Tony Neves
Estamos às portas do Mês Missionário Extraordinário que o Papa Francisco lançou para celebrar a extraordinária Encíclica Missionária que Bento XV publicou há cem anos. Por isso, nunca é cedo para ir refletindo mais e melhor sobre este tema maior da Igreja: a Missão.
Luis Rafael Azevedo é um padre jovem da Diocese de Lamego e acaba de publicar a sua tese de mestrado em Teologia com o título: ‘Discípulos Missionários do Deus desconhecido’. Faz uma abordagem bíblica e missionária do texto dos Actos do Apóstolos que fala da ida de S. Paulo ao areópago de Atenas (Act 17, 16-34). A experiência do autor da dissertação é muito abrangente, apesar da sua juventude. A pertença aos Jovens Sem Fronteiras abriu-lhe, de par em par, as portas a uma Missão à escala do mundo. Participou em inúmeras atividades missionárias em Portugal, mas também pôde saborear a beleza (e o risco) de um projeto ‘Ponte’ nas periferias pobres e violentas do Rio de Janeiro. Ali o ser ‘discípulo-missionário’ aproxima-se mais das experiências arriscadas dos primeiros cristãos, como narra o livro dos Atos dos Apóstolos, que serve de inspiração principal a este trabalho académico.
‘Discípulos Missionários’ é uma expressão feliz que apareceu exatamente no Brasil, durante a Conferência dos Bispos Latino-Americanos realizada em Aparecida. E sabe-se também que a redação do Documento Final é da autoria do Cardeal argentino Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco.
D. António Couto, Bispo do P. Luis Rafael, ao refletir sobre a ‘Alegria do Evangelho’, cita o nº 120, que diz que ‘a Igreja de Cristo é formada por ‘discípulos missionários’ e não por ‘discípulos e missionários’, como se ‘missionário’ pudesse ser apenas um ornamento ou um acessório a apor ao ‘discípulo’. Não é um acessório mais ou menos facultativo, que se pode ter ou não ter, usar ou não usar. É por natureza que a Igreja é missionária’ (Ad Gentes 2)’.
O Cardeal Tolentino Mendonça, numa das suas crónicas no Expresso, aplaude a insistência do Papa Francisco para que a Igreja se assuma ‘como ‘Igreja em saída’, ‘uma Igreja que anuncia a alegria do Evangelho’, ‘uma Igreja que se debruça sobre as feridas da humanidade’, ‘uma Igreja que seja um hospital de campanha’, ‘uma Igreja pobre e aberta aos pobres’, ‘uma Igreja que não aprisione o Espírito’ (E, 10.03.2018, p.92).
Ser ‘discípulo-missionário’ exige inspiração e modelos. Maria, é o mais perfeito e o Papa Francisco, no centenário de Fátima, foi claro quando disse que ‘sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho’. E disse mais: ‘a Igreja só brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor!’.
Ao lançar o Ano Missionário 2018/2019, os Bispos de Portugal obrigam-nos a escutar e seguir o Papa Francisco: ‘Com o ‘sonho missionário de chegar a todos’, o Santo Padre tem incentivado a ir às periferias, a ir até junto dos pobres, convidando os jovens a ‘fazer ruído’, a não ‘ficarem no sofá’ a verem a vida passar. Convida a Igreja a não ficar entre si sem correr riscos, mas a ter a coragem de ser uma Igreja viva, acolhedora, dos excluídos e dos estrangeiros’ (CEP 2018).
Felicito o P. Luis Rafael por esta dissertação de mestrado tão oportuna e provocadora. Ser ‘discípulos-missionários’ é ter a ousadia de viver com paixão o projeto de Cristo gravado nas páginas da Bíblia. Avancemos em força!