Jovens universitários católicos por uma sociedade mais solidária e participada

Leiria é a cidade anfitriã das próximas Jornadas dos Universitários Católicos, com início marcado para esta sexta-feira, dia 17, e a decorrer até Domingo na Escola Superior de Tecnologia e Gestão. Organizadas pelo Movimento Católico de Estudantes (MCE), e este ano em parceria com o Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior, as IX JUC’s, subordinadas ao tema «Redescobrir a cidadania, contributos para a mudança». Francisco José Marques Aguiar, 21 anos, residente na Gândara dos Olivais, estudante no 2º ano do curso de Marketing na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, é actual Coordenador no MCE na diocese de Leiria-Fátima. O semanário “O Mensageiro” foi ao seu encontro para perceber como podem os jovens universitários católicos contribuir para uma sociedade mais solidária e participada. O Mensageiro – O que é o MCE? Francisco José Marques Aguiar – O MCE surgiu há 25 anos, e é um movimento de acção católica que tenta unir a Igreja e a sociedade. Os traços fundamentais passam pela sua metodologia de trabalho. Baseamo-nos no método de revisão de vida – ver, julgar e agir – e todo o trabalho é desenvolvido através dessa metodologia. Começa essencialmente por pessoas que desenvolvem um trabalho numa equipa, uma equipa base de reflexão de vida, que reúne semanalmente procurando incidir nos conflitos que surgem no dia-a-dia com as outras pessoas. Os militantes reúnem-se para falar de temas actuais e pertinentes para eles, quer seja no sector do ensino básico e secundário, quer seja no sector do ensino universitário. Num ou noutro sector a metodologia a aplicar é a mesma, sempre à luz do Evangelho. OM – Como está estruturado? FJMA – O MCE está estruturado em várias plataformas – diocesana, nacional, europeia, e internacional – encontrando-se também filiado numa organização europeia, a JECI-MIEC, e numa internacional, a IYCS-JECI. A diocesana é constituída por um executivo diocesano que trabalha para promover momentos, encontros e actividades, para as equipas base e de iniciação que se vão formando nas escolas. Tentamos que essas equi-pas sejam formadas por pessoas que, integrando a mesma escola, possam fazer uma equipa, e a partir daí realizar um trabalho. O movimento encontra-se dividido em dois sectores: o SEBS (Sector dos Ensinos Básico e Secundário) e o SES (Sector do Ensino Superior), uma vez que se trata de duas realidades muitos distintas. Claro que podem também trabalhar em conjunto, e têm momentos em que isso acontece. OM – Como funciona? Como desenvolvem a pedagogia que seguem? FJMA – O movimento procura nas escolas pessoas que possam estar interessadas em participar. Tem actividades durante alguns fins-de-semana do ano, contudo é essencialmente reflexivo. Tenta reunir todas as semanas durante uma hora ou hora e meia, em equipas de 7 a 8 elementos, com pessoas da mesma faixa etária, que possam confrontar entre si os seus problemas, ambições e aspirações, para que depois de ver e julgar possam agir naquilo que são esses problemas e dificuldades, tentando encontrar uma solução em grupo ou individualmente. Claro que temos também projectos comuns que surgem não só para o movimento em si, como até mesmo para actuar na própria escola onde estão inseridos ou na sociedade. Temos ainda outro tipo de encontros onde se pretende que as pessoas possam interagir com outras realidades, onde pessoas de escolas diferentes possam partilhar ideias e perceber que há problemas comuns. Para além dos encontros de iniciação e formação, em que pretendemos que haja entrada de novos mi-litantes, e dos encontros diocesanos de sector, o ano de actividades culmina com um acampamento, onde se pretende que os militantes possam ter uma reflexão mais alargada e mais tempo de convívio. OM – Quem e como se pode aderir a este movimento? FJMA – O movimento, apesar de ser católico, é aberto a todas as pessoas. No entanto não deixamos de afirmar que somos católicos e que somos praticantes. E isso é fácil de perceber através da nossa metodologia. Como é que alguém pode aderir? Nós estamos presentes em várias escolas. Em Leiria o Movimento está presente nas escolas