Inês Gonçalves, Diocese de Lamego
Pediram-me para escrever. Entre linhas de pensamento, surgiu a frase “Ide por todo o Mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura.” (Mt 16, 15) e fez-me pensar no meu percurso até aqui, nas mudanças e dificuldades que nos rodeiam e na missão!
Vivemos numa altura onde parece que tudo está do avesso, onde, por entre gritos de revolta e medo, discórdia e guerras, a voz deste Deus que queremos seguir, surge baixinho, quase como um búzio cujo som do mar só nos alcança quando colocado ao ouvido. Há tanto a acontecer! Como posso eu e tu sentir e levar Aquele que é Amor, num Mundo que está ausente de Amor? Talvez possa fazer do quarto um búzio para O escutar, porém temos tantas vezes este tempo que não pára, que vai apressadamente e nos leva de arrasto. Mas porventura nem só de silêncio ou grandeza se faça este encontro com o Deus das coisas pequenas. E, olhando para o dia a dia, talvez possamos descobrir que Ele chega e se manifesta de forma suave, mas arrebatadora, através de tantas pessoas e em tantos momentos. Como é que algo pode ser suave e arrebatador ao mesmo tempo? Só mesmo o nosso Deus: simples, suave, mas capaz de nos desconcertar com o que tem para nos oferecer e, quando O descobrimos, não podemos mais deixar de O ver, mesmo no meio das tribulações, sabemos que Ele está. Quantos de nós, ao olharmos para a nossa vida, acreditamos que só com grandes feitos somos capazes de levar Jesus aos outros? Ou que somos demasiado incapazes nos nossos contextos, pequeninos ou não merecedores desta grande missão? Mas por vezes, o que nos impele nada mais é que este sentimento que nos preenche por dentro, tão grande que não dá arrumar nas gavetas do coração, e Jesus quer que também eu e tu, por entre falhas e quedas, cresçamos com Ele, aprendendo e compreendendo que Ele me quer e te quer mesmo assim na sua messe! Tantas e tantas vezes são os que nos rodeiam os búzios com a melodia serena. Tantas vezes os gestos simples, as conexões inesperadas, as mudanças que teimamos aceitar, são os búzios que levam dentro de si as surpresas da vontade de Deus. Tantas vezes sem me aperceber, sou eu o búzio que transporta o som de Deus para dar aos outros! Quanta graça de um Amor sem igual!
Olho para nós, jovens cristãos de hoje em dia, aparentemente frágeis, mas firmes graças às raízes. Como flores que tentam crescer para bem fundo onde, partilhando a mesma terra, acabam por se ligar e conseguir ser manto de beleza e cor neste Mundo injusto. É fácil sermos julgados pela nossa fé, pela vontade que temos em caminhar com Jesus, tentando alcançar a força necessária para remar contra esta maré que por vezes nos arrasta! Mas se há coisa que nos mantém é a certeza de que temos um Deus que não desiste de nos procurar e puxar para bom porto. São muitas as tribulações que nos rodeiam, as tribulações que nós próprios provocamos no nosso interior, mas é tamanha gratidão que sinto por, mesmo assim, poder encontra-Lo no caminho, através do inesperado e do belo, das experiências que por vezes parecem fazer-me tocar o céu! Também os discípulos se sentiram sozinhos e tentados por vezes, mas cheio do Espírito, foram capazes ser aquilo que Deus precisou que eles fossem: luz no Mundo! Hoje, somos nós esses discípulos da Luz que, com mais ou menos força, vamos tentando, sabendo que ao juntarmo-nos à luz do outro, a nossa ganha força!