LUSOFONIAS – Do Chinguar ao Lubango

Tony Neves, em Angola

Quando saio do Huambo até parece que estou a ‘emigrar’. Mas o caminho que me levou ao Chinguar mostrou-me paisagens que fazem parte do meu ‘habitat missionário’, pois foi no Kuito-Bié que a minha Missão se iniciou por terras de Angola. Ali encontrei o P. Agostinho Loureiro e o P. Joaquim Kapango, amigos de algumas ‘batalhas’. Além do encontro sobre Justiça, Paz, Ecologia, Diálogo e Democracia’, pude visitar o belíssimo Santuário de Nossa Senhora de Fátima do Monte Tchimbango, naquele alto de colina que permite ver kms e kms a toda a volta. Dali, avancei para a etapa seguinte que me levaria ao encontro do bom povo da Huíla.

O P. Kapango fez-me dar bastantes saltos na longa estrada que une o Huambo ao Lubango, passando pela Caala, Cuima…até Caconda, a primeira paragem em hora de almoço. Impressiona a paisagem, as longas rectas e muitos mercadinhos à borda da estrada. Na hora do fim das aulas, há centenas e centenas de crianças que ladeiam a estrada, transportando à cabeça o seu banco ou cadeira, material que a escola não tem. Também impressiona encontrar manadas e mais manadas de bois, muitas delas com centenas de kms nas patas, pois estão a fugir da seca extrema que vitima as províncias do Cunene e do Namibe.

Caconda é uma das missões centenárias de Angola. Os Espiritanos e as Irmãs de S. José de Cluny estão a escrever ali uma história de fé, com muito sangue à mistura. Fiz questão de visitar o cemitério onde estão sepultados os dois irmãos mortos por leões, mas também o Padre e o Irmão que foram martirizados no início da guerra civil.

A viagem tinha como ponto de chegada a Missão da Senhora das Dores, na cidade do Lubango. As periferias assustam pela dimensão. Centenas de milhares de pessoas vivem nos musseques da cidade, kms e kms de casas pobres, plantadas quase umas em cima das outras, sem espaço para estradas, árvores nem saneamentos. A cidade colonial é muito bonita, tendo o Cristo-Rei a  ‘tomar conta dela’, olhando lá de cima da falésia.

Celebrei às 6.30 da manhã na Igreja da Missão, cheia de povo a cantar forte logo no nascer da aurora. Durante dois dias houve conferências e muitas conversas sobre a Angola de hoje. Tivemos a alegria de ver juntos os Espiritanos das Missões de Caconda, Chicomba, Munhino, Huila e Chiulo, todas as que estão nas províncias da Huila e do Cunene.

O último dia foi dedicado ao Noviciado Espiritano que está na Missão do Munhino, a alguns kms da cidade, lá bem encostado à montanha onde os macacos e chimpanzés são reis e senhores, dando-se ao direito de vir buscar milho, mangas e tudo quanto lhes apetecer. Após mais uma conferência para noviços e líderes da Missão, houve Missa, almoço e viagem rápida para o aeroporto, donde regressei a Luanda.

É tão bom sentir que as pessoas querem mudar o rumo da governação do país, lutando por mais justiça, paz, respeito pelos direitos humanos e liberdade, combatendo a falta de transparência e a corrupção que tem matado o presente e o futuro da maioria dos angolanos.

Cabinda será o lugar do desafio final desta minha Missão por terras de Angola.

 

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Agência ECCLESIA

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