João Paulo II e Maria

Homenagem dos Bispos do Brasil nos 25 anos de Pontificado Dia 17 de outubro de 1978, poucas horas depois de ter sido eleito Papa, João Paulo II dirigiu-se ao mundo, apresentando as grandes linhas de seu pontificado. Quando se referiu à Mãe de Jesus, comentou: “Nesta hora, marcada para nós pela surpresa e responsabilidade, não podemos deixar de voltar, com filial devoção, o nosso olhar para a Virgem Maria […], repetindo as palavras comovedoras totus tuus (todo teu), que há vinte anos gravamos em nosso coração e em nossas armas, no dia da ordenação episcopal”. Vinte e cinco anos depois, constatamos que Karol Wojtyla continua olhando para Maria e aproveitando momentos solenes ou encontros pessoais, visitas a santuários internacionais ou a pequenas grutas para renovar sua “consagração a Cristo pelas mãos de Maria” (RMa 48), como meio eficaz para viver fielmente seus compromissos. Se tivéssemos que destacar um pensamento que sintetize a mariologia do Papa, teríamos um imenso desafio pela frente pois, além de ele ter escrito a encíclica Redemptoris Mater e a carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, reservou a Nossa Senhora capítulos de alguns documentos (como não lembrar “Na Escola de Maria, Mulher ‘Eucarística’”, da Ecclesia de Eucharistia?), fez dezenas de alocuções às quartas-feiras, sobre o lugar da Bem-aventurada Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja, centenas de homilias marianas e lhe dedicou um número incalculável de orações e consagrações. Aceitando o possível desafio, escolhemos uma frase que não só resume sua visão mariana, como também sintetiza a razão de seu totus tuus: “Importa reconhecer que, antes do que quaisquer outros, o próprio Deus, o Pai eterno, confiou-se à Virgem de Nazaré, dando-lhe o próprio Filho no mistério da Encarnação” (RMa 39 – o itálico, também das frases que seguem, é do original). Na linha do Concílio Vaticano II, para João Paulo II é impensável uma mariologia desvinculada do Filho que ela acolheu na Anunciação: “Só no mistério de Cristo “se esclarece” plenamente o seu mistério… Maria está unida a Cristo de um modo absolutamente especial e excepcional… Maria recebe a vida daquele ao qual ela própria, na ordem da geração terrena, deu a vida como mãe” (RMa 4, 8 e 10). Não é de admirar que o Papa tenha desejado dedicar ao Rosário, sua “oração predileta” (RVM), o ano que antecederia a celebração de seus vinte e cinco anos à frente da Igreja. Quis, assim, incentivar “a contemplação do rosto de Cristo na companhia e na escola de sua Mãe Santíssima. Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo” (id. 3). Ele colocou como intenções do Ano do Rosário duas das maiores preocupações de seu pontificado: a paz e a família. A missão de nos ensinar a fixar os olhos no rosto de Cristo e de nos ajudar a “reconhecer seu mistério no caminho ordinário e doloroso de sua humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no Ressuscitado glorificado à direita do Pai” (RVM 9) parte de uma convicção de que “a contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável” pois “o rosto do Filho pertence-lhe sob um título especial” (id. 10). A mariologia do atual Papa nada tem de nova. Ele foi fortemente influenciado por S. Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716): “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria, entre todas as criaturas, a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que, de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo” (Tratado, 120 – citado na RVM 15). Alguém duvida de que João Paulo II continuará proclamando isso até o final de seu pontificado?… D. Murilo S.R. Krieger, scj Arcebispo de Florianópolis

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Agência ECCLESIA

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