Lisboa 2023: Dificuldades marcam caminho dos jovens russos, mas vontade de participar e construir «unidade na diversidade» é grande

«Em todas estas questões temos tido muita ajuda e apoio e estou especialmente grata aos organizadores da JMJ em Portugal», diz responsável pelo Departamento da Juventude da Arquidiocese de Moscovo

Foto: JMJ Lisboa 2023

Moscovo, 17 jul 2023 (Ecclesia) – Oksana Pimenova, responsável pelo Departamento da Juventude da arquidiocese de Moscovo, disse que os peregrinos russos na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 têm de enfrentar “dificuldades” burocráticas e económicas, que contam superar com a ajuda da organização.

“De momento, a maior expectativa é apenas chegar a Lisboa, porque a estrada ainda não está totalmente desimpedida. Os cidadãos russos têm agora de entrar nos países europeus através de países terceiros, é mais longo e mais caro – quatro ou cinco vezes mais. Não podemos pagar com cartões bancários russos e, por conseguinte, é quase impossível pagar as taxas dos participantes. Até mesmo ir ao sítio de registo se tornou mais difícil. A obtenção de vistos também é complicada”, regista a responsável, numa entrevista por email à Agência ECCLESIA.

“Em todas estas questões temos tido muita ajuda e apoio e estou especialmente grato aos organizadores da JMJ em Portugal pelas suas palavras de que cada grupo é valioso e que estão à nossa espera. Devo dizer que durante estes meses foi como se estivesse a balançar várias vezes: hoje parece que tudo foi gerido e pensado, e amanhã há falhas e erros de diferentes origens. Mas estas circunstâncias levam-nos a colocar a questão: se é tão difícil e dispendioso em todos os aspetos, porque é que vou, porque é que vale a pena ultrapassar estas dificuldades? Se não for por algo realmente grande e significativo, do ponto de vista do homem comum não vale a pena, de facto”, acrescenta.

Oksana Pimenova será responsável por um grupo de 18 jovens que estão em preparação para participar na JMJ Lisboa 2023, “muitos pela primeira vez num encontro desta dimensão”.

“Entre nós, um terço são jovens que começaram recentemente o seu caminho na Igreja e estão muito entusiasmados; um terço são estudantes estrangeiros de diferentes países e um terço tem mais de trinta anos. Os nossos participantes vêm de cinco cidades da parte europeia da Rússia, representando duas das quatro dioceses. Há um par de pessoas, incluindo eu, que têm experiência de várias JMJ, mas estamos mais como acompanhantes do grupo”, indica.

A responsável explica que os jovens participantes da Rússia “podem ser testemunhas da unidade na diversidade”.

“A preparação deste ano é mais difícil do que nunca, com enormes desafios, mas entendo-a como o desejo de os ultrapassar e, em conjunto, fortalecer as relações. A minha preocupação é a unidade dos cristãos e das pessoas em geral. Perante muitos desafios, incluindo a construção da paz e o cuidado do mundo, só juntos, tendo em conta as necessidades, as esperanças, as alegrias e as tristezas de cada um, podemos mudar alguma coisa. Mas, para nos conhecermos com esta amplitude, precisamos primeiro de nos encontrar, de nos ouvirmos e de estarmos abertos uns aos outros”, valoriza.

Questionada sobre temas que a organização da JMJ Lisboa 2023 deseja ver refletidos entre os jovens, como a sustentabilidade, a fraternidade, o diálogo e a empatia como construtores de futuro, Oksana entende serem esses os temas principais, “correspondentes aos ensinamentos do Papa Francisco” e explica que os participantes russos têm o desafio de “prestar atenção ao que a Igreja oferece para refletir neste momento”.

A participação na JMJ Lisboa 2023 surge como uma etapa para o encontro da juventude russa, marcado para 23 a 27 de agosto, em São Petersburgo.

“Espero que o encontro de Lisboa inspire de tal forma os nossos jovens participantes que eles desejem levar esta experiência mais longe e partilhá-la com outros jovens. Por experiência própria, posso dizer que só quando nos esforçamos realmente por transmitir uma coisa é que ela se instala e cria raízes em nós. Por isso, quero que a nossa viagem a Lisboa se transforme numa peregrinação que não termina, numa mensagem que todos queiramos continuar a viver e a transmitir”, reconhece.

A responsável dá ainda conta que o grupo dos jovens procurou fazer uma preparação “espiritual” a partir dos “materiais do catecismo RiseUp”.

“Estes encontros atraíram alguns amigos da juventude ortodoxa e começámos a discutir a nossa experiência espiritual em conjunto. Agora estão a rezar pela nossa viagem e pelo evento, o que é uma grande alegria. Já estamos a pensar em continuar os nossos encontros no outono, depois de todos os eventos terem terminado”, regista.

O presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, D. Américo Aguiar, disse durante uma visita à Ucrânia que a organização está a tentar que todos os inscritos da Rússia consigam participar, mas descartou um eventual “gesto simbólico”, entre delegações dos países em guerra.

“Temos de entender que era bonito colocarmos no mesmo encontro jovens ucranianos e russos, mas o que eu ouço aqui é que ainda é cedo para isso acontecer”, declarou aos jornalistas.

LS/OC

JMJ 2023: Grupo de 18 peregrinos da Rússia vai participar na JMJ

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