Lisboa: «Achei que Deus não olhava para mim», diz Rute Rodrigues, que se reconciliou com a Igreja e vai ser batizada

Patriarcado tem 90 eleitos para receber os sacramentos de iniciação cristã nas comunidades paroquiais

Lisboa, 30 mar 2024 (Ecclesia) – O Patriarcado de Lisboa anunciou que 90 adultos, com mais de 16 anos, pediram para ser admitidos na Igreja Católica esta Páscoa, altura em que vão receber os sacramentos de iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia).

“Nós habitualmente temos uma média de cem pessoas, cem adultos, que realizam o rito de eleição. O rito de eleição é o rito próprio do caminho de preparação para o batismo, em que as pessoas já se nota que estão numa situação de preparação avançada para o batismo. A igreja reconhece não só que eles estão bem preparados para poder ser cristãos, como os escolhe para o batismo”, explica à Agência ECCLESIA o padre Tiago Neto, diretor do setor da Catequese do Patriarcado de Lisboa.

O responsável adianta que no ano passado, foram realizados 1541 batismos, considerando aqueles que se tornaram católicos depois dos sete anos, idade que a tradição da Igreja associa aos que “atingiram a idade da razão”.

“Nós percebemos que aqueles que procuram o batismo na vida adulta, muitas vezes ou o fazem porque de facto nunca foram batizados e têm esse desejo. Há outros que vêm de experiências de outros países, portanto são pessoas que são refugiadas, são imigrantes, portanto pessoas que vêm viver para Portugal e encontram aqui um enquadramento a nível religioso na Igreja Católica e optam pelo cristianismo, na sua versão católica”, indica o padre Tiago Neto.

“E há outros que vêm, podemos dizer, de períodos de grande deambulismo, passaram por vários sítios, inclusive há pessoas que se convertem de outras religiões ao catolicismo”, acrescenta.

Rute Rodrigues tem 51 anos e diz sempre ter acreditado em Deus, no entanto a vida “difícil”, marcada pela responsabilidade de educar a filha sozinha, levou-a a pensar que Deus a tinha abandonado.

“Eu tinha 30 anos e depois com certeza houve ali uma altura em que eu não sabia para que lado é que me havia de virar, que tudo me corria mal. […] Achei que Deus não olhava para mim. Achei que Deus não cuidava de mim”, conta Rute, que vai ser batizada a 9 de junho.

Em declarações à Agência ECCLESIA, a entrevistada, cujos pais pertencem a outra comunidade religiosa, explica que só voltou a lembrar-se de Deus na pandemia de Covid-19, numa altura de grandes dificuldades, em que se viu em “risco” de perder as lojas de roupa de que é proprietária.

“Na aflição chamei quem? Deus. Voltei a chamá-lo”, salienta Rute, que cumpriu a promessa de ir a Fátima a pé, durante três dias, depois de conseguir manter o negócio, altura em que tomou a decisão de receber o batismo.

Em outubro de 2023, a entrevistada iniciou a catequese na paróquia de Alverca, um percurso de aprendizagem e companheirismo: “Partilhamos todos experiências, uns vão fazer Crisma, eu mais três pessoas vamos ser batizadas, cada um tem o seu percurso, cada um partilha experiências, aprendo imenso”.

Depois de se ter reconciliado com Deus, Rute confessa-se “uma mulher com uma visão totalmente diferente” e sente-se transformada a “nível espiritual”.

“Tenho outra visão. Olho para o mundo de forma diferente. Uma coisa que mudou muito em mim foi achar antigamente as missas muito maçadoras. Achava que aquilo nada me fazia sentido. E agora tudo faz sentido”, partilha.

Rute Rodrigues pretende dedicar-se aos outros: “Não é que não o faça, agora estou mais desperta para algumas realidades, e gostava mesmo de fazer coisas com a comunidade. Adoraria”.

O padre Tiago Neto contextualiza que para receberem este sacramento de iniciação cristão, os adultos passam por um primeiro momento de “acolhimento”, em que apresentam as “disposições para querer receber o batismo e ser cristão”.

“É nesse tempo também anunciado o querigma, podemos dizer assim, aquilo que é fundamental no cristianismo, que é o anúncio da morte e da ressurreição de Cristo. Cristo que vem para libertar o homem do mal, que lhe dá uma vida nova”, indica o sacerdote do Patriarcado de Lisboa.

Depois da primeira evangelização, segue-se o tempo do catecumenado, “que é um tempo mais longo, feito de catequeses, “de experiências de vida cristã na comunidade”, “de ritos litúrgicos e celebrações litúrgicas” e daquilo que “é a experiência da aprovação e da luta da vida cristã”.

“Quando chega ao fim do catecumenado, então abre-se o tempo da última preparação que, como dissemos há pouco, se inicia com a eleição. Portanto, a igreja reconhece que nessa pessoa há sinais que a podem conduzir ao batismo e então elege-a para o batismo. E depois abre-se a última parte desta preparação, a última etapa, que é a última quaresma, com escrutínios, com ritos penitenciais e também de uma preparação mais intensa para a celebração dos sacramentos, que culmina depois com a celebração dos mesmos na vigília pascal”, refere o padre Tiago Neto.

A celebração dos sacramentos de iniciação cristã não são o fim desta caminhada, que prossegue com a mistagogia, “um tempo de saborear e experimentar a vida cristã no concreto, em que as pessoas normalmente são convidadas a integrar-se numa comunidade cristã, de forma mais plena”.

“Nem sempre é fácil nós realizarmos este trabalho de acompanhamento que conduz a uma integração na vida da comunidade […] O mais importante é que as pessoas que descobrem a fé e que querem aderir a ela e que querem ser cristãs, façam uma experiência que lhes permita dizer que vale a pena”, ressalta.

Para o padre Tiago Neto, “é fundamental garantir uma formação sustentada e coerente que possa ajudar a pessoa a progredir na vida cristã”.

“Uma formação orgânica e uma formação que sirva de base para que a pessoa possa continuar o seu caminho é algo essencial”, defende.

Julgo que o mais importante não é propriamente o tempo em si [de preparação até ao batismo], mas é a qualidade que se dá ao tempo e, portanto, os percursos serão maiores, outros menores, mas o que é importante é que a pessoa, quando chega ao rito de eleição, ao momento de ser eleito, então reúna um determinado conjunto de condições que garanta, de alguma forma, que a pessoa não só tem consciência do que é a vida cristã e o que é que significa vir a ser cristão, como garanta também, de alguma maneira, aquilo que é a sua continuidade no testemunho, na vida fraterna, na participação da vida da comunidade”

O diretor do setor da catequese do Patriarcado de Lisboa considera que o batismo é o recomeço e que “não é pelo facto de a pessoa ser batizada, que já completou todo o caminho, que já fez toda a formação, que a sua vida cristã terminou”.

“[O batismo] é um continuar e deve suscitar nos cristãos, naqueles que são batizados e filhos de Deus o desejo de aprofundar a sua experiência cristã […] Isso pode ser feito de várias maneiras, certamente que a continuidade da formação, da oração e da participação na vida sacramental é algo muito importante, também o serviço na comunidade cristã, a vivência fraterna, a dedicação aos pobres, portanto tudo aquilo que são experiências também de dedicação aos outros, no concreto da vida de cada comunidade são dimensões importantes a desenvolver”, conclui.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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