Tony Neves
As tecnologias da comunicação estão a dar saltos enormes e ninguém sabe onde isto vai parar. Talvez não pare nunca! E quando olhamos para todos as possibilidades que já temos de comunicar, ao longe e ao perto, começamos a fazer escolhas. Escolher é sempre uma atitude dramática, porque implica aceitar umas coisas e pôr de parte outras. Ora, no mundo complexo das comunicações, estas opções podem excluir alguns dos meios de comunicação que nos habituamos a utilizar. Faço uma pergunta direta: a rádio vai ser posta de parte, vai tornar-se dispensável?
Se dermos uns passos atrás na história, ficamos a saber que, durante muito tempo, havia quase só a comunicação oral, acompanhada de outros pequenos sinais, como o fumo. Multiplicavam-se as formas de utilizar o som, de o amplificar, de o fazer chegar mais longe. Utilizavam-se mensageiros, desde pessoas a pombos…e as notícias lá iam chegando aos destinatários ou perdiam-se pelo caminho, sempre que os mensageiros não conseguiam chegar ao seu destino. Depois inventou-se a escrita, a imprensa, a rádio, o telefone, a televisão, o satélite e, com a era da informática, as tecnologias da comunicação não pararam de evoluir. Hoje podemos, através da internet, dizer tudo e mais alguma coisa à velocidade de um click. Parece ser tudo tão simples e tão rápido que até nos esquecemos das formas simples e elementares da comunicação, como é o caso da comunicação pessoal assente no encontro. Impressiona muita gente entrar num autocarro ou num bar de uma escola e olhar à volta e só ver as pessoas a tocar no seu telemóvel, incapazes de dirigir uma palavra a quem está ali ao lado! D. José Tolentino Mendonça escrevia, há tempos, que a internet ajuda a tornar os distantes mais próximos e os próximos mais distantes!
Isto a propósito de quê? Da rádio… Tem ainda lugar no mundo das nossas comunicações ou está de morte anunciada? Acho que a rádio nunca foi tão forte como hoje. Claro que tem que se modernizar na tecnologia e nas linguagens, tem de se ajustar bem a um auditório preciso que é necessário conquistar a cada momento. Tem que ser competente na forma como comunica e cativa. Mas continua a ter um lugar que é seu, muito seu e ninguém consegue roubar. É um media de proximidade. Entra na vida e no coração das pessoas. Traz notícias, música, estabelece relações, anima. Ocupa noites e dias muitas vezes vazios na vida de muita gente. Permite conversa, diálogo, esclarecimento. Transmite valores, incentivos, promove comunhão, solidariedade, sentido de pertença.
Por estas e muitas outras razões, a rádio chegou há muito e veio para ficar. Não vai sobreviver sozinha, mas em comunhão com todas as outras plataformas de comunicação. Não a deixemos matar com a nossa incompetência e com alguma incapacidade de fazer caminho com outros. A Rádio faz falta, pois a sua missão ainda não foi cumprida. Parabéns a quantos dão a vida à Rádio, fazendo-a ou escutando-a.
Saúdo a Renascença por ser líder de audiências em Portugal. Saúdo a coragem da Rádio Ecclesia por tentar estender o sinal a Angola inteira. Saúdo todas as Rádios Lusófonas espalhadas pelo mundo. Saúdo todos os ouvintes do Lusofonias.