Marcelo Rebelo de Sousa destaca «visão cristã de rutura»
Lisboa, 14 mai 2022 (Ecclesia) – O Museu da Presidência, no Palácio de Belém, em Lisboa, apresenta hoje ao público a exposição “Maria de Lourdes Pintasilgo. Mulher de um Tempo Novo”, evocando o percurso da antiga primeira-ministra, do ponto de vista político e pessoal.
A mostra foi inaugurada esta sexta-feira, numa cerimónia em que o atual presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou Maria de Lourdes Pintasilgo como uma “mulher de rutura”, na Igreja Católica e na sociedade portuguesa.
“Ela realmente rompia com que era ainda maioritário no catolicismo português”, propondo um Cristianismo que se encarnava na vida, precisou, na sua intervenção.
Para o chefe de Estado, esta “visão cristã de rutura, em relação ao mundo” acompanhou o percurso político da única mulher a ter liderado um Governo em Portugal, até hoje.
Rebelo de Sousa evocou a sua condição de amigo e “admirador” de alguém que foi capaz de “projetar o catolicismo português para outro mundo”, após ter dirigido a Juventude Universitária Católica Feminina (JUCF).
“Ela representou o Vaticano II [1962-1965] em Portugal”, assinalou o presidente da República, numa reflexão em que destacou o impacto do I Congresso Nacional da Juventude Universitária Católica, em 1953, de que Maria de Lourdes Pintasilgo foi co-presidente.
Para o presidente português, a homenageada nesta exposição apresentava uma “visão, cosmovisão que não existia na sociedade portuguesa” do seu tempo.
Maria de Lourdes Pintasilgo liderou o V Governo Constitucional, entre 01 de agosto de 1979 e 03 de janeiro de 1980, um executivo da iniciativa do então presidente da República, António Ramalho Eanes.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou Eanes pela “coragem de escolher uma mulher, e uma mulher de rutura”, que foi ainda a primeira a candidatar-se à Presidência da República Portuguesa, advogando uma “nova vivência da democracia”.
Elsa Alípio, comissária da exposição, destaca à Agência ECCLESIA que a mostra quer apresentar “uma mulher multifacetada”, que deixou “um percurso de causas, feito de pioneirismo”.
Maria de Loures Pintasilgo, observou, foi uma católica que viveu a fé “sempre aliada às causas”, desde o seu tempo de estudante, em ligação à Ação Católica.
“Um fundamental no percurso de Maria de Lourdes Pintasilgo é a sua profunda fé. Não se pode falar dela sem falar nessa dimensão profunda da fé”, acrescentou a comissária.
A exposição apresenta, entre outros documentos, o processo da PIDE relativamente ao Movimento Graal, além de elementos da vida política e livros da antiga primeira-ministra.
Maria Antónia Coutinho, do ‘Graal’, recorda à Agência ECCLESIA a importância de Maria de Lourdes Pintasilgo para a introdução deste movimento católico internacional em Portugal, inspirando todos a “cuidar o futuro”.
“O movimento combina três elementos: a importância das mulheres, o seu papel na sociedade; a importância do enraizamento cristão e a importância do empenhamento social”, precisa, falando numa “herança” que permanece.
Nascida em Abrantes, em 1930, Maria de Lourdes Pintasilgo foi secretária de Estado da Segurança Social do I Governo Provisório, em 1974, e ministra dos Assuntos Sociais dos II e III Governos Provisórios, em 1974-1975.
Em 1986 foi candidata às eleições presidenciais, tendo obtido 7,4% de votos; liderou, como independente, a lista do PS ao Parlamento Europeu, em 1987, e foi eurodeputada até 1989; faleceu a 10 de julho de 2004.
“Os princípios do cuidado, da responsabilidade pelos outros e pelo planeta, e a defesa da participação ativa das mulheres nas diversas áreas da sociedade, nortearam toda a sua vida e deixaram raízes em vários domínios”, indica a nota de apresentação do Museu da Presidência da República.
A mostra está patente ao público até 31 de agosto, com entrada grátis mediante aquisição do bilhete para o Museu.
CB/OC