Laudato Si: Uma encíclica sobre a natureza e sobre o sofrimento – Frei Hermínio Araújo

Religioso franciscano comenta texto de referência do atual pontificado

Covid
Foto: Lusa

Lisboa, 25 mai 2020 (Ecclesia) – Frei Hermínio Araújo, religioso franciscano, disse que a morte “corre o risco de ser só um número” na pandemia de Covid-19, recordando que a encíclica ‘Laudato Si’’ se inspira no ‘Cântico das Criaturas’ um poema com a “dimensão do sofrimento”.

“O subtítulo da encíclica ‘Laudato Si’ é sobre o cuidado da casa comum e diria sobre o sofrimento: cuida-se da casa comum estando muito atentos também a todas as experiências de sofrimentos, esta pandemia traz sofrimento”, referiu à Agência ECCLESIA.

Frei Hermínio Araújo explicou que o sofrimento está no ‘Cântico das Criaturas’ de São Francisco de Assis e na encíclica do Papa Francisco “está nas entrelinhas”, remete para apelo “à compaixão”, o cuidado no sofrimento, a experiência na angústia existencial”.

Numa entrevista pelos cinco anos da assinatura da encíclica “‘Laudato Si’ – Sobre o cuidado da Casa Comum” assinalados na pandemia do nivi coronavírus, o frade franciscano alerta que “há lutos que ainda estão por fazer”, e exemplifica “na experiência dos que partem, muitas vezes afastados dos seus, sem se despedir”, e dos que ficam “sem se despedir”, por isso, “há lutos complicados que estão a surgir”.

Basta pensar naquela família que vê um familiar sai de casa porque ficou infetado, vai para o hospital, morre. A família só tem contacto com o ente querido nas cinzas e há situações assim, muitas. Basta pensar nesta realidade para perceber que estão ali reunidas condições para ser um luto complexo, problemático e nalguns casos patológicos”.

Neste âmbito, frei Hermínio Araújo recordou a “espécie de quase de mantra da pandemia” ‘vai ficar tudo bem’ que, “felizmente, agora já está praticamente ultrapassado”, por que “há muita coisa que não fica bem, há muita coisa que não está bem, tudo menos bem”.

Para o “guardião” (responsável) do Convento de Varatojo não se pode “ir para o terreno para fazer de uma forma diferente as mesmas coisas” e destaca que é preciso “criatividade” para procurar “coisas diferentes”.

“Sobretudo, sermos pessoas diferentes para encontrarmos a melhor saúde para todos, a melhor harmonia para todos, precisamos da ritualização da morte, os rituais estão praticamente vedados, há pouca ritualização, e somos seres de rituais”, acrescentou.

Da experiencia de mais de 20 na área da saúde – saúde mental e cuidados paliativos – destaca “duas lições”, a primeira “mais ligada à saúde mental e psiquiatria” é que é preciso “levar muito a sério o sofrimento”, com “escuta ativa”, uma “atitude empática e compassiva” e a segunda lição, a partir dos cuidados paliativos, “é descomplicar”, “o grande exercício do realismo”.

“A ciência tem uma determinada linguagem, a poesia tem outra linguagem. A poesia não diz apenas as mesmas coisas de forma diferente, diz outras coisas. Nós precisamos de poesia para o sofrimento, o ‘Cântico das Criaturas’ nasceu num contexto de grande sofrimento, talvez a etapa de maior sofrimento na vida de Francisco, remete para a experiência do cuidar, da compaixão”, contextualizou, assinalando que a última palavra no poema do fundador do Franciscanismo “é humildade”.

A encíclica ‘Laudato Si’ foi assinada pelo Papa Francisco há cinco anos, a 24 de maio de 2015, Solenidade de Pentecostes, e divulgada no dia 18 de junho e frei Hermínio Araújo salienta que o conceito de “ecologia integral” do documento é para todas as dimensões, “todas as expressões da vida débil, da vida frágil, da vida ameaçada”, é a terra e os pobres porque “os pobres são terra”.

PR/CB

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Agência ECCLESIA

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