Os “Jovens Sem Fronteiras” preparam-se para mexer na sua história. Até agora, todas as experiências missionárias foram realizadas em África. A primeira “Ponte” decorreu em Cabo Verde, em 1992. A partir desta data, realizaram-se ‘Pontes’ todos os anos, em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Em Agosto, a Ponte 2005, com o lema “Educação e Saúde ao serviço da Justiça”, vai ‘construir-se’ em S. Cristóvão de Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro. Pela primeira vez na história, os JSF avançam rumo á América Latina. S. Cristóvão é um contexto triplamente periférico. É periferia de Cabo Frio que é periferia de Niterói, que é periferia do Rio de Janeiro. Os Espiritanos ali chegaram em 1989 e ali trabalham hoje dois missionários espiritanos: o P. Luís Oliveira Martins e o P. António Laranjeira. Tive a oportunidade de visitar S. Cristóvão e ver, no terreno, as onze comunidades (algumas favelas) e o trabalho pastoral e social que ali se faz. A Pastoral da Saúde e da Criança A Paróquia apostou na Saúde e, com o apoio da APARF, construiu o centro pastoral com um espaço para atendimento médico e uma farmácia. Assim, todas as semanas há um médico que dá consultas a pessoas pobres e temos um banco de medicamentos para apoiar essa gente que não tem possibilidades de ir à farmácia. Depois, realizam-se acções de formação e intervenções nas comunidades do interior onde já foi erradicada a lepra e onde continua a ser importante dar algumas noções de saneamento, higiene,etc. Também a famosa ‘pastoral da criança’ investe muito no sector da saúde. As crianças são pesadas, as famílias são acompanhadas, há apoio alimentar alternativo para combater a desnutrição. Cada comunidade tem, mensalmente, a ‘celebração da vida’: as crianças são pesadas, medidas, distribui-se alimentação, faz-se festa, reza-se. ‘Fome Zero’ e ‘Cesta básica’ O programa ‘Fome Zero’, em si, faz todo o sentido porque há muita fome no Brasil. Mas o certo é que a miséria continua a aumentar, os resultados deste programa não se vêem. As duas Paróquias de Cabo Frio avançaram, há quatro anos, com o projecto ‘Natal de luz, Natal sem fome’. Faz-se um fim de semana de campanha, de casa em casa, nos media, recolhem-se alimentos para que nenhuma pessoa fique sem Natal. É que há muita fome, muito sofrimento, sobretudo nas favelas. Em 2003, juntaram-se 50 toneladas de alimento. No Natal, atenderam 1500 famílias. É bom saber que, durante anos a fio, Cabo Frio viveu das salinas. Agora o sal não dá quase nada. Há muito turismo, por causa das praias, mas o nível de vida sobe muito no verão e não desce durante o resto do ano. Na Paróquia de S. Cristóvão, o plano de luta contra a pobreza, ainda na linha alimentar, é o da ‘cesta básica’ que atenda 300 famílias por mês. Cada mês há a ‘Missa do Quilo’ em que os cristãos levam para a Eucaristia um quilo de alimentos. A pastoral social organizada O investimento mais emblemático da Paróquia na área social é o CEPASC (Centro de Promoção Social da Paróquia de S. Cristovão). Fundado no ano 2000, coordena toda a acção pastoral social, possibilitando negociar parcerias com o governo e a sociedade civil. O Estado não pode doar nada á Igreja, mas pode apoiar projectos sociais. Assim, a Paróquia passou a ter assento no Conselho Comunitário do Município. Temos uma advogada para defender a causa dos pobres, formação e defesa dos direitos humanos. Há uma psicóloga que faz um trabalho imprescindível num tempo em que há muitas pessoas afectadas psicologicamente. Ainda na parte da promoção humana, temos cursos de corte e costura, crochet, bordados onde se preparam trabalhos para uma exposição-venda. Há ainda pintura em tela e de imagens. O mesmo se diga na área da culinária e doçaria. Tudo formas de valorizar as pessoas. Devo dizer que, sobretudo no verão, há muita gente que ganha a vida a vender doces aos turistas, nas praias. Desde há algum tempo, temos uma parceria com uma Escola de Inglês. Desemprego e insegurança Há muito desemprego e, por consequência, alguma miséria. Nestes contextos, a droga chega em força e os assaltos são frequentes. Ninguém se sente muito seguro e pode ver-se que, mesmo não havendo muito dinheiro, todas as casas têm grades. O reforço da segurança é aposta geral. São tantos os crimes que não há espaço nas cadeias para todos os que são presos. Por isso, há o recurso habitual a penas alternativas e a Paróquia, através do CEPASC, tem acolhido pessoas que fazem trabalhos sociais para cumprir a pena a que foram condenados. O futuro do Brasil passa por três grandes metas que devem ter prioridade na actual realidade brasileira: – a erradicação da fome; o efectivo respeito dos direitos humanos para todos; o desenvolvimento sustentável que garanta a qualidade de vida á população e respeito pela ecologia. Projecto Ponte São 15 os participantes. Vêm de grupos JSF do Minho ao Algarve e representam as dioceses de Braga, Porto, Leiria-Fátima, Lisboa, Setúbal, Beja e Algarve. O Projecto incide nas áreas da saúde, Educação, Pastoral, apoio às crianças e aos jovens, Música, Comunicação Social e Direitos Humanos. Será um tempo de partilha da vida das populações de S. Cristóvão. Com uma certeza apenas: no fim de Agosto, todos estarão mais ricos.