Lisboa: Faleceu o cónego João Seabra

Presidente da República evoca «homem da fé e da razão, da ação e do pensamento»

Lisboa, 03 jun 2022 (Ecclesia) – O cónego João Seabra faleceu hoje aos 72 anos de idade, informou o Patriarcado de Lisboa, em comunicado.

A Missa Exequial vai ser celebrada esta segunda-feira, às 10h00, na Sé de Lisboa, sob a presidência de D. Manuel Clemente.

A partir deste sábado à tarde, o corpo do sacerdote falecido vai estar em câmara-ardente no Colégio de São Tomás, na Quinta das Conchas, em Lisboa, anuncia o Patriarcado.

O presidente da República Portuguesa publicou uma nota, evocando um “grande amigo” e uma referência para a vida da Igreja Católica no país.

“Poucas figuras da Igreja portuguesa das últimas décadas foram tão carismáticas, enérgicas e interventivas como o Pe. João Seabra”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa.

“Dele se disse que foi o melhor bispo que nunca tivemos. Homem da fé e da razão, da ação e do pensamento, mostrou-se sempre incansável na defesa não apenas das suas convicções, mas da verdade cristã que professava, apostado na formação dos jovens, defensor da necessidade de dar testemunho e de não temer ir contra a corrente”, refere o texto divulgado pela Presidência da República.

Foi também um sacerdote, colega e grande amigo com quem muito convivi, desde os 12 anos, que estimei, em especial nos anos turbulentos da mudança de regime, e cujo percurso e personalidade marcantes nunca deixei de acompanhar”.

João Maria Félix da Costa Seabra nasceu em Lisboa, a 14 de setembro de 1949. Licenciou-se pela Faculdade de Direito de Lisboa e entrou para o Seminário dos Olivais em 1973.

O falecido sacerdote fez a licenciatura em Teologia, na Universidade Católica Portuguesa, e a licenciatura em Direito Canónico, na Universidade de Salamanca; foi ordenado a 5 de novembro de 1978, pelo cardeal D. António Ribeiro, e celebrou Missa Nova no dia 12 de novembro desse ano, na Igreja de Santa Isabel, a sua paróquia.

Doutor em Direito Canónico pela Pontifícia Universidade Urbaniana, foi cónego da Sé Patriarcal de Lisboa e diretor do Instituto Superior de Direito Canónico, da UCP, recorda a nota do Patriarcado de Lisboa.

O cónego João Seabra foi capelão da Universidade Católica, pároco em Santos-o-Velho e na igreja de Nossa Senhora da Encarnação, no Chiado; foi, ainda, defensor do vínculo do Patriarcado, assistente nacional do movimento Comunhão e Libertação e acompanhou as Equipas de Casais e de Jovens de Nossa Senhora.

O sacerdote foi fundador e presidente da associação educativa que possuiu o Colégio de São Tomás, em Lisboa, e o Colégio São José do Ramalhão, em Sintra.

Em janeiro de 2019, o presidente da República Portuguesa condecorou o cónego João Seabra com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, numa cerimónia que decorreu no Palácio de Belém.

Foto: Presidência da República

“Foi líder de um movimento que, embora com grande projeção na juventude, depois, foi tendo uma projeção intergeracional progressiva, um dos movimentos com maior eco na juventude na área cristã, trazido para Portugal nas últimas décadas e que explica o porquê de haver aqui uma junção de portugalidade e de vocação universal”, disse o chefe de Estado.

O cónego João Seabra, amigo de infância do presidente da República, foi apresentado como um apaixonado pela Educação e pela juventude, com referência particular à sua experiência como assistente nacional do Movimento Comunhão e Libertação.

“Portugal esteve centro dessa ação educativa e dessa aproximação aos jovens, mas não um Portugal fechado, um Portugal aberto, próprio da expressão muito específica da vivência de uma das realidades que têm a ver com a história do país. É um país riquíssimo nas suas expressões culturais e civilizacionais, mas em que a componente cristã teve, tem e terá uma componente apreciável, e essa componente é inseparável da portugalidade e de uma vocação universal”, sublinhou o presidente da República.

A Ordem do Infante D. Henrique destina-se a distinguir pessoas que tenham prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores.

OC

Notícia atualizada às 09h00 de 04.06.2022

Em 2019 foi lançado livro dedicado à vida e obra do cónego João Seabra, da autoria de José Luís Ramos Pinheiro e de Raquel Abecasis.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, José Luís Ramos Pinheiro, membro do conselho de gerência da Renascença, e antigo aluno do cónego João Seabra na Universidade Católica Portuguesa, destacou em primeiro lugar “um homem fiel a Deus” como realça o título da obra ‘João Seabra – à Sua maneira’, onde “está propositadamente um S maiúsculo”.

“Uma pessoa que se procurou sempre conformar com Deus e aproximar de Deus, nos variadíssimos percursos da sua vida, uma vida muito rica, que o levou a muitos lugares, à vida de muitas pessoas, em muitas circunstâncias, e que o levou também a intervir e a não se calar na sociedade portuguesa, na vida das pessoas, da Igreja, perante as mais diferentes questões”, sublinhou.

A publicação destaca a forte relação do sacerdote com a política; a forma como viveu o Concílio Vaticano II e a revolução do 25 de abril; a sua obra social e educativa, as diversas missões que abraçou na sociedade e na Igreja, entre as quais como capelão da Universidade Católica Portuguesa ou como assistente nacional do Movimento Comunhão e Libertação.

“Foram muitas horas de trabalho, mas muito gratificantes, porque fazer um livro, tentar traçar um retrato de uma personagem como o padre João Seabra é de facto um desafio muito entusiasmante e enriquecedor”, realçou Raquel Abecasis.

 

«João Seabra – à Sua maneira», de Raquel Abecasis e José Luís Ramos Pinheiro – Emissão 23-08-2019

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