JOC contra os «bonecos de produção»

Comunicado da Juventude Operária Católica Realizou-se no dia 12 de Novembro, em Braga, uma Conferência de Imprensa, com o objectivo de apresentar oficialmente aos órgãos de comunicação social, e através destes ao público em geral, a Campanha Nacional que a JOC – Juventude Operária Católica – desenvolve durante este ano pastoral, acerca da realidade da Precaridade e Instabilidade do Trabalho: “Trabalhador… Boneco de produção? Não”. Nesta Conferência de Imprensa estiveram presentes e tomaram a palavra a Presidente da JOC, Maria das Neves Jesus, o Doutor Silva e Costa, Professor de Sociologia na Universidade do Minho, e D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e Arcebispo da Diocese de Braga. A Presidente da JOC salientou alguns aspectos da origem e dinâmica do Movimento e elucidou acerca da importância e do contexto em que surgem as Campanhas Nacionais: “A JOC é um movimento especializado da Acção Católica. É um movimento de jovens inquietos e preocupados com a realidade que vivem. A missão da JOC é evangelizadora. Para a JOC o anúncio de Jesus Cristo é inseparável do compromisso e luta pela libertação e dignidade dos jovens do meio operário. O fundador da JOC, Cardijn dizia “ cada jovem trabalhador é protagonista da sua própria libertação”, deste modo a JOC procura que cada jovem assuma a sua vida de uma forma livre, consciente e responsável e descubra o seu lugar no mundo e na Igreja.(…)” “A Campanha Nacional é mais um meio de concretizar a luta pela libertação e dignidade dos jovens do meio operário. Assim sendo, de três em três anos o movimento todo a nível nacional escolhe uma realidade que seja preocupação dos jovens de todo o país, para ser objecto de Revisão de Vida, e durante um ano procura desenvolver um processo educativo e de evangelização que dê resposta à situação vivida e sentida pelos jovens. Diante problemas colectivos devemos oferecer respostas colectivas.” Relativamente à escolha desta realidade da Precaridade e Instabilidade do Trabalho, a Presidente da JOC, esclareceu que “nasce como preocupação da JOC devido à realidade laboral vivida no nosso país”, constatando-se “que os riscos de desemprego e a ameaça da precariedade atormentam, de uma forma geral, todas as profissões, idades e estratos sociais, constituindo um factor gerador de insegurança, descontentamento e enfraquecimento da solidariedade.” Alguns dos fundamentos desta escolha, bem como algumas pistas de reflexão acerca das causas e consequências desta realidade na nossa sociedade, foram deixados na intervenção do Doutor Silva e Costa, que considera a actual precariedade do trabalho como resultado da “falência das políticas económicas e do nosso modelo de sociedade”, que instauram nas sociedades modernas, como a portuguesa, “o culto do flexível, do precário e transitório”. Ainda segundo o Doutor Silva e Costa: “A economia capitalista globalizada baseia os seus índices de competitividade e de lucro na precarização crescente do vínculo laboral, na flexibilização das qualificações das carreiras e na separação da competitividade das empresas da respectiva responsabilidade social. A batalha da produção e os ganhos de produtividade, base da competitividade, é o novo evangelho de economistas, industriais, decisores políticos, etc., como se as regras do mercado global, a competição mundial, fossem a salvação da humanidade. São para alguns, para um pequeno número. Ninguém teria medo da globalização se ela trouxesse mais emprego, melhores salários e melhores condições de vida para todos. O desemprego estrutural (30%), o desemprego dos jovens (16%), a precarização do trabalho sem horizontes de vida, a pobreza galopante (2 milhões em Portugal), a exclusão urbana, etc. revelam que os benefícios da globalização são só para uma minoria. Para a maioria da sociedade é a degradação das condições de vida até à revolta e à violência.” Na sua intervenção, o Doutor Silva e Costa realçou alguns dados relativos à situação do têxtil e do Vale do Ave, região onde a JOC procurará reforçar a vivência desta Campanha, atendendo às condições particulares de precarização e instabilidade laboral, com efeitos graves na vida dos jovens e suas famílias, que aí se arrastam e se vivem há já vários anos: “o desemprego e a precariedade grassam de forma especial na região do Têxtil. Na última década, o sector perdeu 103 mil postos de trabalho. Actualmente temos cerca de 212 mil operários, maioritariamente do sexo feminino. Daqui a 5 anos, o sector terá ainda menos 83 000 postos de trabalho, ficando nos 139 mil.” Outros números do desemprego reafirmam o quão preocupante é esta realidade