões de migrantes e refugiados passam para tentar chegar a um território onde possam encontrar trabalho e uma vida melhor.

O momento mais marcante para mim foi quando o Cardeal definiu os migrantes e refugiados de hoje: ‘São os últimos enganados e abandonados a morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violentados nos campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas dum mar impiedoso; são os últimos deixados a morrer em acampamentos de acolhimento’.  Mas há que elogiar o grande trabalho que cristãos e crentes de outras religiões fazem por estas pessoas que as sociedades marginalizam e abandonam.

Evocando o texto bíblico que diz que o povo de Israel deve tratar bem os estrangeiros porque também foi estrangeiro no Egipto, D. Ouellet apresenta os migrantes e refugiados como seres humanos vulneráveis, descartados, maltratados e desprezados como foi o Crucificado. E, por isso, toda a solidariedade e acolhimento não serão demais. Daí que o Cardeal romano tenha deixado este apelo: ‘que os migrantes e refugiados possam encontrar o testemunho da caridade’.

D. António Marto arrancou diversas salvas de palmas, no fim da Missa de 13 de Agosto, quando as pediu para todos os migrantes e refugiados – a quem gostaria e abraçar pessoalmente – e, sobretudo, quando falou do corpo da Guarda Nacional Republicana que, por estes dias, salvou cerca de uma centena de migrantes no Mar Mediterrâneo.

Estes ‘últimos’, à luz do Evangelho, têm de se transformar em ‘primeiros’. E com urgência, porque há milhares de vidas em jogo.

 

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Agência ECCLESIA

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