LUSOFONIAS – Dakar com história(s)

Tony Neves

A cidade de Dakar transpira história por todos os cantos, seja em terra firme, seja no mar imenso por onde chegaram e partiram milhões de pessoas ao longo dos séculos.

Os primeiros europeus a acostar foram os navegadores portugueses, claro. Dinis Dias chegou em 1444 e começou logo o tráfico de escravos, a partir da Ilha de Gorée, hoje Património da Humanidade, por más razões. Depois dos portugueses, vieram holandeses, ingleses e franceses, mas a sorte do povo local não foi melhor. Só em 1848, a França aboliu a escravatura.

Os Espiritanos participantes no Encontro Mundial de Formadores, vindos dos quatro cantos do mundo, fizeram uma visita-peregrinação a esta emblemática Ilha da desgraça e do adeus definitivo a África para muitos escravos.

O espaço mais doloroso é a Casa dos Escravos que se visita em silêncio. Ali está ‘escrita’ uma das páginas mais dolorosas da história da humanidade: a escravatura. Dói ver os espaços onde ficavam três ou quatro meses os homens, as mulheres e as crianças, enquanto esperavam pelos barcos negreiros que os levariam à Europa, á América ou á morte, naquele triste adeus definitivo à África que os viu nascer. Os doentes não embarcavam, pois eram atirados ao mar. Dói, sobretudo, olhar para aquela porta que dá para o mar, onde em 1992, o Papa João Paulo II se deixou fotografar a olhar para o Atlântico. A Casa dos Escravos é um lugar de memória, um santuário aberto a todos os peregrinos do mundo. E são muitos, todos os dias, pois é impensável visitar o Senegal sem ir à Ilha de Gorée. Atravessar o mar era um pesadelo que durava de 6 a 12 semanas, como sardinhas em caixa.

João Paulo II também esteve na Igreja da Ilha. Ali rezou: ‘Deste santuário africano da dor dos negros, nós imploramos o perdão do céu’. Os Bispos de toda a África também ali peregrinaram em 2013 e fizeram uma celebração de penitência e reconciliação. Os Formadores Espiritanos, após visita guiada à Casa dos Escravos, celebraram a Missa na Igreja, em português, porque a primeira escravatura foi realizada por portugueses.

Além da Ilha de Gorée, visitamos a maior estátua de África, o monumento ao Renascimento da pessoa africana, um conjunto escultural de enorme dimensão. Fomos, por fim, à Catedral de Dakar, construída com apoios obtidos pelo P. Daniel Brottier, um Espiritano que o Papa João Paulo II beatificou.

O Senegal é um país muçulmano, com 94% de islâmicos e apenas 4% de cristãos. Mas é um dos raros bons exemplos de coabitação entre estas comunidades religiosas, fraternidade que é importante manter, pois nos países vizinhos e no resto do mundo, têm surgido muitos grupos fundamentalistas que deitam tudo a perder.

Com um passado marcado pela escravatura e colonialismo, o Senegal vive uma época feliz de paz e progresso que só tem a ganhar com a boa relação entre religiões e culturas.

 

 

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Agência ECCLESIA

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