Jubileu: Irmandades promovem sentido de comunidade e testemunham «marca portuguesa» no mundo – padre Vítor Ramos

Especialista participou na procissão que levou imagem do «Cristo de Mafra» pelas ruas de Roma

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Roma, 17 mai 2025 (Ecclesia) – O padre Vítor Ramos, autor de uma tese sobre irmandades e confrarias, disse hoje que estas instituições promovem o sentido de comunidade e testemunham a marcar portuguesa no mundo.

“São presença da Igreja no mundo, pelas suas procissões, pela cultura que transmitem e que guardam, que encarnam em cada contexto, pela caridade que realizam, pela vida que transmitem. Numa sociedade tão individualista, o fator comunitário, comunidade, de ser irmãos, de se sentir irmão, é muito importante. Eu penso que o que falta sempre é a valorização da dimensão comunitária, fraternal”, referiu o sacerdote da Diocese do Porto, em declarações à Agência ECCLESIA, por ocasião do Jubileu das Irmandades que decorre no Vaticano, um evento integrado nas grandes celebrações do Ano Santo 2025.

Irmandades e Confrarias de Portugal, Espanha, França e Itália levaram hoje imagens e tradições de muitos séculos, numa procissão inédita pelas ruas de Roma, para assinalar a sua celebração jubilar no Ano Santo 2025.

Perante dezenas de milhares de pessoas reunidas nos espaços junto ao Coliseu e ao Circo Máximo, a procissão maior do evento foi aberta pela imagem do Santíssimo Cristo de Sexta-feira Santa de Mafra, transportada pelos membros da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento.

“A Igreja, nas últimas décadas, tem prestado muita atenção à piedade popular, aliás o Papa Francisco tinha-a como uma das suas prioridades pastorais, renovada agora pelo Papa Leão XIV. As confrarias e irmandades são associações que há vários séculos são promotoras da evangelização em vários campos, no culto, na caridade e na vida fraterna. São associações de leigos, são laboratórios da Igreja em diálogo com o mundo”, refere o entrevistado.

“São também concretização de uma Igreja, sinodal, de participação, porque as associações de fiéis assentam na base desta participação e envolvimento de todos”, acrescenta.

Nós, em Portugal, ainda vivemos num período de pouca atenção às nossas confrarias e irmandades. Há exceções, há honrosas exceções, por esse Portugal fora, mas temos de prestar mais atenção”.

O padre Vítor Ramos sustenta que, nas imagens e devoções que dão vida a estas associações, se vê a “fé inculturada”, na expressão do “povo simples”.

“Tem uma dimensão muito expressiva, muito emocional, até folclórica, digamos assim, mas por isso envolve e mobiliza, aponta.

O investigador destaca o impacto da missionação portuguesa, que levou confrarias e irmandades a “todo o mundo”, com as respetivas devoções, como acontece hoje com a procissão do Senhor dos Passos, em Macau e Goa, ou na própria América do Norte.

“É uma religião popular e é o povo de Deus que se organiza na prática do culto e na prática da caridade. É o grande papel das irmandades e confrarias, nalguns países com uma dimensão juvenil muito grande”, refere.

“Eu penso que isso é muito importante. Em Portugal temos também de relançar as nossas confrarias e irmandades”, acrescenta.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

O sacerdote foi um dos quatro novos irmãos admitidos esta manhã na Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra, na igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma.

Já na segunda-feira, no Colégio Pontifício Português, vai decorrer uma sessão de apresentação do livro ‘As confrarias e irmandades no direito particular português: história, direito e missão’, do padre Vítor Ramos, com prefácio de D. Rino Fisichella, pro-prefeito do Dicastério da Evangelização (Santa Sé).

A obra surge da tese de dissertação de licenciatura canónica em Direito Canónico que o autor defendeu na Universidade Pontifícia de Salamanca.

OC

Ano Santo 2025: Procissão inédita levou emoções da Semana Santa ao Jubileu, em Roma (c/fotos)

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