D. Rui Valério evoca «quem clama por pão e paz», em homilia da Quarta-feira de Cinzas

Lisboa, 05 mar 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa alertou hoje, na homilia da Quarta-feira de Cinzas, para o regresso de “velhos léxicos belicistas”, evocando “quem clama por pão e paz”.
“Não obstante as incertezas e o retorno de velhos léxicos belicistas tão em voga nos tempos da guerra fria, como ‘corrida ao armamento’, ‘preponderância da lei do mais forte’, ‘investimento robusto na defesa’… não obstante tudo isto, a certeza da esperança que nunca engana mobiliza-nos para o gesto tão próprio da esperança e tão carismático da Quaresma que é o da entrega confiante a Deus”, referiu D. Rui Valério, na Sé de Lisboa.
A Quaresma, que começou com a celebração de Cinzas, é um período de 40 dias (a contagem exclui os domingos) marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (em 2025, no dia 20 de abril).
Numa intervenção enviada à Agência ECCLESIA, o patriarca de Lisboa apelou à caridade, para “superar a desconfiança em relação aos outros”.
Com efeito, o verdadeiro amor não é um gesto exterior, mas acolher quantos têm necessidade do nosso tempo, da nossa amizade e da nossa ajuda. É viver o serviço, vencendo a tentação de nos satisfazermos a nós próprios. É viver o serviço, olhando para quem clama por pão e paz, na nossa cidade, nas nossas comunidades”.
D. Rui Valério apresentou a Quaresma como “tempo de esperança”, em particular em ano de Jubileu, dedicado a esse tema, e afirmou que as cinzas são como “uma janela aberta sobre horizontes de vida nova renascida, que só é possível acontecer passando pela transitoriedade da morte”.
“A esperança quaresmal habilita-nos a um recrudescimento do real assente na passagem de Cristo da morte para a vida, na reinterpretação da cruz e do sofrimento que deixaram de ser lugares de fracasso e de derrota e se tornaram mistérios de vida, de vitória e plenitude”, acrescentou.
O responsável católico deixou um alerta para quem “age ou vive apenas para ser visto pelos outros vive no vazio e age no efémero”.
“Viver e operar em função dos aplausos e da aprovação dos outros manifesta a ausência de um eixo, de um alicerce na vida que a tudo dá consistência e que para tudo é razão de ser. Revela também como o centro da sua vida não é mais ninguém senão Ele próprio”, advertiu.
A homilia apresentou a oração como “expressão de abertura e de confiança no Senhor” e convidou ao jejum como libertação das “dependências daquilo que passa”.
“Seja a nossa vida e este tempo quaresmal um hino de glória a Deus, pela restauração de nós próprios, da nossa relação com os outros e do absoluto de Deus em nós. Assim, será uma Quaresma diferente, um tempo de esperança para cada um de nós, para aqueles que estão à nossa volta e para toda a humanidade sedenta de um amor maior. Votos de Santa Quaresma para todos”, concluiu D. Rui Valério.
OC