JOC alerta para a dificuldade dos jovens no mundo do emprego

A Equipa Nacional da JOC – Juventude Operária Católica – reunida nos dias 7 e 8 de Janeiro, realizou uma reflexão acerca da realidade da vida dos jovens do meio operário. A análise da realidade revelou que os jovens vivem actualmente várias situações de instabilidade e precaridade nas suas vidas, que tendem a reduzir-lhes os horizontes e limitam o seu crescimento e formação pessoal e social. Estas situações surgem de vários quadrantes da sociedade e têm consequências a vários níveis. Face a esta realidade, a Equipa Nacional da JOC reitera a importância de denunciar e lutar contra estas situações, no sentido de reafirmar constantemente a dignidade dos jovens e a certeza que o caminho passa por uma sociedade que permite aos jovens serem protagonistas da sua própria vida e da sua libertação. Neste sentido apresentamos algumas das nossas preocupações, que são também as preocupações dos jovens, representados na Equipa Nacional. No trabalho, muitos jovens vivem de forma crescente situações de precariedade e instabilidade. O desemprego, os contratos a prazo, as empresas de trabalho temporário, não garantem aos jovens estabilidade e são geradores de incerteza face ao futuro e de muita insegurança, o que os impede de fazer projectos de futuro, de conquistar a sua independência e de concretizar projectos de vida, como a constituição de família. As condições de instabilidade e precaridade no trabalho – baixos salários, horas extraordinárias não remuneradas, imposição das férias, ausência de aumentos, alargamento do horário de trabalho, falta de condições de higiene e segurança, entre outras – são aceites, há uma acomodação, porque os jovens estão alheados dos seus direitos, perderam a coragem reivindicar, por medo de perder o emprego e sujeitos à pressão psicológica de que muitos estão à porta, à espera de ocupar os poucos lugares disponíveis. As estruturas sindicais são cada vez menos procuradas, porque não há uma identificação entre os jovens trabalhadores e as propostas e soluções destas. Entre os jovens desempregados sente-se a ausência de respostas concretas por parte das entidades responsáveis, e a procura de trabalho é para muitos uma procura solitária, sem apoios, sem informação e sem esperança. A nova legislação laboral, expressa no Código Laboral, transmite a sensação de que às empresas tudo é permitido ou contornável e é de difícil acesso e interpretação para a maioria dos jovens trabalhadores, muitas vezes prestando-se a ambiguidades. As escolas são cada vez menos espaços de educação e formação pessoal e social. Na escola os jovens encontram professores desmotivados, que são sobretudo transmissores de informação teórica das suas áreas de conhecimento específicas, sem a preocupação de ensinar a pensar, a raciocinar, a descobrir e sem transmitir e aplicar a importância desses saberes específicos para o dia-a-dia dos jovens e para a sua vida futura. As promessas de uma escola para todos e de todos, que dê espaço ao desenvolvimento próprio de cada aluno enquanto indivíduo, continuam uma miragem. Os alunos continuam a estudar pelos mesmos manuais, os mesmos programas, os mesmos currículos, independentemente da realidade e do contexto familiar, social, cultural e económico em que vivem. Assim, os jovens que terminam a escolaridade obrigatória têm poucas soluções de inserção no mundo laboral, para além das propostas mais precárias, onde se procuram trabalhadores “bonecos de produção”, que sejam uma mão-de-obra barata e sem poder e capacidade reivindicativa. Muitos, prosseguem os seus estudos na expectativa de que uma formação académica superior, será garante de uma maior qualificação para o trabalho e de maior facilidade na inserção na vida activa. Contudo, os números do desemprego entre os jovens licenciados continuam a aumentar e muitos são confrontados com uma formação académica desadequada da realidade profissional e com um excesso de qualificações para o exercício das actividades onde conseguem encontrar hipóteses de trabalho. Nas empresas onde os conhecimentos técnicos e científicos e a