A Guerra não é uma fatalidade João Paulo II ao Corpo Diplomático A Guerra não é uma fatalidade A audiência de João Paulo II ao Corpo Diplomático acreditado na Santa Sé, que decorreu hoje, 13 de Janeiro, fica marcada pela posição do Papa em não aceitar a guerra como “uma fatalidade”, mas como uma “derrota da humanidade”. Referindo-se às ameaças de guerra sobre a população do Iraque, João Paulo II defendeu que “ a guerra não pode jamais ser considerada como um meio entre outros, a ser utilizado para regular contenciosos entre as nações”. Já em relação à crise no Médio Oriente, o Papa acrescentou que “a solução não passa pelo recurso ao terrorismo ou a conflitos armados, confiando que as vitórias militares possam ser uma resposta definitiva”. Claro e explícito, o discurso de João Paulo II apresenta outro “não” rotundo, desta feita ao medo que nasce por entre a indefinição e insegurança da situação geopolítica: “estou impressionado com o sentimento de medo que reina no coração dos nossos contemporâneos, mas tudo pode mudar. Isso depende de cada um de nós”. Como tal, o Papa ditou alguns imperativos: “sim à vida, ao respeito pelo Direito, ao dever da solidariedade; não à morte, ao egoísmo e à guerra”. A clareza da posição do Papa evita que caia no pacifismo abstracto e unilateral, tendo em consideração os sinais de esperança: “é possível mudar o curso dos acontecimentos quando prevalece a boa vontade, a confiança o outro e a cooperação entre parceiros responsáveis”. Como exemplos dessa cooperação João Paulo II propõe a Europa e a África: a Europa porque soube “deitar abaixo os muros que a desfiguravam” e se empenhou na construção “de uma realidade capaz de conjugar unidade e diversidade”. Também de África chegam sinais de alegria: Angola, Burundi, República Democrática do Congo e Sudão parecem ter retomado os caminhos da paz. O discurso não perdeu a oportunidade de referir-se ao futuro Tratado Constitucional Europeu, tendo João Paulo II manifestado o desejo de ver incluídas referências a “três elementos complementares”: a liberdade religiosa, a oportunidade de um diálogo estruturado entre Governos e comunidades crentes, o respeito pelo estatuto jurídico de que gozam as Igrejas nos Estados Membros da União Europeia. Na audiência estiveram presentes os representantes dos 174 Estados que possuem relações diplomáticas com a Santa Sé, além dos representantes da UE, o Soberano Militar da Ordem de Malta e duas missões com um carácter especial: a missão da Federação Russa e o secretariado da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Estes casos mais delicados não ficaram esquecidos nas palavras do Papa: “o diálogo ecuménico entre os cristãos e os contactos respeitosos com as outras religiões, em particular com o Islão, constituem o melhor antídoto contra o fanatismo ou o terrorismo religioso”. João Paulo II citou “um caso que é motivo de grande sofrimento para mim, a sorte reservada às comunidades católicas na Federação Russa, privadas dos seus pastores desde há muitos meses, por razões administrativas”. Na parte final deste importante discurso, o Papa sublinhou que “hoje em dia só na interdependência de pode conceber a independência dos Estados”. Para evitar cair no caos João Paulo II coloca duas exigências: “reencontrar o valor primordial da lei natural e a acção perseverante de homens de Estado honestos e desinteressados”. Algo que só se afigura possível se “a indispensável competência profissional dos responsáveis políticos se encontrar legitimada pelo apego a fortes convicções éticas”, conclui.