na vida dos jovens e o quanto os afecta e poderá vir ainda a afectar no futuro: “No distrito de Braga há, actualmente, cerca de 50 000 desempregados. Prevê-se que daqui a 3, 4 anos atinja os 75 mil. Se o desemprego nacional se situa nos 7,5%, no Vale do Ave essa taxa está nos 12% da população activa. A nível nacional o desemprego jovem entre os 15-24 anos está nos 15% O mais grave é que estes jovens, muitos deles afectados pelo insucesso escolar ou com formações inadequadas ao mercado de trabalho experimentam um sem número de barreiras para conseguirem um posto de trabalho, ainda que precário e mal remunerado.” No final da sua intervenção do Doutor Silva e Costa aponta o que considera ser algumas causas para a maior vulnerabilidade da sociedade portuguesa a esta realidade de precaridade e instabilidade: “modernização tardia e integração recente e acelerada nos mercados globais; reduzida dimensão do tecido industrial, sempre dependente de um Estado protector, de mão-de-obra abundante, de baixo custo e de mercados protegidos; população activa pouco qualificada, e muita da que é qualificada é-o de forma desajustada; a nossa classe industrial, também muita dela pouco qualificada, ainda não entendeu que as responsabilidades sociais e ambientais da empresa são para integrar na respectiva contabilidade e na luta pela competitividade”. O Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, também se mostrou preocupado com a crise que tem afectado o país, lamentando que “determinadas estatísticas não estejam a ser devidamente sublinhadas. Dá impressão que ainda vivemos com um pouco de verniz, que mais tarde ou mais cedo, vai começar a estalar perante situações de desigualdade e indignidade de vida”. D. Jorge Ortiga, salientou a importância da acção dos Movimentos como a JOC e desta Campanha Nacional em particular, recordando que “a Constituição Lumen Gaudium veio revolucionar a concepção sobre a Igreja. Esta já não pode ser vista apenas numa perspectiva hierárquica, mas como povo de Deus, que não assiste passivamente aquilo que os padres e os bispos vão realizando.” Nesse sentido “é missão da Igreja orientar a sua acção para o mundo que a circunda e para a vida, que pode ser mais ou menos digna, mais ou menos feliz. Importa, por isso, analisar e reflectir, mas também propor soluções e pistas de superações para a precariedade no trabalho e o desemprego”. É com base nestas e outras constatações que os jovens da JOC identificaram esta realidade da Precaridade e Instabilidade do Trabalho e a elegeram como mote da sua Campanha Nacional 2005/2006, que terá como principais objectivos: “consciencializar mais os jovens do movimento para a realidade da precariedade e instabilidade do trabalho, despertar os jovens para esta realidade e denunciar e dar a conhecer a realidade e propostas de solução”. Neste sentido, a Presidente da JOC sublinhou que “para não corrermos o risco de cairmos em subjectivismos, comprometemo-nos em centrar, de forma concreta, a nossa acção num local onde esta realidade se faça sentir mais, envolver os jovens trabalhadores desde o início na busca das causas e consequências desta realidade até ao momento de actuar no sentido da transformação, passando pelo aprofundamento a partir do Evangelho e Doutrina Social da Igreja e informar os jovens trabalhadores das conclusões e desafios a que se vai chegando em cada etapa, ao longo de toda a Campanha. Assim, para além de cada diocese escolher um campo de acção concreto para desenvolver o trabalho da Campanha Nacional, escolhemos a nível nacional a região do Vale do Ave, por sentirmos que neste momento é uma zona muito marcada por esta realidade”. Como sinal da caminhada que se irá fazer durante este ano, no dia 16 de Julho de 2006 realizar-se-á um grande Encontro de jovens trabalhadores, a realizar na cidade de Braga. Concluindo esta apresentação da Campanha Nacional, a Presidente do Movimento expressou o sentimento da JOC de “que não podemos continuar de braços cruzados pois muita gente está a sofrer. Jesus Cristo quando andou cá na terra trouxe um projecto de vida para acabar com o sofrimento e para trazer a felicidade a cada homem. Cabe-nos, como cristãos, tornar real esse projecto. Acreditamos e, por isso lutamos, que Jesus Cristo, o seu projecto, valores e opção de vida é a resposta e a solução a esta realidade que põe em causa a dignidade de cada jovem. Que o pensamento de Cardijn faça eco dentro de cada homem e de cada mulher “Cada jovem trabalhador vale mais que todo o ouro do mundo porque é Filho de Deus”.” Juventude Operária Católica Lisboa, 12 de Novembro de 2006

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