capacidade de inovação dos jovens licenciados seriam uma mais-valia, as empresas não os aceitam porque olham apenas ao salário que será mais elevado. Assim, o lucro vira as costas à qualificação e inovação. Na realidade, o prosseguimento de estudos transforma-se numa forma de adiar um problema e de dificultar a independência dos jovens. A formação técnica e profissional apresenta-se igualmente desadaptada da realidade e não apresenta a solução de garantia de trabalho qualificado, tão apregoada pelas entidades competentes, salvadora do tecido produtivo nacional. A realidade são muitas empresas, de vários sectores, que continuam a ser encerradas! Na família os jovens têm cada vez mais dificuldade em conseguir a sua independência e contribuir economicamente para o bem-estar de todos. As famílias operárias sofrem com as dificuldades económicas do país, com o clima generalizado de instabilidade e insegurança face ao futuro. Para os pais é cada vez mais difícil assegurar aos jovens a educação e o apoio que desejam, pois se para os jovens trabalhadores a realidade é difícil, para os seus pais não o é menos. O cada vez maior endividamento das famílias é prova destas dificuldades. De acordo com os dados do INE, o endividamento das famílias em Portugal atinge os 118% (média nacional). Numa sociedade que incentiva o consumo e o primado do Ter sobre o Ser, muitas famílias vivem hoje “com a corda na garganta”, sem saber como saldar as dívidas e garantir que não perdem o pouco que têm. Face a esta realidade de endividamento, como é possível às famílias investir no desenvolvimento de outras dimensões de formação pessoal e social, para além da preocupação em diminuir o seu endividamento? Os jovens do meio operário estão a perder a capacidade de sonhar e de projectar o futuro, porque sentem que vivem num país envelhecido, que não se desenvolve, que não avança. O descrédito de muitos jovens no país e nas suas instituições revela-se por exemplo na indiferença de muitos face ao processo eleitoral em curso e que visa eleger o próximo Presidente da República. E quando surgem os jovens envolvidos nas campanhas dos mais diversos candidatos, são-nos apresentados como um número, como um sinal de força e de vitalidade. Contudo não são ouvidos, não são chamados a dar a sua opinião, não tomam lugar efectivo e participativo nas instâncias de decisão. Os jovens são manipulados para servir de bandeira da modernidade e da esperança; mas lamentavelmente para muitos jovens, os sinais de esperança são escassos ou inexistentes! A falta de confiança no futuro em Portugal manifesta-se por um número crescente de jovens, das mais variadas qualificações, que afirmam estar dispostos a emigrar, ou que já o fizeram, na esperança de encontrar um futuro mais risonho e menos incerto, em outro local. A Equipa Nacional da JOC considera que os espaços de liberdade, de opinião e de valores, como a escola, a Igreja, as instituições ou associações de cariz político, social e sindical, entre outros, deviam criar espaços onde os jovens pudessem pensar, tomar opções, desenvolver o seu espírito crítico, os valores humanistas e assumir responsabilidades; deviam ser espaços de partilha, de reflexão, de pensamento; espaços onde os jovens tivessem voz e lugar; onde os jovens fossem protagonistas da sua própria vida e libertação! A JOC acredita nos jovens e acredita que não existem jovens indisciplinados; eles são vítimas de uma sociedade, onde as estruturas existentes incentivam e apenas testemunham o Ter e o Poder, em detrimento do Ser, dos valores e da responsabilização individual pelo bem comum. A JOC repudia vivamente a realidade actual e continuará firme, na evangelização dos jovens, com o objectivo de remarem contra a corrente. A JOC continuará a desafiar os jovens para trabalhar com amor, dedicação e coragem na transformação da realidade e da sua vida! A JOC também afirma (como muitos) que os jovens são o futuro… mas acrescentamos (como poucos) que sem presente, não há futuro! Urge transformar o presente para conquistar o futuro! Equipa Nacional da JOC

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