Leigos apoiam sacerdotes em paróquias rurais

Presença de jovens promove celebrações da Palavra em localidades distantes da cidade A ausência de sacerdotes, a distância dos centros urbanos, o envelhecimento da população pede novas formas de presença, quer de leigos quer também de sacerdotes. A vontade do anúncio foi o primeiro passo para que o grupo Magis se dirigisse a D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, e se disponibilizasse para ajudar. O grupo «Magis» nasceu no Centro Académico de Braga em 2005 e, com base numa espiritualidade inaciana, é composto por leigos “que têm uma exigência espiritual e por isso querem estar onde a Igreja institucional não se faz presente”. Margarida Corsino, responsável pelo grupo explica à Agência ECCLESIA que os leigos, maioritariamente jovens entre os 20 e os 30 anos, são “pessoas que já se encontraram com Jesus e percebem que esse encontro transformador nos pede algo mais”. Leigos normais, com vidas normais e que querem viver “uma experiência de leigos na vida diocesana corrente”. Seguindo este desejo, foram desafiados pelo Arcebispo de Braga, a trabalhar nas paróquias distantes do centro urbano. Oito leigos, na Páscoa de 2005, rumaram a Abadim, Cavez, Pedraça e Riodouro, quatro localidades de Cabeceiras de Basto, para juntamente com os sacerdotes José Augusto e Jorge Agostinho, dinamizarem a população. “São os sacerdotes que estipulam o que é necessário fazer”, indica Margarida Corsino. A celebração da Palavra, dinamização de momentos de oração em várias comunidades, visita aos que estão sós ou doentes, orientação de retiros para jovens e “estar simplesmente com as pessoas, porque são locais isolados e a presença de jovens é importante”, ocupa o fim-de-semana mensal. Em locais onde a Eucaristia é celebrada uma vez por mês, “tentamos que pelo menos, mais um fim-de-semana, as pessoas se reunam à volta da Palavra”, indica a responsável pelo grupo. Desde 2005, inicialmente oito, presentemente 16 pessoas, marcam presença um fim-de-semana por mês, nestas localidades. Deixar hábitos Pe. José Agostinho, um dos sacerdotes responsáveis pelas paróquias, explica que as pessoas estavam habituadas a rezar exclusivamente com a presença do padre. Agora, “percebem que com a presença de leigos formados, as pessoas podem reflectir e rezar de igual forma”. Se inicialmente as tradições estavam muito enraizadas, a pouco e pouco, foi-se registando uma mudança. “A presença de leigos em celebrações foi sendo reconhecida e valorizada”, indica. “Em tudo o que é novidade, há pessoas que se adaptam melhor que outras”, reconhece o sacerdote, indicando que as faixas etárias nestas localidades são altas. “Mas a receptividade foi boa e em época de férias, já se percebe a expectativa para recomeçar as celebrações”. Este é um trabalho que em nada substituiu o papel do sacerdote. Margarida Corsino regista que as comunidades foram preparadas e sabiam que “íamos em nome da Igreja e desejávamos completar os serviços do sacerdote”, aponta, um factor que “facilitou a nossa integração”. Afastados dos centros urbanos, “o que para nós é tão comum, podermos aceder aos serviços a qualquer hora, para algumas pessoas isso não acontece”, indica Margarida. A população reconhece a importância da Eucaristia “mas as pessoas já perceberam que não sendo possível esta é uma boa forma de viver a sua fé”. Margarida Corsino indica que este trabalho é parte crucial do caminho de um leigo. A disponibilidade que o sacerdote não tem é colmatada pela missão e responsabilidade de um cristão leigo. Preparar animadores Ao longo dos três anos “o trabalho foi evoluindo” e neste momento “estamos mais próximo do que nos é pedido”, adianta a responsável do grupo. Durante o período de férias, a população “pediu se não poderíamos deixar algo para eles continuarem as reflexões”. Exemplo que “as pessoas percebem que se podem juntar sem estar o sacerdote e elas mesmo dinamizam esses momentos”, sublinha. O grupo acredita que daqui a dois anos deixará esta localidade, rumo a outro local, “tendo deixado animadores locais de comunidades”. Opinião partilhada pelo sacerdote que explica que a aceitação é sinal de que as comunidades também devem mudar. As quatro paróquias têm muitos centros de culto e as pessoas “estão habituadas e celebrar eucaristia semanalmente”. No entanto, a falta de sacerdotes e a sobrecarga de trabalho nas localidades impede “as celebrações assíduas que as pessoas estavam habituadas”, reconhece o Pe. José Agostinho. O grupo Magis “ajuda a colmatar essa necessidade” ao mesmo tempo que mostra que “existem outras formas de cultivar a fé”. Cabeceiras de Basto é uma zona envelhecida. O pároco dá conta que os poucos jovens locais, acabam ir estudar para as universidades nos centros urbanos e por ai ficam ou emigram. “Os que ficam vão envelhecendo e carecem da presença de jovens”. O bom acolhimento que os mais velhos prestam é sintoma da alegria que sentem com a presença juvenil. “A presença dos jovens é incentivadora e rejuvenesce”. Repensar o trabalho de leigos e sacerdotes Paralelamente ao trabalho nas localidades distantes do centro urbano, o Magis iniciou o processo de catequese de adultos, na paróquia de São Lázaro. “Ao longo de 10 serões, distribuídos por todo o ano, trabalhámos as interrogações de fé, a Eucaristia, de forma a que também pudéssemos partilhar o que mexe connosco e despoltar noutros as mesmas inquietações de missão”, explica Margarida Corsino. Esta responsável indica a urgência de leigos e sacerdotes “conversarem sobre a melhor forma de ambos desempenharem os seu papeis, sem substituições”. Margarida aponta que “seria muito bom que daqui a uns anos mais pessoas fizessem este trabalho, pelo bem que fazem aos outros e a si mesmas”. O grupo espera poder participar numa reflexão “a nível diocesano sobre o desafio que é colocado à Igreja de recuperar esta ligação entre a fé e os lugares do humano, com espaço a cada um – rural, citadino, artístico, cultural, económico”.

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