Tony Neves, em Roma
Há mulheres e homens, com quem recentemente me cruzei na vida, a quem abracei, cujos testemunhos de enorme fé e compromisso me reduzem a uma pequenez que me fará crescer em humanidade e consagração religiosa e missionária.
Há abraços que nos apertam e preenchem por dentro. Pela simples e profunda razão da enorme humanidade de quem os recebemos. Trata-se de pessoas inspiradoras pelo que fazem, mas, sobretudo, pelo que são. A coerência é um valor inquestionável e é tão bom encontrar pessoas de excelência, em quem o ‘agir’ corresponde ao ‘ser’.
Feita esta introdução, faço-me à estrada para partilhar estes abraços:
A Irmã Gabriella Bottani, comboniana italiana, minha vizinha, foi missionária no Brasil e, depois, coordenadora mundial da Associação Talita Kum, que acolhe e apoia mulheres vítimas de tráfico humano. A sua vida é um ataque frontal a um dos maiores dramas da atualidade.
O Cardeal Tolentino Mendonça, biblista, poeta e escritor, agora a liderar o enorme Dicastério da Educação e da Cultura, aqui em Roma. Dispensa palavras de apresentação…
A Irmã Aleth Latreille, espiritana francesa – reencontrei-a em Nogent, periferias de Paris, quase a celebrar cem anos. Antes, partilhamos vida e missão por terras de Angola, durante a terrível guerra civil, onde ela foi uma ‘mulher de armas’, sempre desarmada! Culta e sempre feliz, era de uma organização extrema e de um sentido de Missão muito apurado. As suas conversas abriam caminhos…
O P. Julio Lancelotti que, nas periferias da cidade de S. Paulo trabalha com moradores de rua, uma missão arriscada, complexa e muito contestada por sectores mais conservadores da sociedade civil e mesmo da Igreja. Passei com ele um dia, assistindo, em direto e sem filtros, ao seu trabalho de dedicação extrema aos sem abrigo desta cidade que é um mundo…
A Maria de Jesus Souza, leiga brasileira, vive e trabalha nas periferias complicadas de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Foi ali, naquele confim de Amazónia, que a conheci. Conversaria muitas vezes com ela quando veio a Roma fazer o Curso de Formação sobre a Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis. Fico sempre mais rico quando a encontro e escuto sobre as suas convicções e a sua missão por terras bolivianas.
O Cardeal Dieudonné Nzapalainga, espiritano, é o Arcebispo de Bangui, na escaldante República Centro-Africana. Quando escolhido pelo Papa Francisco, foi o Cardeal mais jovem da Igreja. Encontrei-o em Roma, pela primeira vez, no Hospital onde foi operado. Depois, falei com ele diversas vezes, nas suas muitas passagens por Roma. Vi, com muita emoção, o filme ‘Siriri’ (paz, na sua língua materna), feito por um realizador suíço, sobre a vida arriscada deste Bispo-Missionário. Depois, entrevistei-o por ocasião do lançamento do livro ‘Venho trazer-vos a Paz’, que também partilha a sua ousada e feliz missão por terras centro-africanas.
O P. Luigi Maccali, italiano, foi raptado no Níger e libertado no Mali. Este missionário tem muitas histórias para contar, pois foi vítima de um sequestro que durou dois anos, um dia após outro, no deserto do Sahara, sem saber se seria libertado ou morto. Encontrei-o em Lisboa, quando ele foi a Fátima agradecer a libertação. Li e reli o livro ‘Cadeias de Liberdade’, em que ele conta esta longa e inspiradora história do rapto e libertação.
A Irmã Nathalie Becquart é a Subsecretária do Sínodo dos Bispos. É hoje uma grande figura da Igreja, talvez o rosto feminino mais influente. Religiosa Francesa, encontrei-a e conversei várias vezes com ela durante as Jornadas Mundiais da Juventude, pois ela estava todos os dias na Casa Provincial dos Espiritanos em Lisboa, local onde ficaram instalados muitos bispos franceses. É uma mulher de uma enorme alegria e de uma comprovada competência.
O P. Custódio Campos, espiritano português, está há 70 anos como Missionário em Cabo Verde. Fala um crioulo perfeito (assim me garantiram!), é uma figura incontornável da história da Igreja em Cabo Verde e do seu povo, a quem se entrega, de alma e coração, há sete décadas. É um exímio contador de histórias, mas, sobretudo, um homem extremamente sensível aos mais pequenos e mais pobres.
A Prof. Raimunda Schaeken é a Presidente da Associação dos Escritores do Amazonas, em Manaus, cidade onde vive com a sua família. Mulher culta e dedicada, defende e divulga, sem nunca cruzar os braços, a sua terra, o seu povo e a sua cultura.
Escolhi estas dez inspiradoras pessoas – Irmãs, Leigos, Padres e Bispos -, mas podia ter selecionado muitas mais, tal a riqueza que nos cerca. É bom experimentar a alegria de vivermos rodeados de gente boa e interveniente, que abraça – com palavras e vida – as grandes causas da humanidade.
Tony Neves, em Roma