LUSOFONIAS – De Mayama a Nzapalainga

Tony Neves, em Roma

Pentecostes. Festa do Espírito Santo. Data de nascimento oficial da Igreja e, mais tarde, dos Missionários Espiritanos. O medo dos discípulos de Jesus, fechados numa casa, transformou-se em coragem desmedida. Saíram à rua a falar de Cristo e a proclamar bem alto a Sua Palavra e os seus valores que constituem pilares da Igreja e são património da humanidade.

Em Roma, na Casa Geral dos Espiritanos, foi dia de festa patronal. O Cardeal Dieudonné Nzapalainga, Arcebispo de Bangui, capital da República Centro-Africana (RCA), presidiu ao momento mais solene do dia: a Eucaristia de Pentecostes. Até chegar a nova leva de Cardeais, D. Dieudonné era o mais novo Cardeal da Igreja. O Papa Francisco olhou para ele como um modelo de coragem profética, ao arriscar muitas vezes a sua vida pela reconciliação do povo da RCA. Partilhou, na sua homilia, a alegria da missão que exerce neste contexto tão difícil.

Ao seu lado, na Eucaristia, estava o P. Alain Mayama, Superior Geral dos Espiritanos. Natural do Congo Brazzaville, é o primeiro Superior Geral dos Espiritanos vindo de fora da Europa. Na sua Carta de Pentecostes escreveu: ‘O Capítulo Geral dos Espiritanos, realizado em Bagamoyo, na Tanzânia, convidou-nos a ‘algo novo’, a não nos agarrarmos a modelos missionários que já não correspondem às necessidades do mundo contemporâneo. A nossa visão da missão espiritana hoje exige um compromisso de corresponsabilidade por parte de todos. As mudanças necessárias só podem ocorrer através de um processo de compromisso e participação coletiva. Nesta missão partilhada, cada espiritano e leigo associado, num espírito sinodal, é convidado a ouvir e a participar ativamente. Alguns confrades tendem a favorecer a participação nas atividades da Igreja local em detrimento das da Congregação: deve ser encontrado um bom equilíbrio para que um dos lados não sofra.

O Conselho Geral irá propor, a partir de Outubro próximo, um plano de animação para toda a Congregação, em três temas, para os próximos oito anos: missão, espiritualidade e vida comunitária intercultural. Este plano irá desenvolver os três eixos que identificámos nos textos do Capítulo. Compromete cada um de nós, pessoal e coletivamente, num processo de conversão a fim de chegar a uma visão comum renovada, especialmente no que diz respeito à missão, à espiritualidade e a uma vida comunitária enriquecida pelas nossas diferenças culturais. Somos todos chamados a participar ativamente neste processo.

Nesta festa de Pentecostes, quando revivemos na liturgia a efusão do Espírito Santo e comemoramos a fundação da nossa Congregação, invoquemos o Espírito Santo com Maria: que Ele renove em nós o espírito da Congregação, para promover a missão espiritana, respondendo concretamente aos sinais dos tempos à luz do nosso carisma’ – escreveu o Superior Geral.

Mas voltemos às palavras do Cardeal, proferidas na espaçosa e moderna Capela da Casa Geral das Irmãs Combonianas. As cerca de centena e meia de pessoas ali presentes representavam quase o mundo inteiro, pois ali estavam reunidos padres, Irmãs e leigos originários dos quatro cantos do planeta, tendo em comum a sintonia com a Família Espiritana. Os cânticos, entoados em diversas línguas,  também nos mostraram uma Igreja sem fronteiras.

Disse D. Nzapalainga: ‘Nesta Solenidade de Pentecostes, peçamos ao Espírito Santo a coragem de ir às periferias do mundo contemporâneo para partilhar a alegria do Evangelho, com particular atenção aos jovens, aos marginalizados, aos novos pobres, aos migrantes e às questões ecológicas. Imploremos ao Espírito Santo, através da Virgem Maria, para renovar cada baptizado, a nossa Igreja, as nossa congregação religiosa, para inundar a Igreja e o mundo inteiro com a sua luz e os seus dons, para encher os nossos corações com o fogo do seu amor e para nos transformar, com a sua força divina, em testemunhas corajosas do Evangelho’.

O mundo está complicado e os líderes precisam de inspiração. Construir um mundo mais humano e mais fraterno será sempre obra do Espírito. O papa Francisco, neste Pentecostes, disse que ‘não podemos fazer da Fé uma peça de Museu’. Há que abrir portas a este Fogo que devora todas as forças do mal e espalha justiça, paz, amor e alegria, os valores do Reino de Deus.

 

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