Leigos à prova

Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

O documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium, dedica todo o capítulo IV aos leigos: conceito, apostolado, testemunho, integração na hierarquia são abordagens seguidas para desafiar ao compromisso de todos no “crescimento da Igreja” e na “sua contínua santificação”. E para definir a identidade e missão específica que lhes é devida, no conjunto da comunidade crente.

A constituição conciliar adota, por uma só vez, a declaração “os leigos são” para referir os locais e as circunstâncias em que espontaneamente devem viver de acordo com a proposta do Evangelho. Cerca de 25 anos depois, e após um Sínodo dos Bispos em que o tema foi a vocação e missão dos leigos na Igreja, o Papa João Paulo II escreve uma Exortação Apostólica, Christifideles Laici, onde referência à identidade e compromisso laical no conjunto dos dinamismos eclesiais acontece de forma predominantemente afirmativa. Insiste-se em nove ocasiões no asserto “os leigos são” para declarar positivamente a missão e o testemunho que faz parte da sua identidade.

A memória de elementos normativos sobre o protagonismo laical acontece quando se assinalam 50 anos de documentos estruturais da Igreja Católica, nomeadamente a Lumen Gentium e todos os que o Concílio Vaticano II aprovou, e num contexto em os leigos em Portugal são chamados a novos desafios. Não para inaugurar a participação em estruturas de decisão na comunidade católica, tanto a nível nacional como diocesano, mas para acrescentar, em número e em qualidade, essa corresponsabilidade que compromete todos os batizados no testemunho e no anúncio do viver segundo a proposta de Jesus.

A presença de leigos em estruturas eclesiais, como colaboradores, técnicos ou dirigentes, é um facto com história. Organismos pastorais, sociais, educativos e também de comunicação social, por exemplo, demonstram-no! Mas não deixa de ser significativo que metade das nomeações saídas da última Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, uma dúzia, tenham sido confiadas a leigos. Sobretudo porque incluem serviços de coordenação em estruturas da Igreja dependente do episcopado até agora predominantemente confiadas a clérigos.

Ver aumentado o número de leigos entre os colaboradores e dirigentes dos organismos da Conferência Episcopal Portuguesa é uma forma de integração laical na hierarquia. É sobretudo um momento que coloca cada um à prova, como deveriam estar todos os que participam em qualquer projeto.

No contexto eclesial, como em todos, o que é necessário fazer tem de ser sempre bem feito!

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