Presidente da República recordou que a vigília realizada naquele local há 50 anos representou “um momento de certidão de óbito do marcelismo”
Lisboa, 15 dez 2022 (Ecclesia) – O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entregou, esta quarta-feira, a Ordem da Liberdade à comunidade da Capela do Rato, em Lisboa, por representar “aquilo que foi num momento histórico determinante para o percurso de conquista de liberdade”.
“A vigília na Capela do Rato representou um momento de certidão de óbito do marcelismo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa na iniciativa, realizada esta quarta-feira, na Capela do Rato, em Lisboa, e que teve como tema “O Caso da Capela do Rato”.
Por iniciativa de um grupo de católicos, a 30 de dezembro de 1972 organizou-se uma vigília de 48 horas com o objetivo de refletir sobre a paz e sobre a guerra nas colónias, à qual aderiram também não-católicos e este encontro acabaria por ser interrompido pelas forças policiais, resultando em mais de uma dezena de detenções e na demissão dos funcionários públicos presentes.
O ano de 1972 foi “decisivo” por era notório a “incapacidade de resolver minimamente qualquer dos problemas fundamentais para o país”, sublinhou o Presidente da Republica.
“O primeiro era a guerra colonial e o segundo, ligado a esse, era a democratização e o terceiro era, obviamente, a transformação económica e social”, apontou.
O assassinato do estudante Ribeiro dos Santos por um agente da polícia política devido à sua oposição ao regime ditatorial e a vigília da Capela do Rato “são certidões de óbito”, mas a última “tem um efeito brutal por causa da ligação entre uma parte da Igreja católica e a ditadura”, reforçou Marcelo Rebelo de Sousa.
As tensões que alguns setores da Igreja atravessavam “ganharam uma dimensão potenciada e imparável” e a nota do Patriarca de Lisboa “denota isso mesmo”.
O Presidente da República recordou também os seus tempos de estudante e as reuniões, “durante muitos anos”, com o padre Alberto Neto, a “voz mais sonante” da Capela do Rato.
Em comunidade, o padre Alberto Neto deu expressão, “entre os anos 60 e 70, ao sentido da comunidade”, frisou o Presidente da República.
No dia 14 de dezembro, na Capela do Rato foi descerrada uma placa comemorativa dos 50 anos da vigília da paz e realizou-se uma conversa sobre o tema com o testemunho de Jorge Wemans, Isabel do Carmo e um texto de Francisco Cordovil, lido por Nuno Estevão, e moderada por António Marujo.
Esta quinta-feira, a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, acolhe a Mesa Redonda «A Paz é Possível. A vigília da Capela do Rato 50 anos depois: história e memória», moderada por Paulo Fontes, com os historiadores António Matos Ferreira, António Araújo, João Miguel Almeida e Rita Almeida de Carvalho.
Durante este mês, a Estrutura de Missão dos 50 Anos do 25 de Abril assinala meio século passado sobre a Vigília da Capela do Rato, em Lisboa, com uma mostra expositiva, conversas e um colóquio.
A Comissão Organizadora destas iniciativas é composta por Jorge Wemans, António Araújo, Paulo Fontes, Nuno Estêvão Ferreira, Ângela Barreto Xavier e pela Estrutura de Missão para as Comemorações do Quinquagésimo Aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974.
LFS