secundárias Afonso Lopes Vieira, na Domingos Sequeira, e na Francisco Rodrigues Lobo. A nível superior temos equipas na ESEL e também na ESTG. Não é um movimento que faça grande divulgação, até porque os contactos são mais a nível pessoal. É também possível chegar até nós na nossa sede, na Praça Rodrigues Lobo, onde reunimos e trabalhamos, e aí é mais fácil contactar-nos. O MCE não é um movimento de massas nem o procura ser. Baseia-se na criação de alguns momentos de qualidade, não procuramos tanto a quantidade. Há pessoas que não se enquadram, e isso é normal, mas de facto é um movimento que acaba por ser diferente porque não é popular. Também não é um movimento de elites, mas ainda não temos capacidade para acolher muitas pessoas. Claro que, porque também nos queremos dar a conhecer à sociedade, ao ensino, procuramos também fazer encontros abertos ao meio. É o caso das Jornadas de Universitários Católicos em que procura-mos que o meio conheça aquilo que é o movimento e o seu trabalho. OM – Qual a implementação do Movimento na Diocese? FJMA – Neste momento somos cerca de oitenta pessoas. Temos enfrentado alguns problemas, como é a falta de um Assistente nomeado. No entanto continuamos com números bastante bons para nós. Em termos de sectores, o do ensino superior tem cerca de 30 elementos, enquanto que o do ensino básico e secundário ronda os 50. Acabamos por ter sempre mais gente no sector do secundário que no superior, porque a maioria das pessoas que frequentam o secundário acabam por sair e por ir para outras cidades estudar. Esta é uma das características de Leiria. Acaba por haver uma certa descontinuidade, e ás vezes é difícil no ensino superior cativar as pessoas a participar neste tipo de espaço. OM – Essa é uma das dificuldades que enfrentam. Com que outras se debatem? FJMA – Talvez neste momento o que nos preocupa mais será a falta de um Assistente diocesano, pois de facto é uma pessoa que estará sempre presente nos nossos momentos, como são as reuniões do executivo. Depois há os problemas de sempre, como é a questão da rotatividade. É difícil cativar os estudantes do ensino superior a entrar no movimento. No básico e ensino secundário, como há aquela rotina das pessoas irem às aulas juntas, e existe uma turma mais específica, mais facilmente conseguimos abordar e cativar as pessoas. É mais fácil o processo. No ensino superior cada um tem um horário diferente, há pessoas que passam cá pouco tempo, que vêm às aulas e vão embora, não estão tão ligadas ou interessadas. Só com este tipo de actividades abertas ao meio é que poderemos conseguir cativar as pessoas, mas nem sempre é fácil porque existem, cada vez mais, montes de outras actividades extracurriculares que as pessoas têm: um desporto, uma tuna, actividades académicas, trabalhos em part-time, etc. OM – Há também um trabalho de continuidade com aqueles que vêm do sector do ensino básico e secundário, mesmo de outras ou para outras dioceses? FJMA – Sim. Quando temos militantes do secundário que vão estudar para fora, para Lisboa por exemplo, a nossa intenção é que eles cheguem lá e se integrem. E, por norma isso acontece. E quando há o sentido inverso nós também acolhemos essas pessoas, tentamos que elas reunam connosco, e participem nos espaços que nós propomos. O ensino superior em Leiria tem sofrido um crescimento maior nos últimos 3 a 4 anos, e passará a ser cada vez mais normal vermos estudantes do ensino secundário de Leiria a ficar no ensino superior em Leiria. Isso para nós é bom, pois começamos a ter uma certa continuidade. Neste momento estamos a reunir com pessoas que fizeram o caminho por este processo de transição do sector secundário para o superior. Desta forma, com uma base relativamente mais sólida, é mais fácil conseguir cativar outras pessoas e crescer. É isso que temos vindo a sentir: temos vindo a crescer no ensino superior em Leiria, gradualmente, dando passos firmes e estáveis. Queremos que as coisas levem o tempo necessário. Claro que não deixamos de tentar procurar aqueles estudantes que vêm de fora, e no que respeita à forma como chegamos a eles, temos vindo a mudar os processos, de modo que o MCE acabe por ser também um espaço onde se possam