A construção dos seminários, situados nas ruas de São Domingos e de Santa Margarida, a criação do boletim “Acção Católica”e do Museu da Catedral, e ainda a instauração do Corpo Nacional de Escutas, fazem parte do legado de D. Manuel Vieira de Matos à Arquidiocese, que ontem, no auditório da Faculdade de Teologia de Braga, assistiu à apresentação de um livro sobre a vida e a obra deste prelado, da autoria de Carlos António Faustino. Com prólogo do padre jesuíta Lúcio Craveiro da Silva e editada pelo Apostolado da Oração, a obra realça, depois de um périplo de quatro capítulos, a acção deste Arcebispo bracarense, que deu entrada na Sé Primacial a 14 de Março de 1915. «Encontrou a diocese sem paço arquiepiscopal nem seminário, os templos profanados e os estabelecimentos religiosos fechados», recordou, durante a apresentação do livro, o cónego José Paulo Abreu, numa alusão à crise social e religiosa instalada depois da proclamação da I República. Tornando presente a saudação proferida por D. Manuel Vieira de Matos aos bracarenses na cerimónia de posse – «Da morte há-de brotar a vida», o director do Museu Pio XII referiu que o Livro evoca legado pastoral de D. Manuel Vieira de Matos prelado «foi desenrolando uma vastíssima actividade, que passou, entre outras coisas, pela reorganização geográfica da Arquidiocese; incentivo à pregação, ordenada a todos os párocos e capelães, nos domingos e dias festivos; incremento do ensino da catequese e valorização da música sacra; incremento das devoções eucarística e mariana; assistência social e aplicação do novo Código de Direito Canónico; reforma litúrgica, sem esquecer o rito bracarense, e ainda a assistência ao clero». A obra, que contém capítulos alusivos ao liberalismo e à maçonaria, e ainda à vida do prelado nos últimos anos da monarquia, realça os anos conturbados vividos pela Igreja Católica durante a segunda década do século passado. O actual Arcebispo de Braga aproveitou ontem a apresentação do livro “D. Manuel Vieira de Matos: vida e obra” para lembrar as «dificuldades» sentidas naquela época pelo seu antecessor, desafiando mesmo os presentes a iniciarem os preparativos do centenário da revolução de 1910 «com verdade», «para que se possa ver aquilo o que a Igreja passou no meio daquela tempestade». Sublinhando a perseguição e a detenção de D. Manuel Vieira de Matos, D. Jorge Ortiga confidenciou que será possível apreciar, depois da inauguração das obras do Museu-Tesouro da Sé Catedral, um dos símbolos do seu antecessor: uma pequena cruz de pau-preto utilizada no cárcere.