Jubileu 2025: «Tecnologia recompensa a mentira», alerta Nobel da Paz 

Maria Ressa falou em encontro dedicado à comunicação, no Ano Santo 

Foto: Ricardo Perna/Diocese de Setúbal

Cidade do Vaticano, 25 jan 2025 (Ecclesia) – A jornalista filipina Maria Ressa, prémio Nobel da Paz, disse hoje no Vaticano que a “tecnologia recompensa a mentira”, apelando ao compromisso dos profissionais da comunicação em defesa da verdade. 

“Sem factos, não se pode ter verdade, sem verdade não se pode ter confiança”, indicou a diretora da plataforma ‘Rappler’, no Auditório Paulo VI. 

O Vaticano recebe até domingo cerca de 9 mil jornalistas de 138 países, para as celebrações do Jubileu da Comunicação, o primeiro grande evento do Ano Santo, incluindo uma delegação com dezenas de portugueses.  

Ressa destacou a oportunidade do Jubileu como forma de celebrar valores que unem as pessoas como “comunidade global”, num mundo dominado por micronarrativas de “medo, raiva e ódio”. 

A Nobel da Paz, que foi presa pelo governo filipino, realçou que a violência online é “violência no mundo real”, sustentando que as redes sociais foram transformadas numa “arma de engenharia comportamental em massa”. 

A intervenção, que foi saudada pelos presentes com uma ovação em pé, deixou denúncias ao papel das “big tech”, para realçar que as guerras são hoje combatidas com “algoritmos, desinformação e a destruição sistematizada verdade”. 

A jornalista falou ainda da importância das religiões, neste contexto, pelos seus valores éticos e pela sua “voz profética”. 

A intervenção concluiu-se com quatro apelos aos profissionais presentes, para que “colaborem”, falem com “clareza mortal”, protejam “os mais vulneráveis” e “reconheçam” o seu poder. 

“A esperança não é passiva, é ativa, incansável e estratégica”, concluiu. 

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, da Santa Sé, inaugurou o encontro, apelando à “comunicação entre pessoas e não entre máquinas”. 

Num mundo em guerra, marcado pela desinformação, é importante “partilhar histórias”, acrescentou. 

Colum McCann, escritor e cofundador da rede ‘Narrative 4’, foi o outro conferencista da manhã, alertando para a “epidemia de solidão e isolamento” que se vive na atualidade.  

“Não podemos amar o próximo, porque o nosso único próximo somos nós mesmos”, lamentou. 

O autor observou que “o medo vende” e que negar a história do outro é negar a sua existência. 

“As nossas histórias interessam, podem mudar o curso da história”, indicou. 

Foto: Ricardo Perna/Diocese de Setúbal

Colum McCann apresentou a história de dois pais, um israelita e outro palestino, que perderam filhas no conflito, como exemplo de “peregrinos de esperança”, porque foram capazes de se “entender”. 

O programa deste sábado começou com uma peregrinação, na Avenida da Conciliação, para atravessar a Porta Santa, antes do encontro com o Papa, num programa com várias iniciativas religiosas e culturais.  

O Jubileu do Mundo da Comunicação começou esta sexta-feira, na Basílica de São João de Latrão, com uma liturgia penitencial seguida da Missa internacional da festa de São Francisco de Sales, presidida pelo cardeal Baldo Reina, vigário-geral da Diocese de Roma.  

A celebração teve uma relíquia do santo, padroeiro dos jornalistas, em exposição. 

“O Jubileu é um tempo de misericórdia para todos. É um tempo em que revemos a nossa vida, não tanto à luz dos pecados que cometemos, mas sobretudo com a força da misericórdia de Deus”, sublinhou o cardeal Reina, na sua homilia, sublinhando os apelos do Papa para ser “comunicadores de esperança” e “desarmar a comunicação”. 

Esta tarde, vários locais de Roma acolhem a iniciativa ‘Diálogo com a cidade: encontros culturais e espirituais’, encontros – na sua maioria abertos ao público – para abordar o tema da relação entre a Comunicação e a Igreja.  

A Santa Sé promove ainda o encontro ‘Unir os comunicadores para um caminho comum”, iniciativa dedicada a um grupo de 150 jovens profissionais da comunicação provenientes de mais de 60 países, incluindo Portugal.  

O programa do Jubileu da Comunicação encerra-se com a Missa presidida por Francisco, na Basílica de São Pedro, pelas 09h30, assinalando ainda o VI Domingo da Palavra de Deus.  

De 27 a 29 de janeiro vai decorrer a Conferência Internacional dos Comunicadores Institucionais Católicos, na qual participam 200 bispos, presidentes das Comissões Episcopais para a Comunicação e diretores dos gabinetes de comunicação de Conferências Episcopais e Institutos Religiosos.  

OC 

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