D. Manuel Clemente recebeu documento síntese das seis sessões da dinâmica «Escutar a Cidade»
Lisboa, 17 mar 2016 (Ecclesia) – A erradicação da pobreza, a promoção da justiça e da participação e o fomento da arte como caminho de expressão da fé são alguns dos desafios que constam num documento entregue esta quarta-feira ao cardeal-patriarca de Lisboa.
Os movimentos associados à dinâmica «Escutar a Cidade» sintetizaram as propostas dos intervenientes nas seis sessões, que decorrem na capital com o objetivo de escutar contributos para o Sínodo de Lisboa, de quem “vivendo no mesmo tecido social” não partilha “a pertença eclesial”.
O documento, enviado à Agência ECCLESIA, assinala a pobreza como uma de três áreas preferencialmente “prioritárias” na ação da Igreja diocesana relembrando a “urgência de voltar a colocar a pessoa no centro da sociedade e da cidade, construindo processos que combatam a cultura do descartável e criem uma cultura mais inclusiva de todos, derrubando barreiras geracionais, económicas e sociais”.
A justiça e a participação são, segundo o documento, condições essenciais para o exercício da Democracia, situação atualmente posta em causa pelo desemprego e desigualdade económica.
“Torna-se imperioso revisitar os temas e as realidades do trabalho e do desemprego, colocando a pessoa e o sujeito do trabalho no centro da economia”, pode ler-se no documento que pede à Igreja uma “renovada reflexão antropológica e teológica” sobre o trabalho, numa altura em que a sociedade e a economia estão marcadas pelo “«deus do mercado»”.
A síntese indica ainda a necessidade de a Igreja aperfeiçoar “pelo discurso e pela prática católica” a “linguagem da arte, como questionamento e criação”.
“Enquanto manifestações do pulsar humano e de uma inquietação quantas vezes profética, de denúncia e anúncio, a arte e a cultura foram sempre e continuam a ser lugares essenciais da expressão da fé”, devendo a Igreja procurar novas formas de “hoje falar das verdades de sempre com novas palavras” e com “novos discursos em que a fé se possa dizer”.
O documento fala de uma Igreja que deve acolher e aceitar ser acolhida, que deve refletir sobre “os hábitos”, “os preconceitos” e “as barreiras” erguidas que afastam alguns de se sentirem “parte desejada da mesa da comunhão”.
Os promotores assinalam que o reconhecimento da Bíblia e do texto bíblico como “fundamentos essenciais” para a construção pessoal foi um denominador comum nos encontros.
Sublinhar, por isso, a centralidade da palavra bíblica nas comunidades cristãs “é uma urgência”, afirmam os promotores do «Escutar a Cidade», sublinhando o papel da catequese infantil e da necessária “participação criativa das famílias”.
“A utilização da linguagem simbólica como expressão da beleza, não apenas com crianças, mas nas próprias comunidades e grupos, na liturgia e na assembleia cristã, deve ser cada vez mais cuidada e pensada”.
O documento critica uma Igreja “cautelosa” e “passiva” no olhar atento à situação europeia e pede, perante a “fragmentação” e “desarticulação” um debate “numa base ecuménica e inter-religiosa, com as outras Igrejas cristãs e outras comunidades religiosas”.
Os organizadores sublinham o “elevado grau de expetativa”, que a maioria das personalidades não-católicas exprimiu nas seis sessões, sobre “o papel da Igreja diocesana e das mudanças vividas pelas comunidades cristãs em todo o mundo”.
Os encontros, realizados entre janeiro e junho de 2015, pretenderam ser um contributo para a reflexão do Sínodo diocesano 2016 «O sonho missionário de chegar a todos» mas também suscitar “interrogação” aos participantes, grupos, comunidades e movimentos.
O documento síntese vai ser apresentado publicamente na tarde do dia 16 de abril em local a anunciar.
LS