Numa longa entrevista conduzida por Henrique Manuel Pereira, Daniel Serrão fala de si e dos aspetos mais invulgares da sua vida. Nascido em Trás-os-Montes (Vila Real) a 1 de março de 1928, o professor catedrático de Anatomia Patológica abre a sua alma e relata episódios do seu longo percurso vivencial.
«Daniel Serrão – aqui diante de mim» é o título da obra editada pela «Esfera do Caos» onde o entrevistado reconhece que hoje os dias passam mais depressa; “quando tinha vinte anos, um ano era uma eternidade, mas hoje, um ano é um curto intervalo entre dois natais”.
Quando estava na flor da idade, a “escada era a subir e cada degrau era um obstáculo a vencer, com esforço, tenacidade e sofrimento”. Formado na Faculdade de Medicina do Porto em 1951, Daniel Serrão deu aulas a milhares de alunos, formou docentes, orientou teses e criou estruturas de investigação.
Apesar da experiência de vida, Daniel Serrão ainda se emociona “até às lágrimas” se estiver sozinho a ler uma descrição de situações de sofrimento de pessoas, em especial de crianças.
Com uma atividade intensa no campo da medicina, foi escolhido pelo Papa João Paulo II para membro da Academia Pontifícia para a Vida, da Santa Sé. Acompanhou o II Concílio do Vaticano (1962-65) através de notícias, “poucas, que apareciam nos nossos jornais que era o que a censura política deixava passar”, mas o documento que leu “com mais pormenor foi a Gaudium et Spes”.
Confessa que a descoberta da poesia de Daniel Faria, quando tinha 75 anos, “foi quase tão importante como a de Pessoa aos 17”. E acrescenta: “um poeta como Daniel Faria merecia ser estudado nas Escolas Secundárias e apresentado nos livros escolares”.
Ao falar do desgaste do Ser Humano, Daniel Serrão realça que o que “estraga o cérebro é o que fazemos em novos” e exemplifica: “Verdi foi melhor a compor aos 90 anos do que tinha sido em novo; e os filmes de Manoel de Oliveira são hoje mais profundos e esteticamente mais belos do que alguns anteriores”.