sentir acolhidos, percebendo que a cidade tem várias ofertas e propostas, e o MCE é uma delas. OM – Existe alguma ligação com o SDPJ, e/ou com outros sectores da Igreja da diocese? FJMA – Sim, nós procuramos manter uma relação relativamente próxima com o Secretariado da Pastoral Juvenil. Por exemplo, iremos à peregrinação diocesana a Fátima, uma actividade proposta por este secretariado, e na qual iremos procurar participar activamente, como fazemos todos os anos. Procuramos também estar atentos a outras propostas que o secretariado vai fazendo, e consoante a disponibilidade que temos vamos tentando participar. Nem sempre é fácil porque na Diocese nós (MCE) temos um calendário relativamente cheio. Procuramos ter actividades que preencham os desejos dos militantes, e ás vezes é difícil enquadrar mais actividades. OM – Como é que sentem o envolvimento da Igreja junto dos jovens universitários? Qual poderá ser, no futuro, o papel da Igreja no meio universitário de Leiria? FJMA – Em termos universitários existe também o Centro de Apoio ao Ensino Superior (CAES), que constitui uma outra proposta da Igreja. Penso que para que os jovens universitários sintam o apelo da Igreja, o caminho passará muito por este tipo de acções, em termos de acção católica. Ou seja, trata-se de as pessoas encontrarem o seu espaço dentro da Igreja. Há certamente muitas visões distorcidas daquilo que é a Igreja. E por isso, o CAES e a celebração dos jovens às 19h30, aos Domingos, na igreja do Espírito Santo, são uma proposta importante que a Igreja faz. O caminho passa muito por aí. Contudo é também necessário que os jovens procurem informar-se, e não dar aquela opinião básica e muito simplista de quem não sabe, e diz aquilo que ouve sem qualquer fundamento. Quando alguém diz “sou católico mas não sou praticante”, isso ao fim e ao cabo não existe. Não passa de uma desculpa, de uma falsa questão. Somos católicos porque assumimos esse desígnio, sentimos de facto que somos, porque acredita-mos em algo muito maior, ou então não somos. OM – Sabemos que estão na linha da frente da organização das Jornadas de Universitários Católicos, que vão acontecer este fim-de-semana, em Leiria. Como está a decorrer a organização? FJMA – Esta é uma das actividades abertas ao meio, em que procuramos dar a conhecer o Movimento ao meio estudantil. Está já tudo definido quer em termos técnicos, quer em termos logísticos. Espera-mos uma boa participação. Desde há vários meses que esta actividade vem sendo divulgada. Inclusive na Internet com blogs e com um site específico (www.redescobrircidadania.org), no qual havia propostas semanais para que as pessoas fossem desenvolvendo o seu pensamento crítico, e para que ao chegar às jornadas possam colocar questões aos oradores, discutir, e aprofundar ainda mais esta questão. A «cidadania» é um tema extremamente actual e muito vasto. As pessoas ainda não têm aquela percepção do que é a cidadania. Acho que é um tema muito interessante, e seja qual for a participação, penso que aqueles que participarem estão a dar um passo e um contributo muito positivo para no futuro perceberem que até nas pequenas coisas podemos mudar, podemos ser diferentes. E com isso contribuir também para o desenvolvimento do nosso país. Esperamos também que esta actividade possa despertar o interesse para o movimento, que traga aos estudantes do ensino superior um nome – Movimento Católico de Estudantes. Esperamos que de facto as pessoas fiquem com estas três palavras no ouvido, e que percebam que é uma proposta diferente, que faz sentido. OM – Quais as perspectivas futuras do movimento (a nível diocesano)? FJMA – Esperamos continuar a crescer dentro dos nossos valores, e dentro do nosso tipo de trabalho. Em termos de crescimento sentimos que, neste momento, estamos ainda um pouco abaixo dos valores que gostaríamos. Mas, com o trabalho que temos vindo a realizar, se conseguirmos equilibrar estes dois sectores, se conseguirmos que este sector do ensino superior cresça em termos numéricos e também em termos qualitativos, conseguiremos ter um sector mais forte e que acompanhe o bom trabalho que o secundário vai realizando.

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