«Viver a humanidade com sentido, é vivê-la ao modo de Deus» – D. Rui Valério
Lisboa, 28 mar 2024 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa disse hoje, na homilia da Missa da Ceia do Senhor, que as pessoas “necessitam” de projetos que se situam nos “dinamismos da autossuperação, da vontade de oferecer a todos a dignidade própria da liberdade”.
“Os povos já não suportam mais as dinâmicas dos remendos: necessitam e necessitamos de projetos que se situam nos dinamismos da autossuperação, da vontade de oferecer a todos a dignidade própria da liberdade”, alertou D. Rui Valério, na Sé de Lisboa.
“Sobretudo na saúde e na educação, na justiça e na implementação de uma política que promova a igualdade de todos os cidadãos face à lei. Isso só se consegue pela vivência do serviço, na missão de que se está investido, a promoção do bem comum como um projeto eucarístico”, acrescentou, informa a Rádio Renascença, que transmitiu essa celebração.
Na homília da Missa vespertina da Ceia do Senhor, que faz memória da Última Ceia de Jesus com os seus discípulos, o patriarca explicou que “amar a todos, até os inimigos, e amar até ao extremo, representa a máxima realização do amor de Deus para com a humanidade”.
“O único sentido de o homem viver a sua humanidade, e de a viver com sentido, é vivê-la ao modo de Deus: doando-se na gratuidade, sacrificando-se pelos seus”, realçou, considerando que foi isso que Cristo mostrou.
Esta celebração, a Missa de Quinta-feira que dá início ao Tríduo Pascal, faz também memória do gesto de Jesus de lavar os pés aos seus discípulos, o patriarca de Lisboa destacou que “lavar os pés a alguém é uma humilhação que a Escritura não exige sequer a um escravo”, mas Jesus assumiu-a “e assumiu-a perante aqueles que O amam”.
“‘Fazei o mesmo que fiz eu’, impele-nos Jesus, ‘lavai os pés uns aos outros’. E São Paulo, mais radical, chega mesmo a dizer ‘fazei-vos servos uns dos outros’, amai-vos a todos como irmãos, porque só no serviço realizais a vossa condição de filhos. Somente na Eucaristia se vive este dom total de entrega plena”, explicou.
Segundo D. Rui Valério, a Eucaristia, instituída em Quinta-Feira Santa, “é uma nova maneira de ser pessoa”, e os valores que representa influenciam também as pessoas que não são cristãs, e exemplificou que “todo o projeto social, e até mesmo humanista, que se queira implementar no mundo, ou na sociedade, se prescinde da força da abnegação, da entrega e do sacrifício, está condenado ao fracasso. E logo desde o início”.
“[A Eucaristia] tem esta força: liberta todo o ser humano do anonimato e da insignificância, e torna irmão e irmã mesmo o distante e o desconhecido; faz dele um ‘alguém’ amado por Jesus Cristo” observou, salientando que se toca uma “dimensão fundamental da existência”, ninguém suporta ser tratado como objeto, “mas cada ser humano anseia e necessita de ser reconhecido e respeitado como pessoa”, lê-se na Renascença.
“Hoje, a cultura da era digital e da valorização do número, e sobretudo a mentalidade que a sustenta, coloca a urgência de afirmar como cada um é mais do que capacidade de produzir muito a pouco custo. O reconhecimento do rosto de cada pessoa, da sua identidade única, libertando-a das trevas da massificação, desenvolve-se no caminho da Eucaristia”
CB