Professor universitário assinala que conjuntura geral das eleições foi de «um certo medo» e analisa a nova composição parlamentar
Lisboa, 02 fev 2022 (Ecclesia) – O professor universitário José Miguel Sardica afirmou que a soma do voto em consciência e do voto útil ditou a escolha pelo “conhecido”, a esquerda “pagou” o chumbo do orçamento e direita vai revelar-se como reformista ou demolidora.
“A conjuntura geral das eleições foi de um certo receio, de um certo medo, de um certo imobilismo. Ou seja, o eleitorado que votou PS, muitos votaram convictamente e acho que houve um fenómeno de convergência, que foi a diferença entre 2019 e 2022”, disse hoje em declarações à Agência ECCLESIA.
O professor da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), assinala que quem causou a queda do executivo, “ao chumbar o seu orçamento em 2021, pagou agora esse custo”, nomeadamente a CDU – Partido Comunista e Verdes, e o Bloco de Esquerda (BE).
Para José Miguel Sardica, o PS beneficiou de “um sentimento de um certo cansaço e de temor” de dois anos de pandemia, eleições em 2019, “a perspetiva, se calhar, de um Governo minoritário”, para mais um ano e meio ou dois.
“Terá assustado suficientemente o eleitorado para ter apostado na continuidade, num misto de segurar aquilo que existe. Falou-se muito sobre a saúde, as pensões, sobre aumentos. Para muitas pessoas foi continuar com aquilo que já é conhecido, mesmo que não fosse se calhar a melhor opção. Cada um dirá de si se o seu voto foi em consciência ou se foi voto útil”, desenvolveu.
Neste contexto, o professor universitário considera que “a soma do voto em consciência e do voto útil” materializa um fenómeno de António Costa, que “era o conhecido, era o existente, era o espectável”, alguém com experiência, que tem um programa de governo feito, “um orçamento que exibiu ostensivamente nos últimos 15 dias” e que, “talvez agora, possa estabelecer um rumo de governação que seja reformista”.
O historiador refere uma maior absoluta, que o Partido Socialista ganhou nas eleições deste domingo, “comporta riscos” mas a esperança é que possa ser a plataforma que “o PS precisa para realizar algumas reformas na justiça, na saúde, na Segurança Social, numa política de família”.
O Chega, que passou de um para 12 deputados, e a Iniciativa Liberal, que aumentou de um para oito eleitos, vão ter na próxima legislatura “o seu teste de força”, se “são epifenómenos, que tiveram a sua oportunidade nas eleições em 2022 e a desperdiçaram” ou têm projetos políticos que através da montra parlamentar se sedimentam ou não”.
“Se a Iniciativa Liberal é capaz de capitalizar uma opinião e Direita moderada, de liberalismo, de emancipação da sociedade civil, de oferta aos jovens de uma perspetiva de futuro, não populista mas claramente não socialista; se há hipótese de termos um projeto liberal a sério. No caso do CHEGA contribuirá para uma política reformista ou será apenas um partido demolidor”, exemplificou.
Segundo José Miguel Sardica, a derrota eleitoral do PSD deve-se ao facto de “não ter aproveitado um vento de opinião que soprava que era não socialista”, e ter abandonado o “não-socialismo à sua sorte, à IL e ao CHEGA”.
A partir das eleições legislativas deste domingo, onde o PS ganhou com maioria absoluta e a abstenção diminuiu, que é “um dado importante, interessante”, o professor da UCP começou por deixar o “alerta” que a “chamada ciência das sondagens tem que rever os seus métodos” porque o país pronunciou-se num sentido que “as sondagens não deixavam antever”.
“Ou as sondagens estão a ser tecnicamente mal feitas ou há um problema mais grave: estão profundamente divorciadas em relação àquilo que é o sentimento da nação em geral”, indicou.
LS/CB/PR