Legado de Madre Teresa: o sorriso na «casa do moribundo»

No dia em que se comemora o centenário do seu nascimento, recordamos as origens da obra da Beata de Calcutá

Nirmal Hriday, a «Casa do Coração Puro» ou, como é conhecida em Calcutá, a «Casa do Moribundo», foi a primeira casa de acolhimento criada por Madre Teresa, em 1952, para tratar dos moribundos que via abandonados nas ruas de Bengala.

O nome não podia ser mais simbólico, já que Nirmal Hriday está localizada junto ao templo de Kali, a deusa hindu da morte, em Calcutá.

A irmã Glenda é a actual Superiora da instituição e refere à AsiaNews que a casa foi “o primeiro amor de Madre Teresa, tendo estado na origem da congregação das Missionárias da Caridade”.

Aquela responsável, de 57 anos, integra a congregação desde 1977 e foi chamada há 5 anos para cuidar do projecto de Nirmal Hriday.

“Comigo são 5 as Missionárias da Caridade que trabalham aqui, e partilhamos o trabalho com diversos voluntários e pessoal qualificado” revela a irmã Glenda.

Alguns desses voluntários dedicam grande parte da sua vida à instituição, e há mesmo casos em que a vontade de ajudar ultrapassa tudo, até o tempo e o desgaste físico.

Exemplo disso mesmo é o casal Agarwalla, que colabora com a casa de acolhimento desde os tempos de Madre Teresa.

“O senhor Agarwalla, de 85 anos, ajuda-nos com os doentes, enquanto que a sua esposa, de 77, faz os registos de entrada”, explica a irmã Glenda, acrescentando que “os doentes recebem-nos todos os dias com alegria”.

A senhora Agarwalla fala inglês, hindi, bengali e rajasthani, o que faz com que consiga comunicar com a maior parte dos doentes.

“Muitos abrem o seu coração para ela, e ela fala para eles com ternura”, revela ainda a responsável de Nirmal Hriday.

Em 1989 a fundadora estimava que já tinham passado pela instituição mais de 54 mil pessoas, segundo avança a agência AsiaNews. Quase metade desse número não resistiu às maleitas que trazia das ruas, mas puderam morrer em paz.

“Morrer em paz, no amor de Deus, é algo de maravilhoso ”, dizia Madre Teresa. Quanto aos doentes que conseguiam sobreviver, a missionária destacava o momento da reunião com os familiares como “algo de realmente belo”, um momento de verdadeira alegria”.

Actualmente, Nirmal Hriday acolhe 110 pessoas, que padecem de vários tipos de doenças graves, como a SIDA, o cancro e a tuberculose. A casa alberga ainda pessoas com outros tipos de doenças, que estavam abandonadas nas ruas.

O facto de a instituição católica fazer parte de um templo hindu pode levar a pensar que foi difícil manter um equilíbrio saudável entre as duas partes.

A irmã Glenda diz exactamente o contrário: “Os proprietários são todos hindus e nunca nos causaram problemas. Madre Teresa era muito amada e respeitada pelos hindus. As bênçãos que resultam do nosso trabalho aqui são para eles”.

13 anos depois da morte de Madre Teresa, ainda se consegue sentir a sua presença em Nirmal Hriday. A “Mãe”, como é carinhosamente tratada, ainda tem o seu pequeno quarto, intocável, no primeiro andar da instituição.

“É um quarto pequenino, com um gabinete, uma mesa e uma cadeira”, refere a irmã Glenda.

São muitas as pessoas que, ainda hoje, fazem daquela divisão um local privilegiado de oração.

A obra de Madre Teresa, que começou com a «Casa do Coração Puro», multiplicou-se por todo o mundo.

Em 1997, a Beata de Calcutá partiu, deixando um legado de mais de 600 casas de acolhimento, para os pobres, órfãos, doentes e moribundos, espalhadas por cerca de 100 países.

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