João Paulo II e a Doutrina Social da Igreja

Homenagem dos Bispos do Brasil nos 25 anos de Pontificado João Paulo II iniciou o seu serviço apostólico, situando o seu projeto evangelizador na trilogia: ‘a verdade sobre Jesus Cristo, a Igreja e o homem’. No campo social, sua postura integra as dimensões da Evangelização com a promoção dos direitos humanos. Enaltece a formação da pessoa e da sociedade pela ética evangélica. Sublinha a dignidade da vida da pessoa cidadã construindo a sociedade. Ao longo dos seus 25 anos de pontificado, João Paulo II tem ilustrado o pensamento da Igreja sobre as questões sociais, enfrentando a complexidade do contexto onde estão inseridas, deparando-se com estratégias dos poderes políticos, vinculados a determinadas estruturas econômicas de cunho financista. João Paulo II identifica-se como pastor. Desmascara ideologias e estilos de governo que atentam contra o desenvolvimento integral das pessoas e dos povos. Seu posicionamento reflete as implicações éticas do Evangelho que constróem a concidadania. Entra no mérito das virtudes teologais da fé, esperança e caridade, bem como das virtudes cardeais da temperança, fortaleza, justiça e prudência. Seu ministério traz o mérito de incontáveis pronunciamentos, muitos dos quais realizados durante as viagens intercontinentais, oferecendo-nos um cabedal imenso de orientações doutrinais e pastorais, formando o patrimônio da Doutrina Social da Igreja. De modo especial, 3 Encíclicas marcam historicamente essa trajetória, com as Encíclicas ‘Laborens Exercens [LE] de 15.9.’81 sobre o trabalho humano, por ocasião da celebração dos 90 anos da ‘Rerum Novarum’ de autoria do Papa Leão XIII comentando a revolução industrial do final do século XIX e início do século XX; a ‘Sollicitudo Rei Socialis’ [SRS] de 30.1.’87 sobre as transformações econômico-político-sociais, por ocasião do 20º aniversário da ‘Populorum Progressio, do Papa Paulo VI; a Centesimus Annus [CA] de 1º..5.‘91 por ocasião dos 100 anos da Rerum Novarum. Documentos resultantes das Conferências Episcopais da América Latina e Caribe, celebradas em Medellin [Colômbia, 1968], Puebla [México, 1979] e Santo Domingo [República Dominicana, 1992] apresentam muitas realidades conflitantes da América Latina. Desde o início de seu pontificado, a partir da Conferência de Puebla, João Paulo II posicionou-se de maneira construtiva e comprometida, ‘devendo-se superar o abismo que separa ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres’. João Paulo II se engaja na busca de soluções que garantam os direitos humanos dos povos todos, tal que se encarnem efetivamente na vida dos povos empobrecidos e em vias de desenvolvimento. Enfrentou sempre os dramas da exclusão, tão desumanos quanto contraditórios. À luz dos valores éticos e morais do Evangelho, propõe sua incidência na formação das estruturas da sociedade. Mais importante que a denúncia é o anúncio que ressalta a bondade do ser humano, a confiança e a possibilidade de evitar os obstáculos contra a dignidade humana, para que se chegue a uma verdadeira libertação (Cf. SRS 47). Desmascara-se assim, as montagens de grupos de poder que geram estruturas perversas, sobretudo aquelas que excluem povos inteiros da participação do banquete da vida. Experimentamos as consequências dessas estruturas concentradoras de riquezas acumuladas nas mãos de poucos, jamais repartidas, perpetuando desigualdades, negando oportunidades para o desenvolvimento dos empobrecidos. Em seus pronunciamentos, João Paulo II é contundente ao apontar as causas da apartação e da exclusão social. Critica a absolutização tanto dos regimes totalitários, quanto dos monopólios capitalistas. Povos inteiros são subjugados ao arbítrio de grupos macro-financistas, detentores do monopólio da informação, do saber e do fazer com tecnologia científica avançada. São grupos que superam em muito a economia de vários países. Detentores do poder econômico, impõem ao mundo suas leis de mercado, vinculando-as ao desenvolvimento ‘globalizado’. João Paulo II propõe a globalização da solidariedade. Povos necessitados de crescimento solidário e subsidiário, devem saldar suas dívidas sociais através da inclusão social de sua população. Países em desenvolvimento emergente, como o Brasil, dependem da tecnologia, das leis de capital e mercado globalizado, impostas por esses grupos e governos dos países ricos. Dificilmente conseguem ‘concorrer’ nesse jogo de uma humilhante dependência e desumana subserviência. Nem sempre conseguem gerar ocupação e renda para ‘os filhos da casa’ que anualmente são lançados no mercado de trabalho, sem capacitação e quase sem oportunidades. ‘Onde o pecado perverte o clima social, é preciso apelar para a conversão dos corações e à graça de Deus. A caridade impele a justas reformas. Não existe solução da questão social fora do Evangelho’ (Cf. CA 3). No centro do coração de Deus está o homem, imagem de sua semelhança. O projeto salvífico do Pai refere-se ao homem e a todo o universo. Ele decidiu ordenar todas as coisas segundo a plenitude que habita em Cristo (Cf. Col 1,19; SRS 31). O autêntico desenvolvimento humano fundamenta-se em parâmetros nos quais o ser humano encontra-se com seus valores, no centro das atenções produtivas (Cf. SRS 27 a 34). Nunca no acúmulo de capital, excluindo o próprio homem da sua capacidade de ocupar-se e gerar condições para a subsistência digna, sua e de sua família. A participação do homem como sujeito e ator de seus destinos supera a acumulação de bens materiais. Pesa sobre todos os bens de produção e consumo, uma hipoteca social. Os bens da terra são para o homem, gerando solidariedade, sinônimo da caridade e da paz, com justiça social. A Igreja, orienta-nos o Santo Padre, não apresenta soluções técnicas para as graves e urgentes questões sociais. Nem a sua doutrina social apresenta-se como uma ‘terceira via’ entre o capitalismo liberal e o coletivismo marxista ( sobretudo após a queda dos muros). A Igreja mostra indubitavelmente a sua preferência solidária junto aos pobres, propondo incontinente, as reformas dos atuais sistemas financeiros e comerciais (Cf. SRS 42 a 45). D. Aldo di Cillo Pagotto, Presidente da Comissão Episcopal para o serviço da Caridade, Justiça e Paz / CNBB

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