Lei da Separação dividiu o Partido Republicano

Problemáticas da I República analisadas à luz do Boletim do Algarve (1911-12)

A publicação da Lei da Separação das Igrejas do Estado (20 de Abril de 1911) gerou “discussão” e “conflitos”, mesmo no seio do republicanismo, defendeu esta Sexta-feira Luis Filipe Marques, da Faculdade de Letras de Lisboa.

Falando no Congresso Histórico Internacional “I República e Republicanismo”, na Assembleia da República, o especialista analisou a questão religiosa e a Lei da Separação das Igrejas do Estado através do Boletim do Algarve (1911-12).

Este órgão de imprensa católica regional escreve que a lei “é espoliadora, opressiva e afrontosa”.

À volta da Lei da Separação travaram-se “acessos conflitos” que acabaram, internamente, por dividir o próprio Partido Republicano.

O orador sublinhou também que o Bispo que administrava a diocese do Algarve no momento da implantação da República (5 de Outubro de 1910), D. António Barbosa de Leão, escreveu que a Lei “ofendia e vilipendiava a Igreja e os seus ministros”.

No painel sobre «República e Religiões», Luis Filipe Marques esclareceu que os campos se extremavam porque “cada lado procurava-se saber quem eram os apoiantes e os opositores”.

Com a implantação da República e a Lei da Separação, os bispos portugueses tornam-se “cada vez mais cáusticos nas suas opiniões”, disse.

Com as medidas tomadas, D. António Barbosa de Leão lamenta que “o clero esteja na miséria”. Apesar das ajudas, o rendimento do clero era “insuficiente”.

A maioria dos bispos “são afastados das suas dioceses”, porém “apesar de desterrados continuam a exercer o seu múnus apostólico à distância através da correspondência que mantinham com o vigário-geral da diocese”.

A 6 de Janeiro de 1912, o ministro da justiça, António Caetano, enviou uma circular onde “interditava D. António Barbosa de Leão de residir na sua diocese por dois anos”.

O clero algarvio organizou uma romaria ao paço episcopal em solidariedade com o seu pastor. “Segundo o bispo, a decisão [do ministro] deveria reverter em favor da religião e da fé”.

De Coimbra, o Centro Académico Democracia Cristã (CADC) criticava as atitudes governamentais e “declarava o seu apoio ao bispo do Algarve”.

D. António Barbosa de Leão não se vergava e escreveu ao Presidente da República da altura: “O Estado entrou na Igreja e lançou algemas a todos os seus membros”.

O Boletim do Algarve foi, nos anos de 1911 e 1912, “o arauto e a voz de um clero ameaçado”. Este órgão de imprensa católica “denunciou os avanços do laicismo”, concluiu Luis Filipe Marques.

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